Itabira em luto: tragédias escancaram a cultura de uma sociedade machista e violenta
Foto: Tânia Rego/ Agência Brasil
Itabira vive um momento de luto profundo após duas tragédias devastadoras que marcaram a cidade. O feminicídio cruel de Cristina Maria Carneiro Silva, mãe de 14 filhos, e a morte prematura do menino Guilherme Gabriel Couto da Silva, de 12 anos, vítima de um ataque por cães da raça rottweiler, escancararam realidades que demandam debates urgentes. Esses episódios ressaltam a necessidade de ações concretas contra a violência de gênero e pela posse responsável de animais.
Diante da gravidade dos fatos, cresce o clamor para que a cidade decrete luto oficial, suspendendo, por um período significativo, eventos públicos festivos como um gesto simbólico de respeito às vidas perdidas e de estímulo à introspecção coletiva. Tal postura permitiria que a sociedade não apenas expressasse solidariedade e pesar, mas também promovesse uma reflexão profunda que conduza a mudanças reais.
Machismo estrutural e tutores responsáveis

O feminicídio de Cristina evidencia o impacto devastador de uma cultura enraizada na misoginia, alimentada por valores patriarcais que ainda relegam a mulher a uma posição de subserviência, fruto de uma cultura de violência judaico-cristã. O repúdio à violência contra a mulher deve ser incondicional e transformado em ações efetivas que combatam esse ciclo de opressão.
É imperativo que políticas públicas de proteção às mulheres sejam fortalecidas ainda mais. Isso já inclui a existência, em Itabira, de uma delegacia especializada na defesa da mulher, além de acompanhamento específico para mulheres vítimas da violência doméstica e da misoginia.
Mas é preciso ir além, com campanhas educacionais realizadas em escolas e amplamente divulgadas por todos os meios, com o objetivo de desconstruir o machismo estrutural. Isso é dever do Estado, no caso, da Prefeitura Municipal de Itabira.
Paralelamente, a tragédia que vitimou o menino Guilherme expõe a urgência de maior responsabilidade por parte de tutores de animais, especialmente de raças consideradas potencialmente mais agressivas.
Medidas como a instalação de cercas adequadas, o uso obrigatório de focinheiras em espaços públicos e a participação em treinamentos de manejo animal devem ser obrigatórias e reguladas por lei municipal.
O poder público também precisa assumir seu papel, regulamentando a tutela de cães de grande porte e promovendo campanhas de conscientização sobre a segurança no convívio entre animais e pessoas.
Mais do que lamentar pelas redes sociais, é hora de transformar o verbo em ação. Esses dois tristes e trágicos casos devem ser um divisor de águas, despertando na sociedade itabirana — e além dela — a urgência de medidas preventivas e coercitivas, aliadas a uma postura ativa na luta contra a violência e a negligência.
É triste ver acontecer todas essas tragédias em Itabira, ambas infelizmente recorrentes, numa cidade que deveria ser notícia não por violências de qualquer natureza, mas por sua convivência social harmônica e fraterna, respeitosa e poética, como se espera do berço do maior poeta brasileiro, Carlos Drummond de Andrade.
Feminicídio: herança de uma cultura machista

Cristina Maria Carneiro Silva, de 39 anos, foi assassinada a facadas pelo companheiro, Maykell Paulino, preso em flagrante após o crime, tendo apresentado versões contraditórias sobre o feminicídio. O crime ocorreu no bairro Fênix, em plena luz do dia, chocando toda a comunidade local.
Apesar da existência da Lei Maria da Penha, que busca proteger as mulheres da violência doméstica, o Brasil continua liderando os índices de feminicídio na América Latina.
Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o país registra um feminicídio a cada sete horas. No período de quatro anos, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) registrou aumento de 225% nos julgamentos de casos de feminicídio em todo o país. O número faz parte do novo Painel Violência Contra a Mulher, lançado na terça-feira (11).
Esses números alarmantes não são apenas frutos de um sistema de segurança falho, mas também de uma cultura patriarcal e machista secular, que perpetua a ideia da mulher como propriedade do homem. Essa herança, muitas vezes justificada por interpretações religiosas arcaicas, alimenta um ciclo de violência que parece interminável.
Daí ser preciso que o poder público e a sociedade assumam um papel ativo no enfrentamento desse problema. Investir em políticas educacionais que desconstruam essa cultura machista, fortalecer redes de apoio para mulheres em situação de risco e garantir o cumprimento rigoroso da lei são passos imprescindíveis.
Responsabilidade dos tutores

O ataque dos três cães rottweilers que resultou na morte do menino Guilherme Gabriel Couto da Silva expôs uma questão crucial: a falta de regulamentação e fiscalização sobre a criação de cães de grande porte em Itabira.
Os cães, que escaparam por um buraco na cerca da casa onde viviam, pertenciam a um tutor já identificado, embora o nome não tenha sido divulgado. Apesar de tentar intervir, o tutor foi conduzido à delegacia e está sendo acusado de maus-tratos aos cães, além de omissão das necessárias cautelas.
A cidade prescinde de uma legislação local que obrigue tutores a terem uma infraestrutura segura, com cercas robustas e espaços adequados para evitar fugas.
Não basta legislar a respeito; é preciso também que se façam inspeções periódicas nessas estruturas, tanto pelos tutores quanto por fiscais da Prefeitura, como medidas essenciais para prevenir acidentes.
Jamais se deve permitir que cães fiquem soltos, podendo acessar espaços públicos, como ocorreu no campo de futebol onde o pequeno Guilherme se divertia jogando bola com os amigos.
Além disso, os tutores devem assegurar que esses animais, desde filhotes, passem por treinamentos que estimulem comportamentos amigáveis e controlados.
Com o mesmo objetivo, a legislação deve tornar obrigatória a utilização de focinheiras e coleiras adequadas, para que o contato entre animais e pessoas ocorra de forma controlada.
A ausência de normativas específicas em Itabira é um ponto crítico. No passado, um vereador chegou a propor uma regulamentação sobre o uso de focinheiras.
Contudo, devido a falhas na redação do projeto, que geraram a interpretação equivocada de que o tutor é que deveria utilizar a focinheira, a proposta parlamentar acabou sendo ridicularizada e arquivada.
Daí que a cidade precisa urgentemente de regulações que contemplem a posse responsável de cães, estabelecendo multas e sanções penais em caso de negligência.
A conscientização, aliada à fiscalização e punição, pode evitar tragédias semelhantes no futuro. Além disso, cabe à administração pública realizar campanhas educativas que incentivem os tutores a agir com responsabilidade e respeito ao convívio comunitário.
Do luto à ação
A tragédia vivida por Itabira não pode ser limitada ao pesar coletivo. Deve ser, acima de tudo, um chamado à ação.
Para isso, o prefeito Marco Antônio Lage (PSB) deveria decretar luto oficial, enquanto a Prefeitura precisa, com urgência, organizar debates públicos, palestras educativas e mobilizações sociais.
Essas iniciativas não devem ser apenas simbólicas, mas poderosos instrumentos para transformar a dor em uma força motriz, promovendo mudanças significativas na sociedade e nas relações interpessoais.
Ambas as tragédias demandam respostas enérgicas, que vão desde ações educativas até a formulação de uma legislação mais abrangente e coercitiva.
O objetivo é construir uma sociedade mais segura para todos, com especial atenção à proteção das mulheres contra a violência doméstica, cultural e histórica, e à garantia de uma tutoria responsável de cães e demais animais domésticos.
Vejo animais soltos nas ruas da cidade praticamente todos os dias. Cachorros, gatos e principalmente animais de grandes portes. Cavalos com seus potinhos principalmente. Acontece também de cachorros também se soltarem e provocar tragédias como anunciada. Em construções usa-se este animal para ser vigia da obra e muita vezes os proprietários esquecem do principal, deixam de fornecer água e alimentação. Gatos ficam pelos telhados a procura de algo para comer e também para beber água. E as éguas ficam soltas em lotes vagos também sem água para beber. Um animal sem água e alimentação, torna-se extremamente perigosos pela necessidade que tem de se prover. Daí a tragédia vai acontecer.
Penso que cães de natureza violenta devem, é lei, usar focinheira, já os gatos devem andar soltos por aí, dado que comem ratos e insetos. E os cavalos não fazem mal a ninguém. E embelezam a paisagem
No Irã é proibido cães nas ruas. Se a pessoa tem um cão não pode sair com ele na rua. Claro que o Irã tem um altíssimo nível de civilidade, já no Brasil a coisa é atraso. E não nos iludimos, nos próximos 30 anos a desigualdade social crescerá e a violência serão ampliadas.
É o capitalismo..