Leopoldina, as novas terras para o café
Fotos: Mauro Moura/ Reprodução/Internet
Mauro Andrade Moura
Exaurindo as lavras de ouro de aluvião ou as mesmas tornando-se deficitárias ou improdutivas, ocorreram migrações dentro do território da então província de Minas Gerais com aberturas de novas sesmarias para a colonização do território.
Uma destas regiões foi a da Zona da Mata, sendo a base a cidade de Leopoldina, no início do século XIX.
A cultura do café já estava em franco desenvolvimento na província do Rio de Janeiro, mais propriamente no município de Vassouras e região. De lá subiram com as mudas para a Zona da Mata.
Houve uma franca expansão, o “ouro negro” mostrava sua força financeira e não faltou disposição para o plantio naquela região.
A exemplo, temos Joaquim José Martins da Costa Cruz que vivia com a família em sua sesmaria em Itabira. Por volta de 1850, trasladou-se para Leopoldina e por lá ficou em sua nova sesmaria a produzir o precioso café a ser exportado.
Já em 1870 foi criada a Estrada de Ferro Leopoldina, com quotas de capitais dos produtores de café para poderem levar suas produções ao cais do porto no Rio de Janeiro e dali ao mar.
Um grande investimento em regime de parceria público privada (sim, isso já existia) impulsionou a economia daquela região.
Com a ferrovia, produtores e compradores da região de Itabira passaram a utilizar essa nova via de transporte para transportar o seu café até o cais do porto no Rio de Janeiro.
No princípio do século XX, o escritor e poeta português Miguel Torga, pseudônimo do médico Adolfo Correia da Rocha, nos conta sua passagem na fazenda de seu tio paterno no distrito de Piacatuba, onde ele mantinha a atividade da cafeicultura.
Na viagem de ida para a fazenda do tio, Adolfo Correia da Rocha conta em trechos a respeito da região e do que via em sua viagem feita até lá exatamente pela Ferrovia Leopoldina.
“Nesta região encontramos boa produção de cafés em Ponte Nova, Viçosa, Divinésia, Ervália, Ubá, mais ao lado em Manhuaçu, Manhumirim, Caratinga, não se esquecendo de Leopoldina e Carangola, onde também podemos encontrar diversos viveiros de mudas para o plantio de café, não se esquecendo que esse plantio tem de ser renovado, decorrente à caída da produtividade da safra no decorrer dos anos, pois esta rubiácea planta é exótica.”
“Tivemos oportunidade de conhecer algumas plantações naquela região e galpões onde se descasca e seca o café a ser vendido em grão, diminuindo o volume e peso a ser transportado.”
“E dali, de entre Divinésia e Ervália, temos realmente bons cafés a serem sempre apreciados, com excelente aroma e sabor a não perder em nada aos afamados cafés do Sul de Minas Gerais.”
Essa região e também a Estrada de Ferro Leopoldina sofreram muito com a queda do café em 1930. E as plantações somente foram reestabelecidas com maior vigor a partir de 1980.
Bom proveito, tome logo um cafezinho dali da Zona da Mata.
Você é incrível… Trouxe Miguel Torga pra perto de nós. Lindo