A Cidadezinha e a guerra da Tríplice Aliança – Parte 2

Religioso brasileiro junto a civis paraguaios. Os homens em pé ao fundo são das forças aliadas. Foto datada entre 1869 e 1870.

ReproduçãoPesquisa: Cristina Silveira

Os Liberais de Itabira versus os Conservadores de Antônio Dias Abaixo

O medo da guerra se espalhou por entre os valentões do patriarcado brasileiro, o clima irritadiço não esqueceu das intrigas. Assim é que de Antônio Dias Abaixo chega a Itabira do Mato Dentro a notícia, falsa ou não, mas difamatória para um coronel da Guarda Nacional (1831-1922). Ao final de tudo, eles se entenderam e lutaram fora do teatro de guerra até o final da vitória massacrante do Brasil, um genocídio paraguaio.

Urra! Viva os valentes soldados russos! (Cristina Silveira, uma Z)

A honra do Manoel de Barros Araújo Oliveira

Em todo tempo, mormente na atualidade, que nossa pátria ofendida em seus brios de nação livre, e ultrajada, precisa de concurso de todos os brasileiros, sem distinção de cor política, para prontamente e severamente poder arrasar os selvagens agressores é de responsabilidade dos bravos homens desta terra que Deus conduziu Cabral.

Defender a pátria é defender a família e com ela todas as tradições da moralidade. O batalhão de honra se chama voluntários da pátria.

Estas reflexões nos sugeriu a leitura de uma correspondência inscrita no Minas Gerais n. 462, de 26 de fevereiro do corrente ano, sob a epigrafe – Itabira – e assinada – Um Voluntário da Pátria, que servindo-se de tão glorioso nome inconsideradamente caluniou ao nosso distinto amigo sr. coronel Manoel de Barros Araújo Oliveira, residente na freguesia de Antônio Dias Abaixo, deste município, atribuindo-lhe insólito e indigno procedimento, qual seja – o de afastar, arrefecendo lhes o santo entusiasmo, a cidadãos que pressurosos e voluntários se apressavam a acudir aos reclamos da nossa mais comum – a pátria.

Para o público de Itabira, e todas as pessoas que conhecem o ilustre coronel Barros, quer desta província, quer de outras, não nos daríamos ao trabalho de refutar as acusações atiradas ao patriotismo de tão conspícuo cidadão; mas para que o público em geral não formasse uma ideia desfavorável acerca de tão nobre cavalheiro, apenas chegou o correio conduzindo a correspondência de que acima tratamos, e foi lida, surpreendendo e causando a maior indignação as pessoas de ambas as parcialidades políticas, fomos os primeiros em tomar a defesa do nosso amigo, e pelo mesmo correio enviamos, para ser inserta no referido Minas Gerais, uma correspondência sob nossa responsabilidade, contendo cabal resposta, e pulverizando as irrefletidas censuras e acusações feitas ao sr. coronel, e mais tarde foram outras, sendo uma delas do próprio coronel Barros (cuja transcrição pedimos a Vms. Em seguida).

Mas a redação do Minas Gerais, ao passo que franqueava seus prelos para ser censurado nosso amigo, recusou a sua defesa, embora estivessem os nossos escritos no caso de serem aceitos, por estarem à altura de um jornal sisudo e livre; felizmente o Voluntário da Pátria, doendo-lhe a consciência, fez aparecer no Minas Gerais n. 469 de 23 de março próximo passado a mais solene retratação das injurias atiradas ao sr. coronel Barros, tributando-lhe a homenagem devida ao seu patriotismo e elevado caráter, cuja retratação pedimos também a Vms. inserir em seguida, e concluímos dizendo ao Voluntário da Pátria, que seja mais prudente quando houver de fazer censuras e acusações, pois do contrário nenhum conceito elas merecerão, e terá de passar por novos dissabores.

Os Amigos Indignados

Cidade da Itabira, 4 de abril de 1865.

Oficiais brasileiros, 1866. Foto de Ricardo Salles. Coleção BN-Rio.

Antônio Dias Abaixo, 12 de março de 1865. – Senhor redator do Minas Gerais. – Venho de ler no número 462 do seu conceituado jornal a correspondência do sr. Um Voluntário da Pátria, datada de Itabira em 19 do mês findo, em que procurou tornar-me odioso em relação à presente situação do nosso país.

Provoco solenemente a esse infame e vil caluniador a tirar a máscara a vermos se é verdadeiro o belo nome com que se adornou, e terá resposta condigna a cada uma de suas falsíssimas palavras. Felizmente sou muito conhecido, e louvo o Onipotente por tantas provas do favor público e do governo.

Vou mencionar alguns fatos.

O exmo. atual sr. presidente da província fez-me a honra de dirigir uma de suas circulares de 4 de janeiro a ilustre Câmara Municipal da cidade do Itabira, e o digno sr. coronel Jose Ignacio de Oliveira, comandante superior da Guarda Nacional, nomearam-me agente para o alistamento de voluntários da pátria nesta freguesia de Antônio Dias Abaixo, e eu, apesar de doente e em uso constante desde 14 de novembro do ano passado, aceitei tão honrosa tarefa, e já tive o prazer de ver partir daqui cinco cidadãos voluntários, três dos quais a instancias e esforços meus, aos quais prestei de meu bolso a pequena quantia precisa para as despesas de viagem, e foram-se apresentar ao sr. comandante superior, na forma das ordens, e dois filhos do digno subdelegado, o sr. Bhering, seguiram diretamente para Ouro Preto.

Ao Exmo. Sr. desembargador presidente da província respondi, parece-me que convenientemente, pondo à disposição de S. Ex. a quantia de 300$ como donativo-meu para as urgências do Estado.

Ora, tendo assim praticado julgo-me a coberto dos botes da calunia de quem quer que seja.

Talvez o meu crime seja o ser conservador, e se assim é já deve estar prescrito, porque o sou há vinte e tantos anos, e sempre presente neste lugar de meu nascimento e residência.

Antes, porém de ter opinião política sou brasileiro, sei prezar este nome, e sentir dentro d’alma os sofrimentos de minha pátria.

Nada mais respondo ao sr. Um Voluntário da Pátria, se é que o é, porque talvez assine-se de cruz, fiando-se demasiadamente no seu mentor.

Pela pronta publicação desta, muito obrigará o sr. redator ao seu atencioso criado.

Manoel de Barros Araújo Oliveira

Batalha Naval do Riachuelo, por Vitor Meireles. Coleção, Museu Histórico Nacional.

Itabira, 14 de março de 1865

Sou da escola daqueles que dão a Deus o que é de Deus, e a César o que é de César.

Em comunicado de 19 do mês antecedente censurei o procedimento do sr. coronel Manoel de Barros Araújo Silveira, por me constar que S.S., em vez de ajudar o governo na árdua, mas honrosa tarefa de desafrontar o brio nacional tão atrozmente ofendido por nossos vizinhos, desanimava os guardas para não acudirem ao reclamo da pátria aflita, e dizia aos que se queriam oferecer voluntários, que não fossem tolos, etc.

Isto que afirmei, eu ouvi a dois meus colegas vindos de Antônio Dias, e diziam ter ouvido ao sr. coronel estas expressões, mais informado como estou hoje, de que o sr. coronel tem tido um procedimento bem diferente, tanto assim que partiram hoje desta cidade três voluntários, enviados por S.S., apresso-me a informar o público, que fui enganado e retiro a minha censura.

Faço isto unicamente por amor da verdade, e para não sentir a exprobrações interiores.

Um Voluntário da Pátria.

[Jornal do Comércio (RJ), 2/5/1865. BN-Rio]

 

 

 

 

 

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2 Comentários

  1. Foi mesmo uma locura colonial. Mas agora o Brasil vai enfrentar a cobrança pelos crimes de guerra. E ainda tem gente que acredita que brasileiro é bonzinho, não não é bonzinho, é sim cruel e profundamente ignorante. E o pior esta por vir, os eua virão fazer arruaça pra desestabilizar a pissivel vitoria do PT nas eleições de outubro.

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