Ativismo pelo fim da violência contra a mulher vira mobilização permanente em Itabira
Com a abertura oficial realizada nessa segunda-feira (27/11), no teatro da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade, a campanha 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher prossegue com inúmeras atividades na cidade, com destaque para a Audiência Pública que se realiza nesta quarta-feira, a partir de 18h, no plenário da Câmara Municipal, com o tema Pelo fim da Violência – Um olhar para o Agressor.
A audiência pública contará com a participação do Instituto Albam, uma Ong de Belo Horizonte que trabalha na reeducação do agressor, experiência que a comissão de Enfrentamento da Violência Sexual e Doméstica em Itabira, responsável pela campanha, quer implantar no município (leia mais aqui).
“Esperamos reeducar o agressor para que entenda que a violência o torna mais infeliz juntamente com os seus familiares”, explica a delegada Amanda Machado, responsável pela Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher.
Segundo ela observa, há em Itabira uma rede de proteção à mulher, formada pela assistência social, polícias Civil e Militar, Ministério Público, Judiciário, mas diz que falta também um olhar para o agressor, que é vítima de sua ignorância.
“Esperamos que a temática da violência contra a mulher toque cada um de vocês aqui presentes e que disseminem tudo o que ouvirem “, disse ela, dirigindo-se especialmente aos alunos presentes na abertura da campanha pelo fim da violência contra a mulher e pela igualdade de gênero.
Em sua palestra, a delegada fez um relato dos diversos casos de violência cometida contra as mulheres em Itabira, na maioria das vezes por motivos fúteis. São relatos que demonstram como é forte a misoginia na cidade, que é a intolerância e o sentimento de superioridade dos homens sobre as mulheres.
“Até café frio gelado ou ralo tem sido motivo de agressão às mulheres”, relatou.”O exercício da masculinidade não é o uso da força física. Os homens precisam aprender a amar”, recomendou, como forma de desenvolver uma nova cultura de paz entre homens e mulheres, prevalecendo uma convivência harmônica e civilizada.
“Não é conto de fadas, é a realidade”, disse juíza sobre os relatos que ouve
A juíza Cibele Mourão Barroso de Figueiredo Oliveira, da 2ª Vara Criminal de Itabira, disse ficar com o coração apertado quando ouve nas quintas-feiras os relatos de vítimas da violência doméstica na Comarca. “São mulheres que tiveram a coragem de denunciar, dando ponta pé inicial para quebrar o ciclo da violência”, disse ela.
Segundo ela, os relatos não diferem dos depoimentos da exposição de fotos organizada pelas Filhas de Frida, uma ONG de Montes Claros que também trabalha pelo fim da violência contra as mulheres. A exposição fotográfica Ajudem Aquela expõe 30 mulheres de diferentes idades, de todas as classes sociais, que tiveram a coragem de expor os seus dramas pessoais – e ficará exposta hoje e amanhã no saguão da Câmara Municipal.
“Grande parte das vítimas tinha 15 anos quando começaram os seus relacionamentos. É uma triste realidade, não é fantasia, nem conto de fadas, nem história de terror”, testemunhou a juíza, para quem esse é um retrato que precisa ser mudado.
“A minha alegria é ver os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário juntos nesta causa, o que em grande parte das cidades é difícil de se ver”, elogiou a juíza Cibele Mourão. “Vamos, unidos, mudar o modo de pensar e de agir, combatendo a violência de forma preventiva e repressiva quando for necessário”, disse ela, torcendo para que os 16 dias de ativismo virem 365 dias de ação efetiva no combate da violência sexual e doméstica.
Com elas e por elas quer dar voz às mulheres agredidas
Lena Primo, presidente do Conselho Municipal da Mulher apresentou o projeto Com elas e por elas, pelo qual mulheres vítimas da violência podem narrar os seus dramas e contribuir para o fim do ciclo de agressões.
O projeto conta com apoio das polícias Civil e Militar, da comissão de Combate à Violência – e irá promover palestras e debates em escolas, residências e empresas a partir de depoimentos de mulheres vítimas de violência. “Queremos dar mais visibilidade à temática e às políticas públicas de combate e conscientização”, prometeu.
Já participando do projeto, a dona de casa Arlete da Consolação Silveira, hoje residente em Itabira e vítima de agressão do marido quando ainda morava no estado do Pará, deu um comovente depoimento. “Ainda tenho no corpo as marcas da violência que sofri por muitos anos.”
Ela contou que tinha medo de denunciar o ex-companheiro, até que um dia não aguentou mais. “Um dia, ele (o seu ex-companheiro) saiu de casa para um serviço fora. Peguei as minhas filhas e com ajuda dos barqueiros, fugi de balsa. Fui para Brasília, depois Goiânia e acabei parando aqui em Itabira. Ele (o agressor) hoje está com 87 anos, e ainda me ameaça”, denunciou.
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