Sirenes são acionadas em comunidades de Barão de Cocais. Em Itabira, moradores nem sabem se esses equipamentos já estão funcionando

Nas comunidades de Socorro, Tabuleiro e Piteiras, todas situadas no município de Barão de Cocais, as sirenes foram acionadas preventivamente às 2h desta sexta-feira (8), depois de ser estabelecido o nível 1 do Plano de Ação de Emergência para Barragens de Mineração (PAEBM).

Mina desativada de Gongo Soco, em Barão de Cocais, com a barragem: sinal de alerta (Fotos: Divulgação/Vale)

O acionamento ocorreu em decorrência de risco de rompimento da barragem Sul Superior, da mina de Gongo Soco, que fica no município vizinho. Barragem e mina estão desativadas.

De acordo com nota distribuída pela Vale, cerca de 500 pessoas dessas comunidades que ficam abaixo da barragem, foram retiradas de suas residências por precaução e encaminhadas para o ginásio poliesportivo local, onde serão temporariamente abrigadas.

A prefeitura de Barão de Cocais informa que a medida foi tomada por recomendação da Agência Nacional de Mineração (ANM) – e também após monitoramento realizado pela Defesa Civil de Minas Gerais. A informação é de que houve desnível da estrutura da barragem, daí a necessidade dessa ação preventiva.

De acordo com nota distribuída à imprensa pela Vale, a evacuação de moradores ocorre após a de consultoria Walm negar a Declaração de Condição de Estabilidade da estrutura da barragem (leia íntegra da nota da mineradora no final desta reportagem).

Em Itabira, moradores estão preocupados e com medo

Moradores de regiões que podem ser afetadas pelas maiores barragens de rejeito de minério (Pontal e Itabiruçu) em Itabira estão preocupados – e assustados. É que eles nem sabem se as sirenes instaladas pela Vale já estão funcionando, uma vez que ainda não teve início os treinamentos de acordo com o PAEBM.

Conforme afirmou a secretária municipal de Meio Ambiente, Priscila Braga Martins da Costa, na reunião dessa quinta-feira (7) do Conselho Municipal de Defesa Ambiental (Codema), o PAEBM já foi implantado em todos os municípios onde a Vale mantém suas atividades mineradoras, menos em Itabira. “Aqui temos uma população maior e muito mais barragens”, disse ela, tentando justificar esse atraso, sem sucesso.

Priscila Martins da Costa disse em reunião do Codema que população não deve agir com emoção, mas com razão (Foto: Carlos Cruz)

Isso porque, se foi mesmo esse motivo do atraso, deveria ter sido justamente o contrário. Se Itabira tem um maior número de moradores que pode ser afetado, a empresa deveria ter priorizado essa implantação, realizando os treinamentos necessários não só com os que moram em áreas de risco, mas com todos que residem na cidade.

Ainda de acordo com a secretária municipal de Meio Ambiente e presidente do Codema, o plano de emergência já está pronto desde maio do ano passado – e encontra-se à “disposição da comunidade para consulta em nossa Secretaria e na Defesa Civil, na Prefeitura.” Como assim, não deveria já ter sido amplamente divulgado?

Disse ainda que o treinamento simulado com moradores terá início nos próximos dias, conforme foi prometido pela mineradora. “O plano já existe e foi elaborado com a Defesa Civil de Minas Gerais, respeitando a legislação pertinente. De fato a situação é preocupante, mas não podemos levar esse assunto pela emoção e sim pela razão”, disse a secretária na reunião de ontem do Codema.

Ela só não explicou como os moradores devem deixar de agir pela emoção, privilegiando a razão após os últimos acontecimentos, inclusive com o acionamento de sirenes e retirada de moradores de áreas de risco em Barão de Cocais. E, ainda, diante das denúncias de que as barragens de Itabira também apresentam problemas estruturais, sem que a empresa tenha dado explicações até mesmo para tranquilizar a população.

Ausência

Na reunião de ontem do Codema nenhum representante da Vale compareceu, fato raro desde que o órgão ambiental foi instalado no município, em 1983. Em nota enviada ao órgão ambiental municipal, a mineradora justificou a ausência de seus representantes “em virtude das atividades de suporte a Brumadinho”.

Na mesma justificativa da ausência, assinada pela supervisora de Controle e Tecnologia Ambiental, da Gerência de Meio Ambiente, Cristiane Cardoso, a empresa informa ter criado um grupo de trabalho que apresentará um plano para elevar o padrão de segurança das barragens de Itabira “para além daquelas praticadas com referências mundiais”.

Informa ainda que após o rompimento da barragem de Córrego do Feijão, em Brumadinho, foram feitas inspeções em todas as suas barragens no município. “Elas se encontram em absoluta normalidade e seguimos acompanhando de perto cada uma delas”, assegurou.

Vale informa sobre barragem Sul Superior da mina Gongo Soco, em Barão de Cocais (MG)

A Agência Nacional de Mineração (ANM) determinou a evacuação de área à jusante da barragem Sul Superior da mina Gongo Soco, em Barão de Cocais (MG), depois de ser informada pela Vale que a empresa estaria dando início ao nível 1 do Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração (PAEBM).

A Vale ressalta que a decisão é preventiva e aconteceu após a empresa de consultoria Walm negar a Declaração de Condição de Estabilidade à estrutura.

A ação teve início na madrugada de hoje (8/2) e vai abranger cerca de 500 pessoas nas comunidades de Socorro, Tabuleiro e Piteiras, todas situadas na cidade de Barão de Cocais, distante 100 km de Belo Horizonte.

Como medida de segurança, a Vale está intensificando as inspeções da barragem Sul Superior. Também será implantado equipamento com capacidade de detectar movimentações milimétricas na estrutura. A Vale está trazendo consultores internacionais para fazer nova avaliação da situação no próximo domingo (10/2).

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5 Comentários

  1. Alguns diretores da Interassociação dos Amigos dos Bairros de Itabira também participaram da reunião do Codema, inclusive a presidente da Interassociação, Maria das Graças Felipe de Lélis (Dadá), que protocolou um ofício solicitando ao Codema informações sobre as condições das barragens de Itabira, principalmente com relação à segurança dessas barragens, e também lembrando a necessidade de o Município (a Prefeitura) retomar o processo de elaboração do Plano Municipal de Contingência para Barragens, que está interrompido desde o início de 2017.
    No ofício, a presidente cita as discussões ocorridas na Reunião Ordinária da Interassociação realizada no último domingo, quanto vários líderes comunitários apresentaram suas preocupações com os riscos de ocorrência de alguma tragédia nas barragens de Itabira. Durante a reunião foi definido que a diretoria da Interassociação entraria em contato com as autoridades municipais e com a mineradora Vale S/A para solicitar informações e providências necessárias para que não ocorram aqui tragédias semelhantes às que aconteceram em Mariana e Brumadinho.
    Para saber mais sobre a reunião do último domingo, sobre o ofício ao Codema protocolado na Secretaria Municipal de Meio Ambiente e sobre as demais atividades da Interassociação basta entrar em contato pelo telefone (31)3834-0874.

  2. Eu acho que é impossível depois de duas tragedias a população agir só com a razão . Somos seres humanos cuja emoção existe Principalmente nesta situação . Se a Vale não dá uma explicação segura, a emoção supera a razão .

  3. Texto proferido pela secretária. De acordo com a secretária municipal de Meio Ambiente e presidente do Codema, o plano de emergência já está pronto desde maio do ano passado – e encontra-se à “disposição da comunidade para consulta em nossa Secretaria e na Defesa Civil, na Prefeitura”.

    Se existe esse plano de emergência desde maio de 2018, porque as emissoras de rádio da cidade não faz esse divulgação para população? E olhe que algumas dessas emissoras são pagas pela prefeitura de Itabira.

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