Uma complicada equação africana
Foto: ORTN/Reuters/ Via BBC News
Golpe de Estado na Niger foi anunciado na televisão nacional pelo porta-voz do Exército, coronel Amadou Adramane
Veladimir Romano*
O golpe militar no Níger [mais de um milhão de quilômetros quadrados para 14 milhões de habitantes] depondo o chefe da nação, com lance iniciado pela mesma guarda presidencial liderada pelo general Omar Tchiani, confirma incisões contra o governo com pouco mais de trinta meses no poder – e perturbou principalmente a França, Inglaterra e Estados Unidos.
Terra explorada pelas suas riquezas onde o estanho, ouro e o apetecido urânio, alimentador destas nações que inclusivamente sentaram tropas em território estranho [EUA, Inglaterra e França, com bases próprias juntam 3.880 soldados], assistem ao espetáculo de ver um povo na sua maioria saindo nas ruas defendendo ao que chamam “revolução”.
Ao deixar o presidente Mohamed Bazoum (1959-) governar o país desde 2021, a corporação castrense seguindo exemplos vizinhos do Mali, quer Burquina Faso, acusando o governo e presidente de “corrupção”, “má administração” e “traição”, fizeram saber da devolução do país ao estado civil somente dentro de três anos.
Trata-se de uma situação “inaceitável”, segundo organismos internacionais ameaçando com “invasão militar”, particularmente o grupo de países da região ocidental: CEDEAO/ECOWAS…
Logo, sinais exagerados que deveriam estar preocupando determinadas nações que sempre se destacam nessas horas como campeões de supostas democracias defendendo Direitos Humanos.
Estranho que a própria ONU, já que da União Africana pouco se espera para não fugir ao habitual panorama de um organismo carregado pela incompetência, com desleixo e ausência de poder… nunca tendo soluções.
Doadores daquilo que parecem generosas “ofertas”, chegam anualmente 900 milhões de euros ao país com o segundo pior índice do desenvolvimento humano [da Carta das Nações Unidas]… naquela de alguns observadores independentes: «fartura envenenada» quando no retorno das vendas só do urânio, o Níger apenas recebe 2% desse lucro.
Governos anteriores desde 2011 foram reclamando pelo menos margens de 22%. Este Níger que foi colônia francesa desde 1897-1960, nunca deixou de ceder riquezas ao monopolismo das multinacionais, dando origem a outros golpes no passado.
Com isso, somam perturbações, incomodam e desacertam uma complicada equação africana, aqui, pelo menos através da extração do que representa a riqueza do urânio na 7ª posição mundial com 4 mil toneladas/ano; recebe a França 24%, 15% para EUA, Inglaterra com 10% e restantes percentagens comercializadas pelas mesmas detentoras da exploração.
Cercado por sete países numa vizinhança complicada, ameaças dos mais afoitos e violentos como a Nigéria, prometendo resolver o assunto na lei do fuzil.
Se assim for, será abrir portas a mais uma carnificina da qual o continente deveria rejeitar com todas as suas forças, antes trabalhar para novos horizontes, liquidando essa tendência de abrir abismos resultando em mais fome, miséria, avalanches migratórias depois mal recebidas por aqueles que continuam de forma encapotada praticando sistemas oportunistas e com queda colonizante.
*Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-cabo-verdiano.
Dali, volta e meia, só nos chega mais uma notícia desta mesma, só mudam os personagens.
A cantilena ou história não muda.
É a tragédia constante da África subsaariana.