Unifei anuncia novos cursos em Itabira, mas campus deve seguir restrito às áreas tecnológicas
Foto: Divulgação/ Ascom/CMI
Expansão é positiva e necessária, mas cidade continua sem licenciaturas em Humanas; demanda é histórica e permanece sem resposta
Carlos Cruz
O reitor da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), professor Marcel Fernando da Costa Parentoni, esteve na Câmara Municipal de Itabira nessa terça-feira (2) para apresentar os planos de expansão do campus local, instalado no Distrito Industrial Maria Casemira Andrade Lage.
Em tom otimista, Parentoni anunciou a abertura de novos cursos e investimentos que devem praticamente dobrar o número de graduações oferecidas na cidade nos próximos anos.
Segundo ele, já estão aprovados para 2026 os cursos noturnos de Ciência da Computação e Inteligência Artificial, além de uma terceira graduação ainda em estudo, que poderá ser em Ciência de Dados ou Robótica, prevista para 2027. “Será a primeira vez que a Unifei ofertará cursos noturnos em Itabira, atendendo a uma demanda local e regional”, afirmou.
A expectativa é que o campus passe de 11 para cerca de 22 cursos, com impacto estimado na economia local de R$ 35 milhões anuais em custeio federal e a contratação de dezenas de novos docentes e técnicos. Atualmente, o campus local tem pouco mais de 2 mil estudantes.
Licenciaturas limitadas às exatas e apagão de professores
Apesar do anúncio positivo, Parentoni deixou claro que as licenciaturas previstas se restringem às áreas de Física, Química, Matemática, Biologia e Pedagogia. A ausência de cursos em Humanas contraria a reivindicação histórica da cidade, que enfrenta um apagão de professores.
Em setembro, o professor Fabrício Batista, diretor da Escola Estadual Antônio Linhares Guerra, alertou na tribuna da Câmara que “Itabira vive um apagão de professores”. Batista defendeu a criação de licenciaturas em Letras, História e outras áreas para a formação de novos docentes. Sem essa diversificação, o campus de Itabira permanece voltado apenas às ciências exatas, sem se consolidar como um verdadeiro campus universitário.
Outro ponto a lamentar foi a confirmação, em recente entrevista coletiva com o reitor, de que o pedido de abertura do curso de Medicina, protocolado junto ao MEC em 2014, não é mais prioridade da Unifei.
Na coletiva, Parentoni justificou que já existe o curso de Medicina no UniFuncesi, instituição privada da cidade. Segundo ele, não seria adequado abrir concorrência. A explicação foi recebida com críticas, já que uma universidade pública não concorre com uma privada, mas complementa a oferta educacional.
Itabira já teve cursos de licenciatura em todas as áreas com a antiga Faculdade de Ciências e Letras de Itabira (Fachi), fechada nos anos 1990. Cursos como Letras, Estudos Sociais e Exatas foram transferidos para a Funcesi. E foram encerrados gradativamente, em parte pela falta de interesse de estudantes na formação docente – e também pelo perfil comercial da faculdade privada, que tem muito pouco de comunitária, figurando apenas no nome.
Vozes do Legislativo
O pronunciamento do reitor foi seguido por manifestações dos vereadores, que destacaram tanto os avanços quanto as lacunas da expansão da Unifei em Itabira.
O presidente da Câmara, vereador Carlos “Sacolão” Henrique Silva Filho (Solidariedade), afirmou que “a Unifei é um dos pilares do desenvolvimento econômico de Itabira”. Ele garantiu que a Casa estará sempre aberta para apoiar a universidade.
Já o vereador Bernardo de Souza Rosa (PSB) reforçou a necessidade de se ter em Itabira alojamento estudantil custeado pela universidade, como meio de diminuir a evasão escolar. Para isso, sugeriu transformar casarões históricos em repúblicas, a exemplo de Ouro Preto.
“Construirmos novos prédios (no campus) sem alunos não faz sentido. Se não tivermos moradia, vamos continuar perdendo estudantes. Os casarões tombados podem ser aproveitados para abrigar jovens e evitar a evasão”, defendeu.
Rosa ampliou a proposta ao lembrar que Itabira possui um patrimônio arquitetônico no centro histórico, que tem promessa ainda não cumprida de revitalização, podendo servir como solução de hospedagem para a permanência estudantil. “É uma forma de preservar nossa história e garantir que os estudantes fiquem na cidade, dando vida ao nosso centro histórico”, completou.

Reconhecimento político e críticas ao passado
O vereador Rodrigo “Diguerê” Alexandre Assis Silva (MDB) destacou que “Itabira tem o privilégio de abrigar a melhor universidade tecnológica do Brasil”. Ele defendeu maior aproveitamento da mão de obra qualificada da instituição, para que permaneça na cidade e contribua com o desenvolvimento local.
O vereador Heraldo Noronha Rodrigues (PRB) fez questão de ressaltar que o campus da Unifei em Itabira só existe graças aos governos petistas.
“Foi Dilma Rousseff quem aprovou a instalação da Unifei em Itabira, e agora é o presidente Lula quem garante a expansão. No governo anterior, nada foi feito”, criticou, em referência ao governo de Jair Bolsonaro (PL), que congelou e até restringiu os investimentos federais no ensino superior.
O vereador Elias dos Reis de Lima (Solidariedade) relacionou a importância da Unifei investir em tecnologia à saúde, citando sua própria experiência com cirurgia robótica. “Investir em tecnologia é investir na vida. Eu mesmo passei por uma cirurgia de próstata feita por robótica, com cortes precisos. É esse futuro que precisamos trazer para Itabira”, apoiou.
Por seu lado, o vereador oposicionista Luiz Carlos de Souza (MDB) protagonizou o único momento tenso da sessão. Ele tentou obter do reitor um endosso às críticas que tem feito ao prefeito Marco Antônio Lage (PSB), que tem afirmado, reiteradamente, que a Unifei “ainda não aconteceu em Itabira”, por não ter ainda entregado o que por ocasiã de sua instalacao na cidade, em 2008.
A estratégia de tentar jogar o reitor contra o prefeito, no entanto, saiu pela culatra. Parentoni não endossou as críticas ao chefe do Executivo, como também admitiu que tem críticas às gestões anteriores da própria universidade.
Sem citar nomes, acabou reforçando o discurso do prefeito ao mencionar o desinteresse pelo campus local por parte dos ex-reitores Dagoberto Alves de Almeida e Edson da Costa Bortoni – esse último nomeado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, mesmo figurando em terceiro lugar no escrutínio realizado nos campi de Itabira e Itajubá.
Nesse ponto, o vereador Carlos Henrique de Oliveira (PDT) interveio de forma enfática para evitar que a fala fosse interpretada como uma crítica direta ao governo municipal.
“É importante deixar claro que o reitor não está criticando o prefeito, mas sim apontando falhas de gestões passadas da Unifei. A Prefeitura tem sido parceira nesse processo”, afirmou, reforçando o tom de parceria institucional.
Evasão estudantil e permanência
A vereadora Jordana Madeira Dias (PDT) também questionou sobre a evasão estudantil, que tem sido alta no campus de Itabira. Parentoni respondeu citando a criação da Pró-Reitoria de Apoio à Permanência e a redução do preço da refeição no restaurante universitário para R$ 6,25.
E admitiu: “Muitos alunos desistiam por não conseguir se sustentar. Estamos trabalhando para mudar essa realidade”, afirmou o reitor.
Ele reconheceu que a evasão de estudantes é um problema grave, causado principalmente pela falta de alojamento e pelo alto custo de vida em Itabira. “Não adianta abrir cursos se não mantemos os estudantes aqui”, reforçou.
A criação da Pró-Reitoria e a redução do preço da refeição foram destacadas como avanços, mas os vereadores cobraram soluções mais estruturais, como repúblicas estudantis no centro histórico, mais melhorias no restaurante universitário e no transporte coletivo.
Ênfase nas Exatas frustra
O pronunciamento do reitor mostrou avanços objetivos e investimentos significativos para o campus de Itabira.
No entanto, a ausência de cursos em Humanas e o abandono do pedido de Medicina reforçam a percepção de que a Unifei em Itabira continua sendo apenas um campus avançado em exatas, sem atender plenamente às demandas da cidade por diversificação acadêmica pela universidade federal.
O desafio agora é transformar o campus da Unifei em um verdadeiro polo universitário, capaz de formar profissionais em todas as áreas do conhecimento, além de atender às necessidades educacionais e sociais da região.
Só assim Itabira terá efetivamente um campus universitário, como historicamente muitos têm sonhado sem que ainda tenha se tornado realidade. Utópico? Pode ser, mas é a utopia que faz a história avançar.









