Na guerra não há mocinhos e os vilões são todos conhecidos
Charge: Genin
Rafael Jasovich*
Quando acabou o Pacto de Vársovia, aliança militar formada em 14 de maio de 1955 pelos países socialistas do Leste Europeu e pela União Soviética, qual seria a necessidade de se manter a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), uma aliança formada após a 2ª Guerra por 30 países, liderados pelos Estados Unidos, Canadá Reino Unido, França? Qual seria a necessidade dessa aliança que não fosse manter o cerco à Rússia na disputa pelo controle da Europa?
A OTAN cresceu e incluiu entre seus membros países que cercavam a Rússia num claro avanço sobre as suas fronteiras. Veja no quadro abaixo o histórico das intervenções dos Estados Unidos no mundo.
Pois bem, para você que faz o paralelo de rede social entre o tsar, o Stalin e o Putin., boas vindas à russofobia e a eslavobobia. Claro, não foi você quem inventou essas fobias, foram os europeus ocidentais.
Mas você, lamento informar, não é europeu. Para o europeu, o russo é o bárbaro, mesmo loiro de olho azul. É asiático (em Stalin “ditador asiático”).
Todos estes termos e idéias foram cunhados/inventados em função de diminuir o outro para justificar o colonialismo.
Os negros não tinham alma, lembra-se? Os russos atacaram a França, foi? E depois a Alemanha. Só que não. Napoleão (França), Hitler (Alemanha) e a Otan atacaram/cercaram a Rússia.
Quem pretendia colonizar quem?
Mesmo sendo o Putin um direitista com tendências autocráticas, não podemos negar a ele a História.
E ela nos conta, por exemplo, que britânicos e japoneses tentaram colonizar a China, não ao contrário.
Nem o Brasil, nem a Rússia, nem a China tem 1.000 bases militares espalhadas pelo mundo. Quem tem? Fácil, né?
Inglaterra ocupa militarmente as Malvinas e o Atlântico sul, tem uma zona de exclusão em mar argentino na qual nenhum barco pode entrar a não se comprando a permissão de pesca deles.
Parece que os conflitos armados na América Latina não são realmente relevantes como para indignar.
As razões de um e outro são também econômicas.
A preocupação dos EEUU com Ucrânia é visível para quem não é cego.
A Ucrânia é:
1º na Europa em reservas comprovadas recuperáveis de minério de urânio;
2º lugar na Europa e 10º no mundo em reservas de minério de titânio;
2º lugar no mundo em reservas exploradas de minério de manganês (2,3 bilhões de toneladas, ou 12% das reservas mundiais);
2ª maior reserva de minério de ferro do mundo (30 bilhões de toneladas);
2º lugar na Europa em reservas de minério de mercúrio;
3º lugar na Europa (13º lugar no mundo) para reservas de gás de xisto (22 trilhões de metros cúbicos)
4º no mundo em valor total de recursos naturais;
7º lugar no mundo em reservas de carvão (33,9 bilhões de toneladas)
A Ucrânia é um país agrícola:
1º na Europa em terras aráveis;
1º lugar no mundo nas exportações de girassol e óleo de girassol;
2º lugar mundial em produção e 4º lugar em exportação de cevada;
3º produtor e 4º exportador de milho do mundo;
4º produtor mundial de batata;
5º produtor de centeio do mundo;
5º lugar no mundo em produção de mel de abelhas (75.000 toneladas);
8º lugar no mundo em exportações de trigo;
9º lugar no mundo na produção de ovos de galinha;
16º lugar no mundo em exportações de queijo.
A Ucrânia pode atender às necessidades alimentares de 600 milhões de pessoas.
A Ucrânia é um país industrializado:
1º na Europa na produção de amônia; 4º maior sistema de gasodutos da Europa no mundo (142,5 mil milhões de metros cúbicos de capacidade de escoamento de gás na UE);
3º na Europa e 8º no mundo em capacidade instalada de usinas nucleares;
3º lugar na Europa e 11º no mundo em extensão da rede ferroviária (21.700 km);
3º lugar no mundo (depois dos Estados Unidos e França) na produção de localizadores e equipamentos de localização;
3º exportador de ferro do mundo
4º exportador mundial de turbinas para usinas nucleares;
4º produtor mundial de lançadores de foguetes;
4º lugar no mundo em exportações de argila
4º lugar no mundo em exportações de titânio
8º lugar no mundo em exportações de minerais e concentrados;
9º lugar no mundo em exportações de produtos da indústria de defesa;
10º produtor de aço do mundo (32,4 milhões de toneladas).
Tire as suas conclusões.
*Rafael Jasovich é jornalista e advogado, ativista da Anistia Internacional.