“Violência contra a mulher é crime”, disse superintendente do consórcio Mulheres das Gerais
A superintendente do Consórcio Regional de Promoção da Cidadania Mulheres das Gerais, Ermelinda de Fátima Melo, radicalizou com relação ao tratamento que se quer dar ao agressor, como se ele fosse apenas alguém portador de algum distúrbio mental e de preconceitos arraigados. “Quem comete um ato de violência contra a mulher é um criminoso e assim deve ser tratado”, disse, taxativamente.

Ermelinda Melo participou da Audiência Pública que teve como tema Homens pelo Fim da Violência – Um Olhar para o Agressor, realizada na quarta-feira (29/11), no plenário da Câmara Municipal como parte da programação da campanha 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher.
De acordo com ela, quando o homem fala que não foi ouvido é por não reconhecer a sua conduta como sendo criminosa. Ela contou na audiência o caso do assassinato de uma mulher no interior de Minas Gerais pelo marido dentro de um “camburão” da Polícia Militar.
“Como ele estava ‘tranquilo’, a polícia não o algemou, não reconhecendo que havia cometido um crime ao agredir a mulher. E ele desferiu várias facadas na mulher, matando-a na própria viatura onde foram colocados juntos.”
Segundo ela, grupos reflexivos podem dar em nada, caso não se considere que a violência contra a mulher é consequência de um modelo que chama de “masculinidade hegemônica heteronormativa” que vigora no país.
“Falam para a mulher que a rua não é lugar seguro. Isso é conto de carochinha, é mentira. A mulher morre na maioria das vezes dentro de casa, é assassinada por aquele que escolheu para ser seu companheiro. As meninas são estupradas pelos pais, pelos tios, pelos primos também dentro de casa.”
A coordenadora das Mulheres das Gerais insiste que a saída para acabar com a violência contra a mulher está na desconstrução dessa masculinidade heteronormativa assassina. “Temos que discutir o que é masculinidade nas escolas e construir novos modelos de masculinidade, pelos quais os homens possam se sentir mais à vontade, que percebam que não precisam ser tão endurecidos para ser masculino”, propõe.
Ainda segundo ela, assim como não existem feminilidades no singular, uma masculinidade que seja positiva deve ser também plural. “Eu sonho com um futuro em que os homens possam ir para as praças empurrando carrinhos de bebê”, disse ela, que espera que as suas palavras não sejam desestimuladoras da criação de grupos de reflexão voltados para os homens agressores. “Mas sem se esquecer de que quem comete atos de violência é criminoso.”
Para ela, antes de tudo, o agressor precisa ser punido, para que coercitivamente deixe de maltratar a mulher. “Se for achar que o homem é violento por ter problemas de saúde mental, basta dar ‘rivotril’ para ele ficar calminho. Não é essa a saída. A base da violência contra a mulher é esse modelo patriarcal e machista. É esse modelo que precisa ser desconstruído.”
Dona Nair nunca ficou calada

Depois de ouvir atentamente as apresentações das autoridades e palestrantes, a presidente da Associação das Domésticas de Itabira, Nair Monteiro Vieira, resumiu bem o que foi a audiência pública.
“Eu quero parabenizar esse grupo de mulheres corajosas que romperam o medo de falar”, disse ela, que nunca teve receio de dizer o que pensa e que está há anos à frente de uma associação de mulheres historicamente oprimidas – e que até recentemente mantinham com os seus patrões, em casas de famílias, relações de trabalho análogas à escravidão, sem carteira de trabalho assinada e demais direitos trabalhistas.
“A mulher não pode continuar deixando de fazer o que quer porque o marido não deixa”, afirmou, concordando com a tese de que antes de tudo é preciso acabar com a violência em família. “A cultura machista é tanta que os filhos ficam mais ao lado do pai quando esse briga com a mãe só por ela ser mulher”, criticou. “É preciso discutir tudo isso nas escolas, para que se forme um novo cidadão consciente e respeitoso”, propôs.