Trabalhadores da Vale aprovam PLR que exclui afastados por doença e muda base de cálculo
Mesmo com forte críticas da direção do sindicato Metabase de Itabira, por 322 votos favoráveis, 185 contrários e quatro em branco, trabalhadores da Vale aprovaram, em duas assembleias realizadas nessa quinta-feira (24), a proposta patronal de Participação dos Lucros e Resultados (PLR), a ser paga em 2020. Foi mantida a variação entre um e sete salários para o trabalhador na ativa.
A votação da PLR dos trabalhadores da Vale é acompanhada atentamente pelo comércio itabirano, que investe em propaganda para atrair esses “privilegiados” consumidores para as suas ofertas, principalmente imóveis e veículos.
Pela PLR aprovada no ano passado – e que será paga em 1º de março – a projeção é de que será pago um montante próximo a R$ 50 milhões, com cada um dos 3,5 mil trabalhadores da empresa no complexo local recebendo uma média de 6,5 salários.
Segundo o presidente do Metabase, André Viana, o teto dificilmente é alcançado. “Eu não conheço quem tenha recebido sete salários de PRL.”
Exclusão
Viana criticou também a exclusão do recebimento da PLR, e que deve ocorrer no próximo ano, do trabalhador afastado por mais de 12 meses por motivo de saúde, excluídos os licenciados por acidente de trabalho e as trabalhadoras em licença maternidade.
“Essa decisão é desumana. A pessoa não escolheu ficar afastada e deixará de receber esse benefício em um momento de grande dificuldade.”
Outra critica do sindicalista recai sobre o pagamento da PLR de forma diferenciada. Para o sindicalista, o certo seria distribuir os lucros entre os empregados como fez a Volkswagen no ano passado, que pagou a todos indistintamente, do presidente ao chamado “chão de fábrica”, R$ 27 mil referentes à participação nos lucros. “O nosso sonho é ver o lucro ser dividido por igual. Eu nunca vi um empregado aqui em Itabira receber PLR de sete salários.”
Metodologia
Os sindicalistas veem também com desconfiança a mudança de metodologia para efeito de cálculo da PLR. Pela proposta aprovada, sai o chamado Fluxo de Caixa Operacional (FCO e entra o Ebtida (Earnings before interest, taxes, depreciation and amortization), que é calculado antes do pagamento de juros, impostos e amortizações, a exemplo do que já ocorre com as ações negociadas nas Bolsas de Valores.
”Precisamos nos manter vigilantes e não contar com a sorte, pois o mercado muda constantemente”, adverte o vice-presidente do Sindicato Carlos Estevam, o Cacá. “Uma crise na China pode afetar a todos indistintamente.”
Essa mudança foi criticada pelos sindicalistas, embora a empresa tenha assegurado que não irá alterar o montante a ser pago no próximo ano.
“A proposta da Vale substitui indicadores supostamente para proteger a PLR futura quanto às variações proporcionadas pelo aumento de impostos e tributos. E também anula o efeito de aumento nos volumes de estoques de minério nos pátios. Mas há algo de estranho no ar. Se nada muda no valor final, então para que mudar?”, questionou André Viana.
Unidade
O vice-presidente Cacá lamentou o fato de não haver unidade dos sindicatos dos trabalhadores da Vale. “Essa divisão nos enfraquece e só interessa à empresa”, avaliou. Em consequência, diz, quem perde é o trabalhador.
“O que tenho observado nos últimos anos é a precarização do trabalho. Nunca vejo essa valorização que a empresa tanta exalta. Essa precarização tira a dignidade dos homens de ferro, que mesmo assim não abaixam as cabeças.”
Para fazer frente a essa situação, o sindicalista só vê uma saída, que é a unidade do movimento sindical dos trabalhadores da Vale.
“Temos hoje dois sindicatos brigando com a Vale pelos direitos dos trabalhadores. Somos nós e o sindicato de Congonhas, Precisamos unificar nossas lutas, pois cada sindicato lutando isoladamente só enfraquece a categoria”, é o que ele propõe para o encaminhamento das futuras negociações com a empresa.