Xenofobia e falta de decoro encerram reunião do Codema antes de concluir a pauta previamente estabelecida

Fotos: Carlos Cruz

Conflitos marcam reunião do Codema nesta sexta-feira (11), com bate-boca entre conselheiros

A reunião do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Codema), realizada nesta sexta-feira (11), foi marcada por conflitos que levaram ao seu encerramento antes de ser concluída a pauta previamente agendada.

O conselheiro Leonardo Reis, representante da Cáritas Diocesana, teve seu direito de manifestação cerceado pelo vice-presidente do Codema, Sydney Lage, representante do Rotary Club, que o acusou de atacar sistematicamente a mineradora Vale, que “gera empregos e renda na cidade”.

Um dos pontos da pauta em discussão, quando o entrevero se estabeleceu, era a proposta de agendar uma visita dos conselheiros ao sítio Nazamel, propriedade de Antônio Nazareno de Menezes, na região do Cubango, que vem sendo pressionado pela Vale para vender seu terreno, sem que explique a real necessidade.

Defesa da Vale e acusações contra o representante da Cáritas

Leonardo Reis foi vítima de xenofobia na reunião do Codema

Durante a exposição de Leonardo Reis sobre o assédio sofrido pelo sitiante, Lage o interrompeu abruptamente.

“Você tem sistematicamente apontado o dedo e fazendo acusações, como essa de que a Vale está perseguindo esse sitiante, mandando motoqueiros lá (no seu sítio), incomodando e pressionando todo dia para que ele venda a sua terra. Essa é uma verdade que pode não ser tão verdadeira”, afirmou o vice-presidente, defendendo a Vale e se opondo à moção de solidariedade ao sitiante, aprovada anteriormente pelo Codema, sem que fosse conhecida toda essa situação.

Lage prosseguiu, enquanto Reis procurava explicar a importância da visita ao sitiante para conhecer o seu relato sobre os assédios que vem sofrendo. “Com essa coisa de moção, a gente está acusando uma empresa de perseguir e prejudicar uma pessoa. Nós não somos juízes. Aí quando a gente vota uma coisa dessa (a moção), estamos condenando uma empresa sem direito de defesa”.

E continuou o vice-presidente, enfático na defesa da Vale, novamente acusando Reis de fomentar a discórdia no conselho ambiental. “Verdades e mentiras têm um peso aí. Toda verdade tem um pouco de mentira e de excesso”, disse Lage.

Ele ainda afirmou que o Codema deveria priorizar a defesa das empresas e não gerar atritos. “Aqui estamos para defender as empresas, o Codema é um órgão para deliberar sobre as empresas”, declarou Lage, sendo corrigido pela presidente do órgão ambiental municipal, Elaine Mendes. “Somos um órgão deliberativo da sociedade civil e não das empresas”, rebateu ela.

Mesmo assim o vice-presidente não cessou os ataques contra Leonardo Reis, que tem cobrado esclarecimentos e posicionamentos da Vale, incluindo o pedido de vistas ao processo de anuência para expansão de minas e pilhas de estéril no complexo de Itabira.

Foi ele também que, em seu relatório, sugeriu a realização de uma audiência pública sobre o tema, aprovada posteriormente como consulta pública, mas ainda sem data, local e formato definidos.

Sydney Lage, exaltado, prosseguiu: “Aqui dentro virou essa coisa política. Nós temos uma empresa que está aqui há mais de 80 anos. Nós somos da cidade, somos filhos de Itabira. Todo mundo trabalha na companhia ou depende dela. A gente não tem que estar aqui apontando o dedo, chamando-a de criminosa, disso ou daquilo. Somos todos vizinhos. Moramos no mesmo espaço. Podemos atingir nossos objetivos de outra forma”.

Declarações xenofóbicas 

Elaine Mendes, presidente do Codema, encerrou a reunião por falta de decoro, com o bate-boca e acusações xenofóbicas feitas pelo conselheiro Sydney Lage, representante do Rotary Club (à direita, consultando displicentemente o celular) 

O vice-presidente também fez declarações xenofóbicas, direcionadas a Leonardo Reis. “Você, por exemplo, não é da minha cidade. Você não é de Itabira e fica acusando os outros, falando mal das empresas da cidade. Não é legal ficar aqui apontando o dedo e chamando (a empresa) de bandida”, disse Lage, enquanto o bate-boca entre os conselheiros prosseguia.

Xenofobia é a aversão, hostilidade ou preconceito contra pessoas estrangeiras. Essa discriminação geralmente se manifesta por meio de discursos de ódio, atitudes preconceituosas ou ações que excluem ou marginalizam indivíduos com base em sua origem, cultura ou nacionalidade.

Reis, professor universitário da Unifei, possui um histórico de engajamento em lutas sociais na cidade, o que tem gerado desconforto entre muitos “itabiranos natos”. Esses áulicos da mineradora Vale, incomodados com suas críticas incisivas à empresa, criticam as posições assumidas por ele, enquanto se omitem diante da realidade de violações de direitos na cidade.

Falta de decoro

Diante da falta de decoro, a presidente do Codema decidiu encerrar a reunião. “Eu, como presidente do Codema, tenho a prerrogativa de encerrar a reunião quando tem algum tipo de atitudes como essas que vimos aqui, quando a minha palavra de ordem não é respeitada e conselheiros faltam com o decoro”, afirmou Elaine Mendes.

“O conselho é democrático e todos os conselheiros podem se manifestar livremente, desde que não faltem com o decoro. Quando isso acontece, e a minha palavra de ordem não é respeitada, eu encerro a reunião e assim o farei sempre que episódios como esse se repetirem”, explicou a presidente do Codema à reportagem, após o encerramento da reunião.

 

Posts Similares

7 Comentários

  1. Que triste ver o sobrenome Lage ser sujado desta maneira.
    Este não me representa.
    O que o Leonardo Reis faz é exatamente o que todos os Itabiranos que gostam da sua cidade, deveriam fazer, defendê-la da boca grande da mineradora, que muda tudo de lugar sem se importar com mais nada.
    Muitíssimo agradecida Leonardo por me representar.

  2. O produtor agrícola Antônio Nazareno, filho de dona Piedade e seu João Batista é a terceira geração nas terras do Cubango.
    É infame o que a mineradora faz ao “expropriar” suas terras, sua subsistência.
    O primo Sidney está do lago errado, e eu sinto por isso.
    Fora Vale!

  3. Que ataque covarde a quem tem coragem de defender Itabira da voracidade da Vale . Que acabou com a água da cidade, destrói montanhas, coloca em risco a população com as barragens e agora pilhas de rejeitos. Que polui o ar e a terra. Covardia!
    O Leonardo deveria ser cidadão honorário da cidade!

  4. Este método de pressão em proprietários de áreas limites com a vale é denúncia antiga.
    Fizeram muito disso em Barão de Cocais, Brumadinho e outras localidades.
    vale privatizada mata, todas as barragens funcionaram tempos sem problema, passaram para a vale e romperam, matando 291 pessoas.

  5. Concordo com todos que falaram acima. Leonardo Reis deveria receber o título de “Cidadão Honorário”, receber as “Chaves da Cidade”. Se existisse mais pessoas como ele, Itabiranos ao não, Itabira seria uma cidade digna para os moradores, principalmente para os que moravam no Chacrinha, Explosivo, Vila Paciência e tantas outras comunidades.
    Parece que aqui em Itabira a Vale fez um “lavagem cerebral” nos Itabiranos, muitos são hoje homens e mulheres amordaçados, cegos e acéfalos. Precisamos preocupar também com os moradores dos Bairros Bela Vista e Nova Vista que desde 2021 convivem angustiados, doentes com a poeira, mal cheiro, animais peçonhentos, vibrações e agora com as casas trincadas, faltando só mais uma tragédia com a Descaracterização ou Descomissionamento do Sistema Pontal, porque falta transparência da Vale até sobre isto. Não sabemos exatamente o que ela quer fazer.
    Gostaria que os Conselheiros do Codema, representantes da Vale, prefeito, vice, vereadores, MPMG, DPMG e demais Itabiranos passassem 1(um) DIA nas Ruas 7 e 8 do Bairro Bela Vista e no final da Rua Joaquim Valadares no Bairro Nova Vista para entenderem o que estes moradores estão passando.

    É vergonhoso o que a Vale está fazendo com Itabira. Já não temos água e muito menos Paz.
    Vai nos restar poeira, barragens e buracos.
    São 8 décadas de exploração.
    Nasceu aqui, se tornou o que é hoje por causa de “Itabira”.
    O que mais quer da cidade?
    Do meio ambiente?
    Dos Moradores?
    Destruir tudo?
    Jogar pilhas de Estéril e enterrar a cidade?
    Sinto muita tristeza ao ouvir um Itabirano dizer que só a Vale é importante para o município. Tantas cidades vivem sem a “Vale”.
    Porque Itabira precisa da Vale deste jeito? Precisamos sim, de uma EMPRESA RESPONSÁVEL, com compromisso com o MEIO AMBIENTE e com os MORADORES.
    “Precisamos que ela deixe uma cidade DIGNA para nós, nossos filhos e netos”.
    Peço a Deus que venham mais “Leonardo Reis” para lutarmos por nossos direitos.

  6. Leonardo Reis,
    Obrigado por sua coragem em dizer o que precisa ser dito.
    Um sujeito achar que a função do Codema é defender ou ser puxa-saco de empresa é o cúmulo.

    A Vale tem uma longa folha corrida pelos disparates que têm se juntado a sua trajetória.

    Os lugares que valorizam os “forasteiros” são normalmente os mais desenvolvidos.

    Esse discurso de rebaixar quem não é da cidade é fruto de ignorância, quando não de má fé.

    Que os itabiranos saibam lidar com isso.

  7. Estou assustada com a Reunião do CODEMA. Muito triste contestar um professor que luta pelas causas sociais e ambientais. Parabéns às pessoas que manifestaram o seu apoio. Leonardo Obrigada por defender Itabira.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *