Barragem de Itabiruçu está sendo reforçada e falhas estruturais foram corrigidas, informa gerente da Vale

O vice-presidente do sindicato Metabase, Carlos “Cacá” Estevam Barroso, perguntou ao gerente de Geotécnica e Hidrogeologia da Vale, Quintiliano Guerra, o que a empresa fez para resolver os problemas estruturais e as falhas apontadas pelo engenheiro Antônio Carlos Felício Lambertini na barragem do Itabiruçu.

Cacá, vice-presidente do Metabase quis saber sobre falhas estruturais e possível contaminação de água por rejeitos (Fotos: Carlos Cruz)

O engenheiro Lambertini era o responsável por uma das etapas de alteamento de Itabiruçu – e abandonou o projeto ao constatar que havia falhas e riscos no alteamento dessa estrutura, tendo encaminhado denúncia ao Crea-SP – e também ao Ministério Público Federal (leia aqui).

Quintiliano Guerra reconheceu a existência, no passado, de recalque em uma galeria que passava por debaixo do maciço da barragem. Ele, porém,  assegurou que o problema já foi equacionado. “A galeria foi concretada e hoje é um corpo rígido que aumentou a segurança da barragem.”

O debate sobre segurança e riscos de barragens ocorreu após a palestra do engenheiro Quintiliano Guerra, na abertura da Semana Municipal do Trabalhador, promovida pelo sindicato Metabase, na segunda-feira (29), no auditório da Funcesi, no bairro Areão.

Fator de risco

Perguntado se a segurança da barragem não irá diminuir com o alteamento, o engenheiro da Vale respondeu negativamente.  “O alteamento é uma obra a jusante que irá ampliar o fator de segurança na medida em que aumentará o maciço. Temos laudo atestando a sua estabilidade por uma auditoria realizada em março.”

Quintiliano Guerra disse que obras de engenharia irão reforçar a segurança das barragens da Vale em todo o estado

Guerra, porém, reconheceu que foi um erro da Vale trabalhar com fator de segurança 1.5, como era a barragem que se rompeu em Brumadinho. Os indicadores de segurança são estabelecidos pela Agência Nacional de Mineração (ANM, antigo DNPM), responsável pela fiscalização de barragens.

“Temos que trabalhar para alcançar um fator de segurança acima de 1.8 ou até mais. Trabalhar com o fator de segurança 1.5 foi um erro que resultou nas tragédias de Mariana e Brumadinho.”

Por consequência, disse o gerente da Vale, todas as estruturas de contenção da mineradora no estado, independentemente do modelo construtivo, terão as suas estruturas reforçadas com grandes obras de engenharia.

Relocação

João Batista Carlos, morador do bairro Bela Vista, quis saber se a Vale planeja realocar moradores ameaçados pela lama de rejeitos em caso de rompimento de alguma barragem, conforme dispõe a condicionante 46 da Licença de Operação Corretiva (LOC) do Distrito Ferrífero de Itabira.

João Batista, morador do bairro Bela Vista: impacto de vizinhança com o Pontal

Batista há anos reivindica solução para os eternos e sucessivos danos causados pelo rejeito da barragem do Pontal à drenagem da rede de esgoto  – e que causa inúmeros transtornos à vizinhança.

Trata-se de um impacto ambiental que se arrasta há mais de 30 anos, num jogo de empurra entre a mineradora e o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae).

“Esse assunto (a remoção de residências próximas) também tem sido debatido na empresa, mas não tenho informação mais detalhada a esse respeito”, admitiu Quintiliano Guerra.

Ele reconheceu que a situação é mesmo complicada para os moradores – e que a nova legislação não permite a permanência de residências a uma distância de dez quilômetros das barragens.

“Estamos estudando como descomissionar (os diques, o cordão Nova Vista e a própria barragem do Pontal). Em alguns casos a melhor solução é acabar (descomissionar) com a barragem e em outras pode ser a retirada das pessoas”, admitiu o gerente da Vale.

“Não estamos mais lançando rejeitos no sistema Pontal. A água que precisamos para a usina é bombeada da barragem Santana e os rejeitos são dispostos na cava do Cauê”, disse ele, indicando essas medidas como sendo os primeiros passos para o descomissionamento dessa estrutura de contenção de rejeitos.

Discordância 

A cientista social Tuani Guimarães, do Comitê Popular dos Atingidos pela Mineração em Itabira e Região, não concordou quando o gerente da Vale, ao relacionar vários tipos de barragens, citou os fatores de risco de uma barragem que contém apenas água como sendo semelhantes às de estruturas com rejeitos.

Tuani Guimarães, do Comitê Popular: “todas barragens são inseguras e perigosas.”

“Temos que ter o cuidado para não comparar situações que não são similares”, disse ela. “Essas barragens (de água) não estão no mesmo patamar de segurança das que contém rejeitos.”

A ativista social teme também pela movimentação de equipamentos nas barragens para a recuperação produtiva dos rejeitos.

“Podem trazer novos riscos”, disse ela, que defende a necessidade de a Vale negociar coletivamente, e não individualmente, uma possível retirada de moradores próximos dessas estruturas.

“Não importa se a barragem foi construída a jusante ou a montante. Todas são inseguras e oferecem riscos, como o rompimento da barragem de Brumadinho, um crime que resultou no maior acidente coletivo de trabalho com mortes no país.”

Quintiliano Guerra, mesmo não concordando, disse respeitar o ponto de vista da cientista social. “Quando eu saio da portaria da empresa, sou um cidadão como você. Por isso, eu não posso criticar os movimentos sociais, que têm o meu respeito, mesmo tendo divergências de ideias”, procurou conciliar.

“Nós também sofremos com tudo isso. Perdi amigos e outros estão desaparecidos em Brumadinho. O que temos a fazer agora é aumentar a segurança para os trabalhadores na empresa e aos moradores na cidade.”

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3 Comentários

  1. Porque nunca falam na Barragem Conceição? Está ativa? Uma barragem de 42 anos vai suportar atividades por mais quantos anos? Que segurança temos? Precisamos de respostas. É minha vida , de todos os moradores e meus filhos e netos que estão correndo perigo. Minha morada amada. Onde está o respeito? Eu quero saber!

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