Vale investiga extensão da vida útil das minas de Itabira com sobrevoos e sondagens geológicas

Helicóptero equipado com sensores eletromagnéticos faz levantamento geológico nas minas, barragens e na cidade

Foto: Reprodução/
Rede Social

Diretor da Vale confirma que a empresa realiza novas pesquisas geológicas com helicópteros na região das minas de Itabira; ex-presidente da Vale e ex-diretor já indicaram potencial de lavra até 2060, mas dados ainda não foram disponibilizados à sociedade itabirana

Carlos Cruz

Na coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira (25), durante o evento de assinatura do termo de repactuação entre Prefeitura, Unifei e Vale, no distrito industrial Maria Casemira Andrade Lage, o diretor de Relações Institucionais da mineradora, Marcelo Klein, foi questionado sobre o horizonte de exaustão das minas de Itabira.

O diretor de Relações Institucionais da Vale, Marcelo Klein vê horizonte temporal mais elástico para as minas de Itabira

Segundo ele, o plano de lavra atual prevê exploração até 2041, conforme declarado pela empresa no relatório Form-20 à Bolsa de Nova Iorque. No entanto, Klein confirmou que esse prazo está sendo revisado com base em novas sondagens geológicas.

“Há perspectiva de extensão desse prazo, mas depende da confirmação técnica”, afirmou o diretor, citando declaração recente do presidente da Vale, Gustavo Pimenta, durante a reinauguração da mina Capanema, em Ouro Preto, no dia 4 de setembro. Na ocasião, Pimenta também afirmou que Itabira ainda possui minério lavrável para além do prazo oficial de 2041.

Pesquisas geológicas com helicópteros em Itabira

Desde o dia 18 de setembro, a Vale realiza um novo levantamento geológico na região das minas de Itabira, utilizando helicópteros equipados com sensores eletromagnéticos. Segundo comunicado da empresa, os voos ocorrem diariamente, das 7h30 às 17h, e devem se estender até 3 de outubro. O objetivo declarado é estudar o subsolo da cidade em busca de novas reservas minerais.

Os voos já foram vistos e registrados por populares em Itabira, assim como ouvidos pelos moradores, chamando atenção e despertando curiosidade, já que a empresa pouco informou sobre a operação, com divulgação limitada. Que rede é essa pendurada no helicóptero?”, questionou uma moradora, intrigada com o equipamento visível durante os voos sobre a cidade.

A Vale, no entanto, assegura que a atividade foi autorizada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e pelo Ministério da Defesa.

Essa não é a primeira vez que a Vale utiliza helicópteros para monitoramento em Itabira. Em 2020, conforme registrado por este site Vila de Utopia, a empresa realizou sobrevoos com equipamentos que pareciam misséis para avaliar as condições de segurança do subsolo das barragens, diques e pilhas da cidade. Na época, o objetivo declarado era garantir a estabilidade das estruturas.

Sensores eletromagnéticos, operados por helicóptero, voltam a fazer levantamento das estruturas das barragens no período de aproximadamente 15 dias, no horário de 7h às 17h (Foto: Reprodução/GDM)
Falta de transparência e impacto no planejamento municipal

É urgente e necessário que a Vale divulgue em Itabira os resultados das pesquisas geológicas que vem realizando na região, especialmente aquelas que podem indicar a extensão da vida útil das minas para além do prazo oficial de 2041. A sociedade itabirana tem o direito de conhecer os dados que impactam diretamente seu futuro econômico e social.

Esse tipo de divulgação já ocorreu em julho de 2003, quando o então presidente da Vale, Roger Agnelli, e o ex-diretor de Ferrosos, José Francisco Martins Viveiros, estiveram em Itabira para apresentar os resultados da mais completa sondagem geológica já realizada no distrito ferrífero da cidade. Pela manhã, entregaram o relatório circunstanciado, com todos os dados referentes às reservas e recursos, ao então prefeito Ronaldo Magalhães. E, à noite, em evento na Acita, Viveiros anunciou que Itabira teria minério para mais de 60 anos, com horizonte de lavra estendido até 2063.

Na ocasião, foi revelado que as reservas conhecidas saltaram de 677 milhões para 1,135 bilhão de toneladas, enquanto os recursos inferidos passaram de 2,8 bilhões para 3,9 bilhões de toneladas. “São as nossas reservas futuras”, celebrou Viveiros. A informação foi confirmada por auditoria independente e divulgada no jornal Vale Notícias, da mineradora, com promessa de envio ao relatório Form-20 da Securities and Exchange Commission (SEC), nos Estados Unidos.

Apesar desse histórico de transparência, atualmente a empresa tem sido criticada por não divulgar os dados das campanhas geofísicas mais recentes, como a que está em curso, com helicópteros equipados com sensores eletromagnéticos sobrevoando as minas de Itabira.

Aqui mesmo na Vila de Utopia temos cobrado recorrentemente mais transparência e clareza sobre os objetivos e resultados dessas sondagens, que dizem respeito diretamente à vida útil das minas e ao planejamento da cidade.

Essas informações são estratégicas para a administração municipal e para a atração de novos investimentos voltados à urgente diversificação econômica.

O relatório Form-20, enviado anualmente pela Vale à Bolsa de Nova Iorque, informa apenas as reservas já sabidas e declaradas, com base no plano de lavra vigente. Os recursos inferidos, que ainda não contam com estudos de viabilidade, não são incluídos nesse documento, o que limita a visão pública sobre o real potencial mineral da região.

Minério para além de 2060?
Comunicado da Vale teve divulgação limitada, e os sobrevoos causam surpresa, curiosidade e até espanto entre os moradores

A recente declaração do presidente Pimenta, repetida agora em Itabira pelo diretor Klein, reforça a previsão já apresentada no passado por executivos da mineradora. Na ocasião, a expectativa de que a cidade ainda teria papel relevante na produção de minério de ferro por um longo período motivou inúmeros investimentos, infelizmente, concentrados no setor imobiliário.

Espera-se que, com transparência e ampla divulgação dos dados das últimas pesquisas, esse novo cenário possa servir como estímulo à atração de investimentos produtivos, inclusive para ocupação do futuro distrito industrial na Fazenda Palestina.

Essas declarações atuais, somadas às pesquisas em curso, reacendem o debate sobre o futuro da mineração em Itabira.

E reforçam a necessidade de a sociedade ter acesso aos dados que impactam diretamente seu desenvolvimento, sua sustentabilidade e sua capacidade de planejar o pós-mineração.

Afinal, se a mineração não é sustentável por não assegurar os mesmos recursos às gerações futuras, os resultados que ela pode gerar, quando bem aplicados, certamente podem ser.

A conferir nos próximos anos, para saber se Itabira se tornará um caso exemplar de sucesso ou um alerta de insucesso para os territórios que ainda virão a ser minerados pela Vale S.A.

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