Reacionários de Itabira destilam preconceitos e ódio em vídeo homofóbico atacando escolhas políticas do prefeito Marco Antônio Lage

Imagem: Reprodução

Carlos Cruz

Um vídeo de baixíssimo nível, carregado de preconceitos homofóbicos de quem vive no século 15, ainda na Idade Média, circula na rede social com críticas fundamentalistas às decisões políticas do prefeito Marco Antônio Lage para a área educacional, principalmente.

A crítica é apócrifa como é costume de quem vive na Idade das Trevas. E começou a circular após a nomeação da nova secretária de Educação, a professora de carreira da Prefeitura, Laura Souza.

Acusam o prefeito e a sua nova secretária de pretenderem implantar nas escolas municipais de Itabira “uma visão não binária, de criança sem sexo não definido.”

Repetem o mesmo discurso nacional retrógrado e reacionário dos bolsonaristas. Não reconhecem os direitos de últimas gerações duramente conquistados no país pelos movimentos sociais – e que são reconhecidos na maior parte do mundo não fundamentalista como sendo essenciais aos direitos humanos.

O mundo não é maniqueísta como gostariam que fosse os fundamentalistas que defendem a exclusividade da visão binária, a exemplo da ministra Damares Alves, para quem “menina é menina e menino é menino”.

Esse dualismo religioso, retrógrado pela sua própria origem, ainda vigente em setores religiosos, principalmente entre os neopentecostais, reflete um Brasil atrasado, e comporta uma doutrina muito perigosa e violenta que remonta à Idade das Trevas.

Esse pensamento binário é uma construção social que precisa ser amplamente questionado. Isso por ser discriminatório pela sua própria natureza ao não reconhecer outras identidades fora do binário. E por ver todo comportamento que foge desse conceito como sendo problemático, socialmente desviante, fora da “normalidade”.

As consequências práticas dessa visão é a violência social e sexual contra quem não se enquadra nesse conceito. A repressão que promove é agravada ainda mais quando ocorre nas escolas, com a criança em formação sofrendo desde cedo com o preconceito sexual/religioso, quando o seu comportamento já não se enquadra nesse dualismo.

Essa “teoria” preconceituosa leva, não raro, ao assassinato daqueles que por essa visão medieval “tem um comportamento sexual desviante”.

É também causa, muitas vezes, da própria violência familiar, com pais que não compreendem que o ser humano não é binário e comporta naturalmente outras condutas que nada têm de desviantes.

Insistir que feminilidades somente podem ser aplicadas às mulheres e masculinidade somente aos homens é faccioso e autoritário. Não comporta a variedade de identidades do ser humano – e sobre isso o Estado do Bem-Estar Social (ainda em construção no Brasil), democrático e que respeita os direitos humanos, não deve se intrometer.

Inquérito e repúdio

Esse discurso de ódio contra os que pensam e agem diferente desse “senso comum” religioso e retrógrado deve ser duramente combatido por todos os meios legais.

Procurado pela reportagem para saber se a Polícia Civil já abriu inquérito para apurar quem são os responsáveis por essas postagens criminosas em Itabira, o delegado Helton Cota respondeu que ainda não foi acionado para tomar as providências cabíveis. “Aguardamos as manifestações oficiais por parte das possíveis vítimas.”

Já o prefeito Marco Antônio Lage (PSB) foi enfático quando perguntado se iria solicitar a abertura de inquérito policial para apurar quem são os responsáveis pelos vários crimes cometidos por meio dessas postagens apócrifas, o que deve incluir quem anda reproduzindo esses delitos pela rede social.

“Estamos preparando os documentos. Temos que combater também esse tipo de crime, (cometido) sempre pela mesma gente”, disse o chefe-executivo municipal, que vai pedir a abertura de inquérito policial.

Segundo o prefeito, além da denúncia criminal, outras manifestações serão feitas, inclusive fora do município. “Precisamos mostrar ainda que Itabira não é só essa gente. Somos uma cidade progressista, literária (havemos de ser), que pode se sustentar moderna, que tem gente humanista e íntegra. Não podemos aceitar crimes contra a cidadania.”

A reação fora de Itabira também promete ser contundente: “Indignado com a baixaria promovida contra o meu amigo prefeito de Itabira. Olha o nível dos tais ‘adversários do prefeito’ na cidade”, postou na rede social o idealizador e promotor do Festival Internacional Literário de Itabira (Flitabira), o jornalista Afonso Borges, que acrescentou:

“Sim, homossexuais compõem a sua equipe de trabalho! E o que tem de estranho nisso? Pior mesmo é que esse vídeo agride não só o Marco Antônio. Agride a população de Itabira! Gente moderna, cosmopolita, inteligente e culta! Pessoas que elegeram Marco Antônio exatamente para expulsar (da política da cidade) os homofóbicos, os ignorantes, os violentos e os agressivos. Estou revoltado. Não vou postar o vídeo, é uma vergonha!”, indignou-se o promotor cultural com tamanha baixaria em curso na terra natal de Carlos Drummond de Andrade.

Espera-se que a Câmara Municipal de Itabira, por seus vereadores, também se manifeste, assim como as demais organizações sociais do município. Esse triste episódio pode-se transformar em um divisor na cidade, para se saber quem quer avançar com políticas públicas que respeitam os direitos humanos, separando-os daqueles que querem o retrocesso à Idade das Trevas.