Ruralista também perde a paciência com Bolsonaro por possível perda de mercados nos países arábes
Rafael Jasovich*
“Chega! Chegamos ao limite! Não dá mais! Acabou a paciência!”, foi nesses termos que o deputado ruralista Alceu Moreira (MDB-RS), presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), se referiu à desastrada decisão do presidente Bolsonaro de abrir um escritório em Jerusalém.
O desabafo ocorreu em conversa no Cafezinho da Câmara, na terça-feira (2), com os líderes do governo no Congresso e na Câmara, Joice Hasselmann (PSL-SP) e Vitor Hugo (PSL-GO), em tom de enfrentamento.
O motivo que levou o parlamentar ao desabafo foi também a mensagem de ódio contra o movimento palestino Hamas, publicada nas redes sociais pelo senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente da República que o acompanhou na visita oficial a Israel. E aprofundou os estragos políticos na base bolsonarista no Congresso, criando novas áreas de atritos para o governo.
A mensagem do filho de Bolsonaro, posteriormente apagada, dizia: “Quero que vocês se explodam”, em resposta a uma nota de repúdio do Hamas à abertura de um escritório de negócios pelo governo brasileiro em Jerusalém.
Segundo testemunhas da conversa entre os parlamentares, Joice e Vitor Hugo ainda tentaram acalmar o presidente da frente ruralista, mas ele saiu em disparada em direção a um dos elevadores privativos da Câmara.
Desde que Bolsonaro prometeu mudar a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, a Frente Parlamentar da Agropecuária negocia um recuo do Planalto.
Na viagem presidencial a Israel, Bolsonaro decidiu abrir apenas um escritório de negócios em Jerusalém – adiando o anúncio de que faria a transferência da embaixada brasileira, hoje localizada em Tel Aviv.
O setor teme uma retaliação de países árabes à exportação de carne brasileira. O Brasil é hoje o maior exportador global de proteína preparada de acordo com as tradições islâmicas. O mercado consumidor do produto reúne 1,5 bilhão de muçulmanos.
As reações dos países árabes compradores do Brasil já se fez sentir, com o início das negociações com Índia, EEUU e outros países para substituir as importações do Brasil.
*Rafael Jasovich é jornalista e advogado, membro da Anistia Internacional