Judeus e cristãos-novos na criação e colonização do Sul do Brasil

Primeira parte

Por Mauro Andrade Moura

“Da noite dos tempos, o episódio dos cristãos-novos

continua a provocar ressonâncias, reverberações.

Nenhum povo passa impunemente por um episódio tão doloroso.

Se existe algo que possa ser chamado de

caráter brasileiro, então podemos estar seguros de que

tal episódio, nele deixou suas marcas”.

trecho de A Condição Judaica

Moacyr Scliar 

1532, o princípio da colonização do Sul do Brasil

Após as dificuldades apresentadas para a colonização do Nordeste e Norte do Brasil, devido à vastidão da costa e aos ataques continuados dos franceses, em 1532 a Coroa Portuguesa, sob as ordens de João III, determina a Martim Afonso de Sousa que promovesse a instalação de uma colônia no Sul do Brasil.

Na esquadra de Martim Afonso de Sousa, foi registrado nomes interessantes e que influenciaram sobremaneira a história da criação do Brasil, gerando inclusivamente grande descendência, são eles:

Garcia Roiz/Rodrigues e sua mulher Isabel Velho;

João Pires e seu filho Salvador Pires com sua mulher Maria Rodrigues, a qual era filha da Garcia Roiz e Isabel Velho; e

João do Prado;

Todos de ascendência sefaradita.

Mestre João Sacerdote

de Barcelos natural

houve de uma Moura tal

um filho de boa sorte

Pedro Esteves se chamou

honradamente vivia

por amores se casou

com uma famosa Judia

deste pois nada se esconde

nasceu Maria Pinheiro

mãe da mãe de um que é Conde

e sua avó verdadeira

(Poema dedicado à avó de Martim Afonso de Sousa)

Adamastor, escultura de Júlio Vaz Júnior no miradouro de Santa Catarina, Lisboa, Portugal. Adamastor. No Canto V da epopeia portuguesa Os Lusíadas, como o gigante do Cabo das Tormentas, que afundava as naus, e cuja figura se desfazia em lágrimas, que eram as águas salgadas que banhavam a confluência dos oceanos Atlântico e Índico. O episódio do Adamastor representa, assim, em figuração grandiosa e comovida, a sua oposição à audácia dos navegadores portugueses e a predição da história trágico-marítima que se lhe seguiria. Adamastor no Canto V da epopeia portuguesa Os Lusíadas, como o gigante do Cabo das Tormentas, que afundava as naus, e cuja figura se desfazia em lágrimas, que eram as águas salgadas que banhavam a confluência dos oceanos Atlântico e Índico. O episódio do Adamastor representa, assim, em figuração grandiosa e comovida, a sua oposição à audácia dos navegadores portugueses e a predição da história trágico-marítima que se lhe seguiria. No destaque Padrão dos Descobrimentos em Lisboa
exatamente do lado da fileira em que esta’ o Martinho A Sousa.(Fotos: Mauro Moura e acervo)

No percurso de Portugal ao Brasil, a esquadra de Martim Afonso passou pelas Canárias e Cabo Verde com o fim de recolher maiores recursos, além do descanso natural.

Passaram por Salvador – Bahia e o destino certo era na enseada da Ilha Bela e fundearam onde hoje conhecemos como a primeira cidade do Brasil, a cidade de São Vicente.

Chegando lá, tiveram a grata surpresa de encontrar com João Ramos e Antônio Rodrigues, já totalmente adaptados e inseridos nas tribos dos silvícolas, tendo como principais os caciques Piqueroby, cacique dos Hururay, e Tibiriçá, cacique dos Goianá.

Este encontro foi estratégico e Martim Afonso entendeu bem isto e se manteve em São Vicente para promover a missão da criação de uma colônia no Sul do Brasil, originando, primeiramente, o Sudeste, inclusivamente solicitando ao rei João III para que fosse ali sua capitania hereditária e o irmão, Pero Lopo de Sousa, solicitou outra lindeira.

 

 

«Este será Martinho, que de Marte
o nome tem co as obras derivado;

tanto em armas ilustre em toda parte,Quanto, em conselho, sábio e bem cuidado.
Suceder-lhe-á ali Castro, que o estandarte
português terá sempre levantado,
conforme sucessor ao sucedido,
que um ergue Dio, outro o defende erguido.«

Cântico X dos Lusíadas, Camões, estrofe 67, com alusão a Martim Afonso de Sousa

Nesta esquadra, dos muitos que vieram, boa parte deles eram cristãos-novos ou descendente, nomeadamente os citados acima vinham com essa condição além de outros tantos tripulantes.

São Vicente servia de porto de passagem e, após, São Paulo surgiu como ponto de entreposto e ligação à fronteira sul do Brasil, pois esses primeiros colonizadores e seus descendentes foram procurando meios de vida no interior da nova colônia e estabeleceram a ligação comercial com as colônias espanholas, principalmente a partir da junção dos dois reinos no período Filipino.

Buenos Aires tinha uma grande colônia de portugueses, eram comerciantes natos e a prata era necessária na fundição do ouro, bem como o couro dos animais criados naquela região e a rota marítima comercial eram dos lusos.

Ficando a estada instável em Buenos Aires, os mesmos trasladaram-se para o outro lado da bacia do Prata e fundaram a cidade de Colônia do Sacramento. Dali continuaram o escambo comercial.

Referências:

-Nobiliarquia Paulistana, autor Pedro Taques de Almeida;

-Genealogia Paulista, autor Silva Leme;

-A Colonização do Brasil, autor Dr. Jayme Cortesão;

-Cristãos-novos, Jesuítas e Inquisição, Prof. José Gonçalves Salvador;

-Os Cristãos-novos e o Comércio no Atlântico Meridional, Prof. José Gonçalves Salvador; e

-Cristãos-novos em São Paulo (séculos XVI-XIX) assimilação e nobilitação, autor Marcelo Meira Amaral Bogaciovas.

 

Continua na próxima semana.

 

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3 Comentários

  1. Gostaria de saber de onde foi retirada a informação de que João do Prado era descendente de sedaraditas, por favor. Estou buscando minha genealogia. Agradeceria essa informação.

  2. Olá Mauro,
    Muito bacana toda essa história.
    Estou fazendo a minha árvore e sou descendente de Vicente Romeiro Velho e Ana Velho, prima em terceiro grau da Isabel Velho.
    Gostaria de saber como você conseguiu a documentação se direto em Açores ou via genealogista, family tree, my heritage? Qualquer dica será bem-vinda. Meu facebook é tyrperet e meu e-mail tyrperet@gmail.com. Grata.

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