Vila de Utopia completa três anos de jornalismo em busca das fontes primárias para informar o leitor atento e exigente
Carlos Cruz
Nesta segunda-feira (4), após completar três anos de circulação pelas nuvens da internet, Vila de Utopia se firma como alternativa de informação entre os veículos de comunicação da cidade, com as suas características editoriais próprias.
No dia-a-dia da notícia seguimos em busca da cena primária. Valorizamos a reportagem como prática imprescindível ao jornalismo. Entendemos que traz luz à informação que é notícia – e que pode repercutir a ponto de alterar a expectativa de fatos futuros.
Faltam-nos, porém, o precioso tempo diante de tantas pautas do dia-a-dia, sem contar as que permanecem nas “gavetas”, todas aguardando oportunidade de serem postadas nas “nuvens” para a leitura e informação necessária.
Com isso, são três anos aprendendo como fazer jornalismo on line, tentando equilibrar a urgência de ontem com a necessidade de aprofundar pautas, que acabam virando apenas notícias, sem uma análise pluralista que toda realidade requer.
Nesses três anos, por exemplo, não cobrimos “crimes comuns” até mesmo para não participar “dessas mortes vis”. Mas dentro de nossas limitações jornalísticas, entendemos que a abordagem das causas da violência é necessária – e é um dos muitos temas que devemos ao leitor.
Assim como é preciso indagar como ainda ocorre o crescimento urbano em Itabira, com abertura de novas avenidas, numa cidade mineradora que tem a data para exaustão de suas minas já acertada para a virada desta década.
Como será a cidade após toda a crise que o país vive, e que se agrava com a pandemia, e ainda tendo que conviver com o fantasma da exaustão mineral, com tudo que virá em consequência?
Pode até ser que nos próximos meses, após a pandemia ser amenizada, a cidade viva mais uma ilusão passageira com as frentes de trabalho que serão abertas pela mineradora Vale para as obras de reforço de estruturas, descaracterização e descomissionamento (fechamento) de barragens.
Entretanto, por dever de ofício, somos obrigados a desafinar o coro dos contentes, momentaneamente que seja, para informar que será só mais um ciclo ilusório. O fantasma da exaustão é o espectro que assombra – e que está difícil de ser exorcizado.
Voltando à questão das “mortes vis”, não acreditamos que a violência seja da natureza humana. Daí que não devemos confiar cegamente no que escreveu Jean-Jacques Rousseau (171278), de que “o homem nasce bom e a sociedade o corrompe”.
A esse aforismo filosófico podemos contrapor o que escreveu Thomas Hobbes (1588/ 1651) para quem “o homem nasce mau e a sociedade o torna bom”.
É assim que o bebê chorão e egoísta que, pelo extinto de sobrevivência, chantageia com berreiro para obter a exclusividade da genitora, pode ser educado e tornar-se um cidadão que respeita o próximo, que passa a ver que o mundo não gira ao redor de seu umbigo.
Do mesmo modo que o cidadão é educado pela sociedade, o jornalismo também aprende e desenvolve em sociedade. Na busca da cena primária para entender a realidade, deve-se buscar as várias “verdades”.
Em diálogo com um estudante, Mefistófeles, que se faz passar por Fausto, diz algumas “verdades” que devem ser consideradas na apuração dos fatos jornalísticos, pelos significados que elas contêm.
O estudante vai à procura de Fausto, considerado um cidadão incorruptível até mesmo aos olhos de Deus. E sem saber, ouve os ensinamentos de Mefistófeles, que já encerrando o diálogo, aconselha o estudante, como se fosse Fausto:
“Eritis sicut Deus, scientes bonum el malum! (seja como Deus, conhecendo o bem e o mal)”. Mas em seguida, complementa, assumindo a sua própria natureza: “Crê no dito da serpe (serpente), que inda um dia a parecença com Deus te trará desgosto!”.
Ao citar essa passagem do clássico universal de Johann Wolfgang von Goethe (1749/1832) chamamos a atenção para uma situação que o repórter atento não pode deixar de ter em mente que as aparências e as palavras enganam – e que a realidade comporta várias verdades e interpretações.
Como dizia o jornalista Clóvis Rossi (1943/2019), o jornalismo é uma permanente e contínua batalha pela conquista de corações e mentes, temperada pelo mito da objetividade, pela busca da verdade.
Mas essa verdade, dizia ele, assim como a realidade, não é única. Comporta interpretações diferentes, dependendo de quem apura e das posições políticas e ideológicas do narrador, o repórter.
Por esse mito da objetividade, que vem da escola jornalística norte-americana, a imprensa deve-se manter neutra e publicar o que ocorre com clareza, deixando ao leitor tirar as conclusões que lhe aprouver.
Diz ainda essa mesma escola que, na busca da verdade, é preciso ouvir os lados envolvidos. No que Clóvis Rossi acertadamente chama a atenção para o fato de que todos os lados podem mentir ou omitir detalhes importantes para a apuração do que seria a “realidade”.
Reafirmamos que não somos isentos e nem neutros, mesmo quando procuramos valorizar a objetividade. Não acreditamos no mito do jornalismo norte-americano que propõe restringir as opiniões aos espaços editoriais, mas que na própria definição das pautas já estão editorializando na abordagem.
Se aqui valorizamos a reportagem como ferramenta imprescindível, é justamente por considerar importante “ver de perto” como ocorre a cena primária. Isso para não se tornar mero reprodutor de fatos ou que se tenha de fazer uso dos giletes-press opinativos, que é um modo tacanho de se fazer jornalismo com fontes secundárias, alheias.
Não somos neutros, até por entender que a suposta neutralidade “é arma dos poderosos para manter imutável o que está aí”.
Temos compromisso com a mudança, com o novo que move a história e faz a sociedade avançar nas conquistas econômicas, sociais, políticas, culturais.
Por isso temos a pretensão de suscitar debates, de propor agendas setting – e assim, quem sabe, contribuir para que Itabira deixe de ser uma Cidadezinha Qualquer.
Que a Vila de Utopia, da crônica de Drummond, deixe o marasmo da “cidade que não avança”, da vida que passa devagar, para se transformar na utopia que faz o novo acontecer e virar realidade.
É para deixar de ser utopia, como já definia Fernando Biriri, citado pelo amigo Eduardo Galeano (1940-2015), escritor e jornalista uruguaio, ao ser indagado para o que serve a utopia:
“A utopia está no horizonte. E se está no horizonte eu nunca vou alcançá-la, porque se caminho dez passos, a utopia vai se distanciar dez passos. E se caminho 20 passos, a utopia vai se colocar 20 passos mais além. Ou seja, eu sei que jamais, nunca, vou alcançá-la. Então, para que serve a utopia? Para isso, para caminhar”.
É essa utopia que perseguimos. Não é a da letargia do sonho inalcançável, mas a utopia que serve para seguir em frente e mudar o que está aí.
Como desejamos a mudança, a partir de hoje nossa revista eletrônica de Itabira do Mato Dentro está com uma nova logo, mantendo a ilustração do genial artista Genin, que tão bem ilustra a realidade de Itabira como histórica cidade mineradora que ainda não retirou a pedra de seu caminho.
Com a ilustração procuramos lembrar que a vida prossegue e se apresenta com novos desafios no pós-pandemia. É com essa perspectiva de mudança que trabalhamos, sem esquecer que o passado é história que serve para indicar caminhos alternativos para que a utopia vire realidade. E que novos sonhos possam surgir para persistir na caminhada.
Seja sempre bem-vindo, caro leitor, às páginas de nossa Vila de Utopia. Tim-Tim.
Parabéns Carlinhos por estar sempre procurando o horizonte através do Vila de Utopia. Sei de toda a dificuldade em manter um veículo de comunicação falando o que muitos não querem ouvir ou não querem que emerja.
Mas, é assim que se caminha…..
Parabéns Carlos Cruz e muito obrigada pelas belas e relevantes artigos.
Vida longa a Vila de Utopia.
Parabéns pelas alterações na página, o tamanho das letras e da logo que estão maravilhosas.
Parabéns, Carlinhos! A qualidade e a seriedade jornalítica é uma marca fundamental que praticam desde o Cometa Itabirano! Vila de Utopia é nossa vila! Obrigada!
Vila de Utopia tem bagagem!!! Vem desde o O Cometa Itabirano!!!
Acompanhei juntamente com Xilaudo, Ivan Stefanic, professor Arp e Hélio Fernandes o julgamento de Carlos Alvarenga Cruz na IV Auditoria Militar de Juiz de Fora, no processo do César Cals(na época Ministro das Minas e Energia).
Ótimas reportagens!! VILA DE UTOPIA é só começo!!👏👏👏🤩🤩