Abertura de curso de Medicina em Itabira pela Unifei aguarda aprovação do MEC desde 2014, confirma chefe de Gabinete da universidade
Fotos: Carlos Cruz
Protocolado no Ministério da Educação em 2014, o pedido de abertura do curso de Medicina para o campus de Itabira da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), na mesma época em que foi também solicitado e posteriormente aberto o curso do UNIFuncesi, com apoio da Prefeitura e também da mineradora Vale, segue em compasso de espera para ser aprovado.
Questionado pela reportagem deste site Vila de Utopia, o prefeito Marco Antônio Lage disse que irá pessoalmente fazer gestão junto ao ministro da Educação, Camilo Santana, para ver qual é a situação e a possibilidade de aprovação do curso de Medicina também pela Unifei.
Para isso, disse que deve se encontrar com o ministro nos próximos dias, quando abordará também a necessidade de agilizar a aprovação de outros cursos e investimentos federais no campus universitário de Itabira
Disse o prefeito que fará tratativas com a mineradora Vale para que invista também no curso de Medicina da Unifei. A expectativa é que a Vale aloque recursos para a instalação dos laboratórios, a exemplo do que fez com o curso de Medicina do UNIFuncesi, como também quando investiu nos laboratórios dos cursos de engenharia da própria Unifei.
Segundo Marco Antônio Lage, o curso de Medicina da Unifei ainda não foi aprovado em decorrência da política do ex-presidente Jair Bolsonaro, que deixou de investir recursos federais em novos cursos superiores.
“Agora, com o governo Lula, acredito que é o momento para insistir na abertura desse curso, que será de grande importância para o desenvolvimento e diversificação econômica de Itabira na área de saúde”, considera o prefeito.
Marco Antônio observa que o campus local da Unifei dispor de pouco mais de 2 mil alunos é muito pouco para o propósito da própria universidade – e também pelo montante de recursos já investidos pela Prefeitura na construção dos prédios da universidade em Itabira e em outros convênios com o município.
No total, Itabira já alocou no campus da Unifei recursos da ordem de R$ 129 milhões, assim distribuídos, em valores não corrigidos: R$ 12,4 milhões pela gestão de João Izael, mais R$ 47,9 milhões com Damon Lázaro de Sena, enquanto no governo de Ronaldo Magalhães foram investidos R$ 14 milhões.
A esses valores se somam mais R$ 54,8 milhões alocados na universidade pela atual administração em convênios diversos e na construção dos três novos prédios, ainda não concluídos, em parceria com a mineradora Vale.
Recursos da União são contrapartidas necessárias e urgentes
Falta, portanto, à União que tem a obrigação constitucional de investir no ensino superior, apresentar uma contrapartida maior a todos esses investimentos, que não seja apenas por meio da manutenção do corpo docente, pagando os salários e encargos com os professores dos poucos cursos de engenharia já instalados, assim como dos demais servidores federais.
“Vamos fazer gestão para o governo federal liberar os novos cursos, além dos recursos para contratar mais professores para o campus de Itabira. Com Vale, a ideia é que a empresa financie os laboratórios dos novos cursos, inclusive de Medicina, como fez na Funcesi”, reivindica o prefeito.
“A Prefeitura já está dialogando com governo federal sobre o projeto de expansão do campus da Unifei e a implementação de novos cursos para Itabira”, adianta o prefeito.
De acordo com o prefeito, os argumentos centrais estão ancorados na necessidade de diversificar a economia itabirana, assim como no alinhamento com as novas prioridades nacionais estabelecidas pelo governo Lula. “O curso de Medicina está incluído na nossa pauta de reivindicação junto ao governo federal, com expectativa de aprovação até 2028”, projeta Marco Antônio Lage.
Esse prazo, segundo ele, é necessário para a Unifei se preparar para receber cursos fora das ciências exatas, hoje diretriz quase absoluta da Unifei. “Queremos dispor em Itabira de um campus universitário diversificado, com cursos em todas as áreas do conhecimento, e não somente um campus reunindo faculdades de engenharia”, diz Marco Antônio Lage.
“Itabira é historicamente dependente da mineração e está em um momento crítico de transição econômica. A conclusão do campus da Unifei é peça fundamental nesse processo, para que seja criado no município um polo educacional de alta qualidade que atraia estudantes e professores, mas também que impulsione o setor de serviços e inovações tecnológicas na região”, acrescenta o prefeito de Itabira.
O que diz a Unifei
O chefe de gabinete da reitoria da Unifei, professor Paulo Sizuo Waki, confirma que o projeto do curso de Medicina para o campus de Itabira foi protocolado em 2014 no MEC.
Ele conta que o pedido “foi precedido de ampla negociação com o ministério para que fosse incluído, uma vez que o prazo no âmbito do Reuni havia se esgotado em 2012”
Reuni é o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, cujo objetivo é ampliar o acesso e a permanência dos estudantes na educação superior.
É por meio do Reuni que o governo federal adota medidas para retomar o crescimento do ensino superior público, promovendo a expansão física, acadêmica e pedagógica das universidades federais no Brasil.
Idas e vindas
“Antes de 2014, a direção da Unifei havia decidido que não iria criar cursos de Medicina em Itajubá e Itabira, pois entendia que deveria se manter como uma universidade especializada na área tecnológica”, recorda o chefe de gabinete, que acrescenta:
“Em 2014, atendendo solicitações de vários setores das comunidades itajubenses e itabiranas, decidiu-se que a Unifei deveria viabilizar cursos de Medicina nos dois campi. Foi quando, em dezembro daquele ano, protocolamos os dois projetos em Brasília, entregues em mãos ao ex-secretário-executivo do MEC Luiz Cláudio Costa, na presença do deputado federal Reginaldo Lopes”, recorda Paulo Waki.
Na sequência, com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o país viveu um momento conturbado, quando projetos de criação de novos cursos foram deixados de lado no âmbito federal.
Vagas e parcerias
De acordo com o chefe de Gabinete da Unifei, o projeto do curso de Medicina para o campus de Itabira prevê a abertura de 50 vagas por ano, com contratação do corpo docente e de servidores técnico-administrativos. “Para as aulas práticas e de residência médica, o projeto prevê parcerias com os hospitais Carlos Chagas e Nossa Senhora das Dores”, conta Paulo Waki.
Ainda de acordo com ele, em 2020 a administração da Unifei voltou a protocolar junto ao MEC o pedido de instalação de cinco novos cursos para o campus de Itabira, entre eles o curso de Medicina, que ainda precisa ser adequado às novas diretrizes curriculares que passaram a vigorar.
“Em 2021, a administração da Unifei entrou em contato com os institutos do campus de Itabira, solicitando que os projetos protocolados fossem refeitos, pois os que havia não estavam em condições de ser tramitado internamente e nem enviado ao MEC em caso de aprovação pelas instituições universitárias”, acrescenta Waki.
Conforme relato do professor, quatro dos cinco projetos foram refeitos, mas ainda é preciso refazer o projeto do curso de Medicina, além de se ter o empenho da Prefeitura e também da Vale para a sua aprovação. “Esses apoios são muito bem-vindos e imprescíndiveis”, afirma.
“Dos quatro projetos refeitos, somente o curso de Matemática Tecnológica teve o seu projeto enviado ao MEC e já se encontra em condições de ser implantado de imediato. Os outros três dependem de contratações de novos docentes. Estão aprovados pelo Consuni (Conselho Universitário), mas aguardam a liberação de novas vagas de docentes pelo MEC”, informa o chefe de gabinete da reitoria da Unifei.
Para o curso de Medicina, segundo ele, há ainda a necessidade de se refazer grande parte do projeto, adequando-o às novas diretrizes curriculares, além de ser atualizado para contemplar o novo cenário da educação brasileira e mundial pós-pandemia.
“O curso de Medicina está em compasso de espera, necessitando de revisão do seu projeto pedagógico para ser tramitado internamente na Unifei e ser reenviado ao MEC”, acrescenta.
O que diz a Vale sobre investimentos na Unifei
“A ampliação do campus da Unifei é uma iniciativa conjunta entre a Vale, a universidade e Prefeitura de Itabira, que visa a implementação de um hub de educação e tecnologia, com o objetivo de criar oportunidades de diversificação econômica, por meio de ações de incentivo à educação e inovação.
A Vale esclarece que segue as premissas do convênio firmado com a prefeitura de Itabira, formalizado em abril de 2020, e está em dia com os repasses conforme os avanços realizados (na construção dos três novos prédios, nr). Importante reforçar que os repasses são vinculados à execução das etapas do projeto bem como à prestação de contas da realização das atividades.
A Vale informa, adicionalmente, que segue apoiando iniciativas que promovam o desenvolvimento sustentável no município.
O plano estratégico Itabira Sustentável é um esforço coletivo liderado pela Prefeitura, com apoio da Vale, de empresas do setor privado e com forte participação da sociedade civil, cujo objetivo é criar estratégias para diversificação e fortalecimento da economia. Áreas como saúde, educação, meio ambiente e infraestrutura são priorizadas”.