Simulados e participação em Itabira: uma leitura ao texto de Ana Gabriela Chaves Ferreira
Foto: Acervo Vila de Utopia
Denes Martins da Costa Lott*
Li com atenção e respeito o artigo da professora Ana Gabriela Chaves Ferreira, intitulado Resistir em silêncio, insistir na memória, publicado em 28 de abril neste portal Vila de Utopia. Sua reflexão sobre os simulados de emergência realizados em Itabira enriquece o debate ao trazer uma interpretação sociológica mais ampla dos comportamentos observados.
A hipótese apresentada — de que a baixa participação nos simulados possa ser entendida como uma forma simbólica de resistência cotidiana à dominação minerária — é instigante e merece consideração.
É fato que a relação histórica entre mineração e sociedade em Itabira é complexa, atravessada por sentimentos ambíguos de dependência, orgulho, crítica e, por vezes, ressentimento. É neste contexto que ouso apresentar um contraponto: creio que, no estágio atual da consciência coletiva itabirana, ainda predomina muito mais a evasão emocional e o desinteresse prático, uma grande omissão coletiva, do que uma resistência consciente e organizada.
Não me parece que a maior parte da população, ao se ausentar dos simulados, esteja deliberadamente resistindo à mineração ou questionando os exercícios como instrumentos de poder. O que vejo, com base na observação concreta da realidade local, é um padrão de comportamento típico de sociedades que ainda não internalizaram a cultura de prevenção: minimização do risco, descrença nas instituições e evitação do desconforto que a ideia de desastre provoca.
A resistência simbólica a que alude a professora, embora compreensível e legítima como expressão política, pode também se tornar perigosa para os próprios resistentes. Recusar-se a participar de simulados de emergência como forma de protesto é um gesto que, em última instância, compromete a segurança individual e coletiva da comunidade que deseja resistir — e, mais do que isso, que precisa resistir.
Há outras formas possíveis de resistência. Uma delas seria conhecer e dominar os protocolos e procedimentos de segurança, apropriando-se deles de forma crítica, mas não passiva. Resistir, nesse caso, pode ser se preparar melhor do que o esperado — e cobrar das instituições uma resposta à altura.
Agradeço à professora Ana Gabriela pela oportunidade do diálogo. A pluralidade de olhares é essencial para amadurecermos o debate público sobre segurança, cidadania e desenvolvimento sustentável em nossa cidade.
Que possamos seguir dialogando — sem silêncios, sem evasivas, mas também sem ilusões — sobre os desafios que Itabira precisa enfrentar com coragem e lucidez.
*Denes Martins da Costa Lott, advogado especialista em Direito Ambiental e Meio Ambiente.
A Vila de Utopia está aberta para o debate sobre os assuntos pertinentes a vida boa em Itabira. Entretanto , Ana Gabriela, Denes Lott e Carlos Cruz devem saber, que diante do dono poder (a Prefeitura de fato) perdemos todos. Porém não devemos nos calar diante as atrocidades que a mineradora promove a cidade.
Ao ler as duas abordagens fiquei pensando em qual dos 02(dois) textos caberia
relacionar a atitude daquelas pessoas que observamos habitar, ainda que seja temporiamente, em parte do terreno imediatamente posterior a barragem do
Itabiruçu! Seria resistência, insistência,
coragem pessoal , ingenuidade ou total irresponsabilidade geral!?