Uma Europa de mal a pior

Imagem: Freepik
Veladimir Romano*

Se a geografia europeia fosse uma sala, já ninguém ia poder respirar de tanto baço inflamado envenenando o éter, uma Europa olhando o crescente da sua própria confusão, extremas direitas aumentando influência desabrida nos parlamentos, ocupando espaço privilegiado nos governos e aumentando a influência na política.

Depois, escândalos diplomáticos caso não cheguem, a perturbação bélica ocupando noticiários de maneira obsessiva e uma Itália reclamando da sua dívida, a maior de todos os países membros da União chegando a mais de 150% do PIB e a externa ultrapassando 247 bilhões de euros.

Simplesmente uma Europa assustadora e um futuro comprometido, com a Holanda se envolvendo diplomaticamente com quem não deve, desafiando a paciência da Nicarágua por causa da religião; holandeses que há muitas gerações deixaram de alimentar interesse pelo pensamento doutrinário.

O governo das tulipas só procurou sarna para se coçar levando troco de Manágua. Na Letônia a direita afinou e ganhou eleição parlamentar, na Suécia o futuro ao centro [apoiado no seu longo histórico] pela primeira vez levando o novo partido da extrema direita ao palco da governação.

A Bulgária, mergulhada num imenso oceano de corrupção, em dois anos vota quatro vezes. Ficamos por saber se vai durar, mas uma coisa vai eclodir: a revisão total da suposta entrada da mesma Suécia no clube dos belicistas de Bruxelas onde fica a sede da OTAN, enquanto na Áustria o mesmo presidente ficou com maioria [mal menor] contra candidato da extrema direita e um governo conservador considerando que a Europa anda vivendo uma “authentischer Verrücktheit” [autêntica loucura].

Embora o governo do primeiro-ministro Olaf Scholz tenha decretado fabulosa fortuna de 200 bilhões de euros cobrindo os dias que virão e assim o povo não passe falta enquanto o problema da energia não encontrar a melhor solução; mas esse mesmo povo já anda na rua. Direita, centro, esquerda e sem falta, a extrema neonazista, não deixou escapar uma clara oportunidade para reclamar exigindo outra política com parada da guerra.

Não tarda a Europa dos 27 terá seus dias de perturbação com povos ocupando ruas e avenidas reclamando pelo fim de um conflito que nunca devia ter começado, políticos sendo mais responsáveis com suas decisões deixando uma absurda submissão aos ditames dos Estados Unidos.

Só prejuízo e preconceito, ruína desbravando não apenas na Ucrânia onde a destruição atingiu 300 bilhões em danos, mas uma Comissão Europeia que não parece preocupada quando a Itália não cresce economicamente há 20 anos.

Na disputa entre França e Espanha, um, querendo fazer com que o gás argelino também seja negocio garantido para o centro da Europa e, gauleses, querendo defender seus euros vendendo energia das suas usinas nucleares, vai dando pano a muito saiote com a líder escocesa [Nicola Sturgeon] aprontando novo referendo, desta vez para sair fora da velha guarda Britânica para reentrar na União Europeia, é o fito; só faltava mesmo a Polônia vir agora em momento nevrálgico relembrar velhas feridas da Segunda Grande Guerra pedindo pagamento de mais de um bilhão de euros aos alemães: é assim que se tem uma Europa de mal a pior.

*Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-cabo-verdiano.

 

 

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2 Comentários

  1. Veladimir, você é essencial na Vila de Utopia, obrigada. Acho que da velha oropa sobrou o nosso querido Portugal.
    Aqui no Brasil, a conjuntura política é assustadora, como uma bomba de pataco a extrema direita encontrou nas redes sociais o elo pra se infiltrar com sucesso.

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