“Usina Cauê vai ser readequada para processar rejeitos filtrados”, informa Diogo Monteiro, gerente de Operações da Vale no Complexo de Itabira
Fotos: Carlos Cruz
Intervenção marca início de um novo ciclo que vai estender a extração e beneficiamento de minério de ferro até 2041, enquanto estudos geológicos e planos de mineração subterrânea apontam para horizontes ainda mais longos
O diretor de Operações do Complexo Minerador de Itabira, Diogo Monteiro, explicou em entrevista a este site Vila de Utopia que o processo de adequação da usina Cauê, que será novamente paralisada a partir de julho de 2026, tem por objetivo permitir o reprocessamento do rejeito filtrado, técnica adotada pela mineradora para eliminar a disposição em barragens.
Segundo ele, a usina, a mais antiga da Vale, precisa ser modernizada para operar com maior eficiência no tratamento desse rejeito, reduzindo a umidade e simplificando o processo industrial. “Cauê é a primeira usina da Vale, e ela vai ser a usina que por mais tempo vai ficar em operação em Itabira”, afirmou.
Monteiro destacou que a adequação envolve melhorias operacionais e ajustes estruturais para que a planta possa trabalhar com o novo perfil de material.
Questionado se essa readequação incluirá também o processamento do rejeito depositado nas barragens, respondeu que ainda não, embora tenha admitido que essa etapa pode integrar o próximo ciclo produtivo, à medida que os estudos avancem.

Produção concentra nas usinas Conceição durante a intervenção
Com a paralisação temporária da usina Cauê, a Vale direcionará a produção para as usinas Conceição 1 e Conceição 2.
Essa última, inaugurada em meados da década passada, foi projetada para processar itabiritos compactos, material antes considerado estéril e que hoje possui valor econômico.
A tendência é que no futuro sejam realizadas novas adequações para o reaproveitamento dos rejeitos das barragens.
Monteiro confirmou a informação que, após a Cauê, também a Conceição 2 passará por readequações semelhantes, dentro do mesmo conceito de simplificação e adaptação ao rejeito filtrado.
Já a usina Conceição 1, por sua vez, será descomissionada futuramente. A razão é geológica. É que parte do minério que vai sustentar a continuidade operacional até 2041 está localizado exatamente sob sua estrutura.
Para acessar esse recurso, a planta terá de ser desmontada, em um processo que envolve licenciamento ambiental, realocação de trabalhadores e reconfiguração logística do complexo.
Esse conjunto de intervenções marca o início de um novo ciclo de mineração em Itabira, confirmado pela Vale e antecipado pelo Sindicato Metabase, que negocia a manutenção dos empregos durante o período de transição.
A empresa afirma que não haverá demissões em massa e que os trabalhadores serão realocados ou capacitados para operar novas tecnologias, especialmente as ligadas à filtragem e automação.

Vale realiza pesquisas geológicas e avalia potencial para além de 2041
Paralelamente às readequações industriais, a Vale tem intensificado as pesquisas geológicas nas minas itabiranas.
Recentemente, a empresa realizou sobrevoos com sensores eletromagnéticos, executou novas sondagens profundas e revisou modelos geológicos antigos, buscando identificar recursos minerais remanescentes e avaliar a possibilidade de estender a vida útil das minas para além de 2041.
Embora Monteiro afirme que o plano atual está assegurado pelas pesquisas disponíveis, ele admite que novos estudos podem revelar horizontes mais longos.
Essas investigações alimentam a expectativa, já mencionadas por ex-executivos da empresa, de que Itabira possa ter minério suficiente até 2060, dependendo da viabilidade econômica e tecnológica.
A Vale, no entanto, ainda não divulga dados conclusivos à sociedade itabirana, mantendo a posição de que trabalha oficialmente com o horizonte de 2041 para a exaustão de suas minas em Itabira.
Hematita profunda e mineração subterrânea
Segundo ex-geólogos da Vale, a empresa há muito estuda a viabilidade de explorar, por meio de mina subterrânea, um veio de hematita remanescente, de alto teor, localizado abaixo dos itabiritos. Esse veio se estende da mina Conceição até a mina Chacrinha, em profundidades que inviabilizam a lavra a céu aberto.
Por isso, a Vale já admite que a exploração subterrânea é uma possibilidade real para o futuro. A empresa contratou estudos de viabilidade, avaliou métodos de lavra subterrânea utilizados no Canadá e na Austrália e considera esse minério como um recurso estratégico.
Monteiro, porém, mantém cautela ao tratar do tema. “Todas as pesquisas que nós temos suportam o plano até 2041. Mas continuamos fazendo estudos para garantir que tenha eventualmente mais minério pela frente”, disse.
A mineração subterrânea, caso se confirme, representará uma ruptura histórica da mineração em Itabira, que há mais de 80 anos opera exclusivamente as suas minas a céu aberto.
Descomissionamento da Conceição 1 e os desafios do novo ciclo
O descomissionamento da usina Conceição 1 será inevitável para permitir o acesso ao minério que sustenta o plano de lavra até 2041. A desmontagem da planta exigirá um processo complexo, envolvendo remoção de estruturas, adequações ambientais e reorganização das frentes de lavra.
A Vale ainda não divulgou o cronograma detalhado, mas admite que essa etapa é fundamental para garantir a continuidade operacional do complexo.
Esse novo ciclo representa uma transição tecnológica e industrial, marcada pelo reaproveitamento de rejeitos, pela modernização das plantas e pela busca de novas fronteiras de exploração.
Ao mesmo tempo, reacende debates históricos na cidade sobre o futuro da mineração, o tempo restante de exploração e o legado socioeconômico para as próximas gerações.
A readequação da usina Cauê, portanto, é apenas o primeiro passo de um processo que deve se estender por toda a próxima década e que definirá o futuro de Itabira, que precisa urgentemente diversificar a sua estrutura econômica, para que não venha a “derrota incomparável” após a exaustão inexorável.









