Segredo subterrâneo: corpo de hematita na mina Conceição é guardado a sete chaves

Foto: Acervo ViladeUtopia

Carlos Cruz

Estudos e pesquisas geológicas recentes realizados pela mineradora Vale, e mantidos em sigilo, porém nem tanto, indicam a presença de um corpo de hematita rica nas profundezas da cava da mina Conceição, em Itabira, com potencial de exploração futura por meio de lavra subterrânea.

Esse veio subterrâneo está localizado abaixo do itabirito duro, uma situação rara na geologia. Ele representa uma possibilidade promissora de prolongar a vida útil do Complexo de Itabira e manter a sua capacidade de produção de concentrados de minério de ferro por mais tempo.

Segundo informações fornecidas por um engenheiro de minas aposentado da Vale, que trabalhou na região e pede para não ser identificado, esse corpo de hematita possui características geológicas peculiares.

“Esse corpo de hematita se encontra em uma formação invertida, explicada por processos vulcânicos e falhas tectônicas, diferindo dos depósitos superficiais já exauridos. Por sua localização em áreas de difícil acesso, a exploração a céu aberto é inviável devido às limitações geotécnicas, como a inclinação dos taludes, e aos elevados custos de ampliação da cava.”

Apesar disso, ele explica que a utilização de técnicas de mineração subterrânea, similares às empregadas na mina de ferro Kiruna, na Suécia, poderia viabilizar economicamente a lavra desse minério de alta qualidade.

Essa possibilidade já foi apontada como potencial futuro em análises realizadas por especialistas, incluindo o engenheiro Antônio Carlos Pereira da Rocha em sua dissertação de mestrado na UFOP, que pode ser lida aqui.

“Embora a tese não cite diretamente o corpo de hematita, imagens e dados sugerem a existência do depósito, descrito visualmente com tonalidade vermelha vibrante, contrastando com o itabirito duro (representado na cor azul).”

Mapa geológico do depósito. Na cor vermelha estão os corpos de hematita Fonte: Vale (2011).

Mineração subterrânea

Além disso, a Vale já possui experiência em mineração subterrânea, como na mina de Corumbá, no Mato Grosso do Sul, onde foram implementadas tecnologias avançadas. Essa expertise pode ser fundamental para o sucesso de projetos futuros em Itabira, caso seja viável a exploração desse veio de hematita sob o ponto de vista econômico, geológico e ambiental.

“A adoção de um modelo de lavra subterrânea, como o de Kiruna ou de Corumbá, seria inovadora na história recente da mineração em Itabira”, um geólogo aposentado da Vale ouvido pela reportagem e que confirma a existência desse corpo de hematita abaixo dos itabiritos na mina Conceição.

Em mais de 82 anos de extração e beneficiamento em escala ininterrupta de minério de ferro, o complexo minerador local já percorreu três ciclos tecnológicos: extração e exportação de hematita nos primeiros anos, concentração de itabiritos friáveis a partir da década de 1970 e beneficiamento com prévia moagem de itabiritos compactos, iniciada em meados da década passada.

“É assim que outros ciclos ainda podem ser desencadeados com os rejeitos de minério e também com o corpo subterrâneo de hematita”, vislumbra esse mesmo geólogo. Ele conta que esse corpo de hematita sai da Mina Conceição em direção às Minas do Meio, sem extrapolar o pit dessas minas. Ou seja, “caso a sua exploração seja viabilizada sob os pontos de vista técnico, econômico e ambiental, a mina subterrânea não avançará por baixo da cidade”, tranquiliza.

Segundo ele, além de prolongar a atividade mineradora, a exploração subterrânea dessa hematita pode estabelecer um marco na exploração sustentável de recursos minerais no distrito ferrífero. Isso porque, por se tratar de um minério de ferro concentrado, semelhante ao que era encontrado no pico Cauê, não gera material estéril, com rejeitos também em volume bem menor em relação aos itabiritos.

Além disso, por ser já área minerada, o licenciamento ambiental é mais fácil, diferentemente do que tem sido em novos territórios ainda não impactados, somando-se ainda toda a infraestrutura minerária já existente no município.

A exploração dessa lavra subterrânea, que não gera poeira diferentemente do que ocorre em lavras a céu aberto, como em Itabira, pode integrar automação e robótica para aumentar a segurança e eficiência, como observado em minas subterrâneas de sucesso ao redor do mundo.

Seção geológica vertical. Fonte: Vale (2011). “Esse perfil mostra a superfície antiga, uma curva côncava superior do nível atual da cava e uma curva côncava inferior, que é o limite da lavra a céu aberto. Veja no canto inferior direito a área em vermelho, que é do corpo de hematita rica. Parte pode vir a ser lavrada a céu aberto e o restante só será possível por meio de lavra subterrânea, que possivelmente será um ótimo projeto inovador da Vale. Não sei por qual motivo, em vez de apresentar e discutir esse potencial com a sociedade itabirana, até tranquilizando-a quanto ao fim que não será iminente, a empresa esconde ou ignora o projeto que aumenta a vida da mina e diminui a poluição da mineração.”

Outro lado

Procurada pela reportagem sobre a possibilidade de vir a explorar esse corpo de hematita por meio de lavra subterrânea, a mineradora Vale respondeu evasivamente, sem dizer que sim ou que não.

Essa possibilidade surge como uma alternativa para prolongar a vida útil das operações na região, considerando que as reservas de itabiritos estão se esgotando. O corpo da hematita, com alto teor de ferro (acima de 60%), estaria localizado em veios mais profundos, abaixo das minas Conceição e Chacrinha, nas Minas do Meio.

Embora a Vale não tenha confirmado oficialmente esses planos, a empresa informa que realiza estudos contínuos para aumentar o aproveitamento das reservas minerais, levando em conta aspectos tecnológicos, ambientais, legais e sociais.

E que, no caso de a viabilidade ser comprovada, os resultados serão submetidos ao processo de licenciamento na agência reguladora e também junto aos órgãos ambientais.

“Os estudos para aumento do aproveitamento das reservas minerais, bem como para os planos de fechamento de mina, estão em constante evolução. Além disso, é importante ressaltar que a Vale tem se dedicado às ações que busquem o desenvolvimento de oportunidades para o município de Itabira dentro do conceito de visão sistêmica e integrada,” respondeu a mineradora, ignorando as demais questões apresentadas.

“Importante reforçar que a projeção da exaustão das minas do Complexo de Itabira, conforme divulgado no Relatório 20F, foi ajustada para até o ano de 2041 em função da revisão dos planos estratégicos de lavra e de produção da empresa,” frisou.

 

 

 

 

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1 Comentário

  1. Não é por acaso que a mineradora destruidora Vale está comprando terrenos na região do Cubango e de São José do Turvo. Só espero que ela não destrua nosso patrimônio histórico, casa onde Elke Maravilha cresceu, no Cubango. Além de destruir nosso meio ambiente ela não pode também destruir nossa história

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