Outubro Itabirano. Crônicas da Itabira do Matto-dentro Imperial – 1866 – O Rio que era Doce

Montagem/Lucas Bonini/
Sítio Século Diário
Pesquisa: Cristina Silveira

1835 Navegação no Rio Doce

Expediente – O sr. secretario passa a dar conta do expediente, lendo o seguinte ofício:

Dá conta de uma representação da Câmara Municipal de Itabira na Província de Minas Gerais, pedindo que se dê andamento ao negócio da navegação do Rio Doce, e é remetida à secretaria par se unir a outras idênticas, visto haver já um parecer sobre o objeto. [Anais do Parlamento Brasileiro (RJ), 4/8/1835. BN-Rio]

Seres Rios Festival Online. Foto Edgar Kanaiko Xakriaba/Divulgação.

1866 – O alerta para o crime sem fim

Itabira, 5 de novembro de 1866. É bem certo o ditado: perde o mérito aquilo sobre que muito se escreveu e que já está impresso na inteligência do povo, se for a repeti-lo, pelo que, quem quiser ser agradável, deve ter por norte algumas vezes a variedade.

Certos disto por meio desta publicamos:

Que estamos cansados de artigos sobre política, que nos hão prejudicado muito; porque, (sem que, nosso intento seja molestar) nossos pensamentos e atos tem sido envenenado a ponto de se nos afigurar a possibilidade de uma coça de mestre, se não arrepiamos carreira.

Como não timbramos de valentes, nada nos é mais fácil do que acedermos ao empenho que se manifesta; até porque de antemão já sentimos a pulga em luta com nossas orelhas,

É, pois, isto motivo de forçosamente abraçarmos a variedade, para que, em quanto os pães vão e vem, ponhamos nossas costas ao fresco.

Já divisamos nesta cidade muitas caras enrugadas, focinhos revirados, sobrolhos carregados etc.

É conselho dos anos: evitar-se os perigos eminentes quando se os conhece e recolher-se aos bastidores, quando a continuação do espetáculo pode ser origem de inconveniências.

O que lucramos nós, roceiros na extensão da palavra incultos, em jogar-nos a esgrima com os homens de unhas cortadas, com os que calçam o alto coturno?

Nada.

O Rio Doce cinco anos depois. Conexão Planeta – por Ana Ionova

A consequência aí está: a metralha será tão viva que nossos corpos se reduzirão a tal estado de ruinas, que, ainda mesmo os nossos mais íntimos não poderão dizer: os restos, que vemos, atestam a identidade de….

Como nos sentimos exaustos de forças, incapazes de lutar com gigantes (os respeitamos) vamos conformar o estomago com geleias, caldos etc.; se isto não for de proveito, cientes mesmo da derrota, morreremos como os espartanos, nossos vindouros digam: aqui para todo sempre eclipsou-se a dignidade de…

Depois de tão solene cavaco, nosso fito era expor com a pequenez de nossas ideias o muito admirável, que encerra tudo quanto se chama – RIO DOCE.

Para o fazer temos documentos muito importantes dados infalíveis ministrados pelo distinto capitão Luís Augusto de Figueiredo Souza, que dali a pouco chegou.

Parece-nos, pelo que coligimos, que o RIO DOCE encerra em si riquezas assombrosas sob qualquer face que se o encare.

No reino vegetal seus produtos são vantajosos. Relatá-los, como as ricas preciosidades que encerra seu leito, v.g., safiras, crisólitos, etc. seria trabalho humanamente impossível, e que demandaria muito tempo.

Em suas escuras e cerradas matas, ornadas de troncudos jequitibás, ibirapitangas, vinháticos, sucupiras, mirindibas, canela almacega, etc., se encontram a cada passo, ou antes sem maior trabalho ricas onças, enormes antas de diversas espécies etc.

Dos viventes aquáticos o número é extraordinário. Este rio em suas majestosas águas encerra tantas riquezas, que a inteligência humana se alquebrada para relatá-las.

Do mesmo senhor capitão bebemos conhecimentos muito apreciáveis sobre algumas particularidades desse lugar.

Por uma exposição, que nos fez, podemos assegurar que é lastimável e digno de severa censura o modo, pelo qual se tem deixado ao desprezo um torrão tão abençoado, merecedor de cuidados incessantes daqueles que de coração desejam o progresso material da nossa província.

Torno a repetir: o terreno é ubérrimo, povoado das mais ricas madeiras, elemento que se reputa um poderoso auxiliar para o engrandecimento do país.

A cultura do algodão ali é espantosa, tanto que parece coisa admirável essa produção tão grande, que para alguns será até motivo de pouco crédito.

Dizem-nos que, melhorado e aberto o pouco da estrada que há a fazer-se desde o pontal de S. Carlos até a barra do Caeté, muito prosperaria aquele lugar porque o comércio desta cidade e localidades circunvizinhas seria feito em larga escala por essa estrada, sendo a viagem para diversos pontos como para a corte com diminuição de despesas e de distâncias.

Esta estrada enlaça-se com a que temos do Porto de Sousa, que já é transitável até a barra do Caeté. A margem desta estrada está colocada uma colônia na barra do Guandu, tendo já para ali passado sua residência o vigário de Caeté, sinal mui pronunciado de sua importância.

Corre como certo ser lastimável o estado em que vivem os indígenas do lugar pelo pouco ou nenhum cuidado que aos mesmos se dispensa.

Entretanto com patente de tenente coronel foram nomeados alguns para aquele fim, que me parecem nem sabe o que é o RIO DOCE!!!

São protetores, e não lhes mandam e nem fornecem roupas e ferramentas!!! E aplausos a esses condecorados bonitos pelas teteias!!! Assim tratam a esses infelizes, tão dóceis para se educa-los!!! Que catequizadores os que nem conhecem qual a paragem, em que moram essas tribos selvagem?

O seu número não é tão pequeno: isto atestam as quatro aldeias sitas desde o norte do Porto da Figueira até a barra do Suasuhy grande, computadas pelo mesmo sr. em número de 160 habitantes, do sexo masculino, exceção feita das crianças.

Devem ser aceitas com especial agrado estas notícias, quem as dá é um cavalheiro de sobejo conhecido, dotado de uma perspicácia invejável, grande o mais eloquente de seus dados.

Mariana 2 anos após rompimento da barragem do Fundão. Foto: José Cruz, Agência Brasil

Em nome, pois de todos os que desejam o rápido progresso de nosso país saudamos aquele que tanto coopera para se quebrar essa vara mágica, que tão fatalmente tem sido causa do desleixo com que se tem olhado para objeto tão alto.

Agora duas palavras sobre a ponte de Ferros.

Neste município há (estamos autorizados para dizer) pessoas devidamente abonadas, que prestam a fatura da ponte mediante o orçamento – de 24:000$ mas isto se se resolverem a fazê-la com materiais fortes, capazes de resistirem ao furor das águas, e não pela soberba e majestosa planta que se levantou para esse fim. Parece-nos que pelo esboço que vimos, muito custoso seria o seu preço em atenção a essas bonitezas, que não justificam nossas circunstâncias.

É o que basta. Temos em mão algum serviço já pronto sobre a instrução pública. Será objeto de nossas reflexões para as seguintes missivas. [Constitucional (MG), 5/11/1866. BN-Rio]

 

 

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2 Comentários

  1. Mosquitos tinha de sobra, maleita e febre amarela a sossobrar, um calor molhado ao extremo para quem não estava acostumado à grande umidade, além das cobras e jacarés e lagartos a se tentar sobreviver nessas matas.

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