Vale confirma: minério de ferro de Itabira exaure em 2028. Mas o fim pode não ser tão próximo
Carlos Cruz
Pelo relatório anual do Formulário 20-F (Form20-F), apresentado à Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos nessa quinta-feira (19), as reservas de minério de ferro de Itabira irão mesmo exaurir em 2028 (quadro)
Confirma o que foi divulgado no ano passado (leia aqui), pela via indireta. Com a notícia, muitos desavisados se assustaram, por certo ainda acreditando que estava valendo as projeções anteriores da empresa.
Por exemplo, acreditavam que estava valendo a informação do ex-diretor José Martins Viveiros, que dizia ter o município recursos minerais suficientes para manter o complexo em atividade para além de 2060 (leia aqui).
Outros cenários
Porém, o leitor atento deste site Vila de Utopia já sabia que a exaustão se aproxima a passos largos, conforme pôde ler em reportagem aqui publicada – e que projetava a exaustão mineral para 2037 (leia aqui).
Conforme o relatório Form20-F do ano passado, tornado público neste mês, Itabira possui reservas comprovadas de 687,5 milhões de toneladas (Mt.) – e mais reservas prováveis (recursos) de 173,9 Mt, totalizando 861,4 Mt.
A projeção da Vale para o horizonte da exaustão das minas de Itabira é conservadora. É que pelo cenário apresentado, mesmo considerando que o complexo de Itabira irá atingir, já a partir deste ano, capacidade produtiva máxima anual de 50 Mt, as suas reservas só irão exaurir daqui a 16 anos. É só fazer as contas.
Ou seja, divididos recursos e reservas pela capacidade máxima produtiva, Itabira teria minério para explorar até 2035, o que bate com as informações da reportagem publicada neste site, realizada a partir de entrevista com o ex-gerente-geral Fernando Carneiro.
Incertezas
Pelo cenário apresentado no relatório Form20-F de 2016, em que Itabira contava com reservas comprovadas de 811,4 Mt e mais 198,9 Mt reservas prováveis, totalizando 1.010,3 Mt, e com a produção média de 40 MT, o horizonte de exaustão se estenderia até 2046.
Como todas essas projeções causam incertezas e insegurança para quem vive e investe na cidade, é urgente que dirigentes da mineração expliquem todos esses cenários.
Afinal, qual é a real projeção para a exaustão das minas de Itabira? Será em 2028, em 2035 e ou em 2046?
Esses esclarecimentos são cruciais – e mais do que nunca não se justifica, até mesmo pelos debates que hoje se travam sobre a importância e os impactos da mineração, a falta de clareza sobre o horizonte de exaustão das minas de Itabira.
Verdade que essa incerteza se arrasta desde antes de a Vale estabelecer com as suas máquinas na mina Cauê, em 1942. O que virá após a exaustão, como será o descomissionamento (fechamento com as medidas socioambientais e econômicas cabíveis) de suas minas no município?
O que até agora se têm são incertezas quanto ao futuro que virá após a exaustão.
Finanças
O que importa é saber por quanto tempo Itabira contará com o ICMS, a Compensação pela Exploração Mineral (Cfem) gerados pela produção local de minério de ferro. Por quanto tempo de fato contará com esses recursos?
Não vale, sem trocadilho, dizer que a empresa irá trazer minérios de outras localidades para processar em Itabira – e que irá suprir o que se perde com a exaustão. Isso é só uma meia verdade.
Trazer minérios de outras localidades para processar em Itabira é ótimo para a empresa, que aqui dispõe de seus principais ativos em Minas Gerais. São esses ativos que irão assegurar a produção do complexo em sua capacidade produtiva máxima. por muito mais tempo além da exaustão das minas de Itabira.
Mas para o município que fez a Vale crescer e tornar o que é, essesminérios vindos de outras localidades para ser concentrado nas usinas de Conceição e Cauê terá pouco impacto econômico se comparado com a produção atual das minas itabiranas.
Isso pelo fato de que a maior parte do ICMS e da Cfem, por justiça tributária, ficará com o município onde ocorre o chamado fato gerador, que são as minas.
Insumos, empregos e rejeitos para pouco ganho
Para processar minérios de outras localidades, o complexo de Itabira irá consumir o mesmo volume de água de classe especial captada dos aquíferos – e que foi prometida para suprir a cidade assim que as minas fossem exauridas.
Há de se levar em conta que, juntamente com o minério de outras localidades, virá também parte significativa de rejeito. E essa lama precisa ser disposta de forma correta, para não causar danos ambientais e até mortes como as que tragicamente ocorreram em Mariana e Brumadinho.
Onde esse rejeito será disposto? Nas barragens ou em pilhas a seco? Ou será disposto nas cavas exauridas das Minas do Meio?
Se isso ocorrer, é preciso assegurar as condições para que a água dos aquíferos seja captada para suprir a demanda da cidade.
Ou se isso não for possível, uma vez que a empresa irá necessitar do mesmo volume de água para processar o minério de outras localidades, que se faça um novo balanço hídrico, socioambiental da mineração.
O que pode incluir entre as compensações, inclusive, mas não apenas, o pagamento pela mineradora dos custos para se captar água no rio Tanque. Investimento esse que já é devido ao município pela Licença de Operação Corretiva (LOC) de 2000.
Ao processar exclusivamente minérios de outras localidades, mesmo mantendo a capacidade produtiva de 50 Mt, isso irá gerar para Itabira em torno de apenas 20% dos impostos e royalties que o município atualmente arrecada.
Já a geração de empregos diretos não deve passar de 400 postos de trabalho. Atualmente a Vale mantém cerca de 4 mil empregos diretos nas minas e nas três usinas que dispõe no município.
Portanto, é hora de se fazer novo balanço socioeconômico e ambiental do complexo minerador de Itabira, avaliando as condições atuais e futuras.
Que a empresa venha a público se explicar e executar o que é necessário para o pagamento da dívida histórica com Itabira.
E que as autoridades municipais tomem as medidas necessárias, urgentes e já atrasadas, para que sejam criadas as alternativas econômicas para Itabira não virar cidade fantasma.
Meu pai trabalhou por mais de trinta anos na vale em Itabira, muitos familiares meu trabalham na Vale e moram em Itabira, tenho um amor muito grande por essa cidade, gostaria que nada se acabasse.
Uai, sô! Tudo nesta vida tem um fim. Nada é para sempre, inclusive com as empresas. Elas vão passando de geração para geração, mas um dia elas se dissolvem, principalmente empresas de Mineração, onde a jazida mineral tem uma vida útil calculada antes da empresa mineradora entrar em operação. A vida útil das minas da Vale em Itabira termina em meados de 2030, conforme calculado.
De acordo como relatório Form-20, divulgado em abril do ano passado, a exaustão agora está prevista para 2041. Essa projeção tem mudado ano a ano.