Kiruna, na Suécia, tem mina subterrânea de minério de ferro que abasteceu a indústria bélica nazista na 2ª Guerra Mundial

No destaque, atividade na mina subterrânea que fica abaixo da cidade de Kiruna

Foto: Fredric Alm/LKAB

Itabira, que tem a maior mina a céu aberto de minério de ferro do mundo próxima a uma cidade, pode dispor nos próximos anos também de minas subterrâneas, a exemplo do que ocorre há 130 anos na cidade de Kiruna, situada mais ao norte da Suécia.

A mina subterrânea de Kiruna começou a ser explorada em 1899, com a construção de uma linha férrea. Na 2ª Guerra Mundial (1939-45), foi a principal fonte de fornecimento de minério de ferro para a indústria bélica nazista, por meio do porto de Narvik, que nunca congelava. Adquiriu assim importância estratégica para os aliados do eixo (Alemanha, Itália e Japão) comandado por Adolfo Hitler.

Já as reservas de Itabira começaram a ser exploradas a partir dos acordos de Washington, que incluíram a viabilização, em 1942, da exploração das minas de Itabira para assegurar o fornecimento de minério de ferro para abastecer a indústria bélica dos aliados (França, Inglaterra, EUA e URSS), que derrotaram os nazifascistas.

Agora, no século 21, a história das duas cidades mineradas podem se aproximar não por meio da guerra, mas até mesmo da cooperação técnica e troca de experiências de cidades que vivem o impacto da mineração.

É que Itabira pode viver nos próximos anos a experiência de extrair minério de ferro de lavras mais profundas, como ocorre em Kiruna há mais de um século.

Leia mais aqui:

Vale vai investir R$ 26 milhões em pesquisas geológicas para aumentar a vida útil das minas de Itabira

Remoção

Após anos de exploração ininterrupta em galerias profundas, desde 2014 a cidade de Kiruna vive um processo de reconstrução, com a relocação do sítio urbano para uma nova localidade, com prazo de conclusão em 20 anos – o que só deve ser concluído em 2034.

Acontece que a companhia de mineração estatal LKAB tem cavado cada vez mais fundo nos últimos anos, o que aumenta o risco de a cidade sofrer com desabamentos. “Com a mudança, o objetivo é preservar os seus edifícios históricos e garantir a segurança de seus cidadãos”, informa a companhia estatal.

A remoção vem sendo feita de forma gradual. No total, 20 mil moradores serão transferidos para outras residências construídas em volta de um novo centro comercial, a três quilômetros do perímetro urbano atual.

A relocação se tornou necessária depois que surgiram gigantescas rachaduras nas construções da cidade. Portanto, não se trata de precaução mas de prevenção para que a cidade literalmente não afunde com o avanço das minas subterrâneas.

“A mina foi devorando a cidade”, diz a antropóloga Viktoria Walldim, contratada para trabalhar na remoção em entrevista à BBC News. Segundo ela, os moradores de Kiruna viviam em um estado de suspensão até o início da remoção.

Esse estado teria ocorrido por um período de 15 anos, o que fez desvalorizar os imóveis e impedido os moradores de tomarem grandes decisões, como por exemplo, ampliar ou comprar uma nova casa – e até mesmo abrir um novo negócio.

Atualmente, grande parte da população já vive na nova cidade e planeja a vida sem se afastar dos benefícios diretos da mina, que gera empregos e continua sendo a principal fonte de emprego, renda e oportunidades de negócios na localidade.

Novas perspectivas

Uma nova cidade de Kiruna, na Suécia, está sendo construída para continuar a exploração da mina subterrânea (Foto: Divulgação)

De acordo com a reportagem da BBC News, o escritório de arquitetura White Arkitekter, baseado em Estocolmo, e que venceu o contrato para projetar a nova Kiruna, planejou um centro da pequena cidade mais denso, com foco maior em sustentabilidade, acessibilidade para pedestres e ênfase em transporte público.

A cidade fica a 145 quilômetros do Círculo Ártico, onde o sol nunca se põe entre maio e agosto – e que é sempre noite entre dezembro e fim de janeiro. As temperaturas permanecem baixas, na faixa de -15 graus, durante boa parte do ano, com neve nos 365 dias.

Com a cidade renovada, espera-se atrair a visita de mais turistas, incrementando os negócios locais.

É o que Itabira poderá fazer também com as futuras minas desativadas a céu aberto, até mesmo com a instalação de um Museu Aberto da Mineração.

Nesse futuro não tão longínquo, o museu poderá existir tendo ao lado, ou bem próximo, galerias subterrâneas abertas para explorar as hematitas remanescentes.

Trata-se da sobra que restou abaixo dos itabiritos da província mineral de Itabira, que já produziu para o mundo mais de 1,4 bilhão de toneladas de minério de ferro.

Corpos remanescentes

A vantagem em relação a Kiruna, a se confirmar, é que esses veios de hematita, que podem ser explorados por minas subterrâneas, não avançam abaixo da cidade.

Segundo um experiente geólogo ouvido por este site Vila de Utopia, esses corpos remanescentes estão localizados no limite da estrada 105 e da via férrea, que já tem projeto de mudar o seu traçado nesse trecho.

Mas há também corpo remanescente de hematita na mina Chacrinha. “Abaixo desse trecho, principalmente próximo da passagem de nível da Vila Paciência para o bairro Pará, tem um corpo de minério com inclinação muito forte, com a hematita que ficou no fundo. Com galerias subterrâneas, o acesso a esse minério pode ser facilitado”, acredita.

“Tecnicamente não é inviável ter uma lavra subterrânea para explorar esses corpos de minério remanescentes, que existe também na mina Chacrinha”, acrescenta o geólogo.

“Sou um realista otimista. Não vai ser encontrado outro Cauê, mas pode-se ter um volume bem significativo nesses corpos remanescentes e que vão prolongar a vida útil das minas de Itabira por muitos anos além de 2029”, acredita. Leia mais aqui.

Expertise

Os suecos são obcecados por galerias subterrâneas, inclusive como estratégia empregada pelas Forças Armadas Suecas entre as décadas de 1940 e 1980. Nesse período foram construídas bases aéreas (fábrica de aviões), bases navais, paióis, depósitos de materiais diversos e abrigos para a população, tudo subterrâneo.

Essa experiência e tecnologia empregadas pelos suecos certamente serão utilizadas pela Vale numa possível exploração de minério de ferro por minas subterrâneas em Itabira.

Que seja, de preferência, nos limites dos “pits” das minas atuais, sem avançar por debaixo dos bairros Vila Paciência, Pará e centro histórico.

A menos que se queira, empresa e população, deslocar a cidade com mais de 120 mil habitantes, ou parte dela, para outra localidade, como ocorre em Kiruna, a célebre cidade mineradora sueca.

Kiruna, a cidade que afunda, já produziu mais 1 bilhão de toneladas de minério de ferro

A mina subterrânea de minério de ferro é explorada há mais de 130 anos (Foto: Divulgação)

Kiruna é considerada a maior e mais moderna mina de ferro subterrânea do mundo. O teor de seu minério de ferro é de 48%, mas mesmo sendo considerado baixo, principalmente se comparado com Carajás, que é 64% de ferro “in situ”, vem sendo explorado desde 1890.

De suas galerias subterrâneas já foram extraídas mais de 1 bilhão de toneladas, mas ainda restam 800 milhões de toneladas. A mina fica a 1.045 metros de profundidade – e o corpo mineral atinge uma profundidade de 2.000 metros.

A produção anual é de 26 milhões de toneladas de minério que geram 15 milhões de toneladas de pellets, à semelhança do que é produzido em Itabira com a exploração a céu aberto e concentração em três usinas com capacidade nominal de beneficiar até 50 milhões de toneladas anuais.

Na mina, o britador também é subterrâneo. Mas nem tudo é grandioso em Kiruna, que até há pouco era conhecida como a “cidade que afunda”. Por isso está sendo gradativamente transferida para uma outra localidade próxima, o que só deve ser concluído em 2034.

A sua experiência com mina subterrânea pode fornecer tecnologia para futuras explorações subterrâneas de minas em Itabira. Mas serve também, e sobretudo, como alerta para os riscos de novos impactos ambientais e sociais que podem advir desse modelo de extração de minério de ferro, que ainda é pouco conhecido no Brasil.

 

 

 

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4 Comentários

  1. Não há alternativa , o negócio é aderir a esta estratégia para que a cidade possa arrancar o atraso de anos e mais anos sem pensar no fim deste minério do Cauê que já era . Este novo projeto vai garantir nas mãos de pessoas sérias honestas e comprometidas com a instabilidade econômica de Itabira um um gás para gerar outros projetos que não nos deixará nas mãos das previsões mineralisticas . Agora uma coisa tem que ser mais explorada pela imprenssa, que é buscar informações mais claras da Vale sobre o que de fato vai acontecer nos perímetros de exploração destes veios . A Vale com seus estrategistas administradores advogados e um batalhão de sabichões, tem a mania de desvirtuar informações para mudar o foco do povão. A empresa tem que jogar limpo e explanar tudo que pretende fazer . Pra esta empresa soltar algum tipo de informação positiva com relação a alguma coisa é porque o plano já foi todo traçado e em ritmo frenético nos bastidores para a coisa acontecer .. O povo é que num pode ficar que nem macaco de auditório esperando de boca aberta .

  2. O título da matéria deixa claro que é uma furada, uma roubada a exploração mineral. Horror! Mineração nunca deu lucro pra Minas Gerais, ao contrário destrói Minas Gerais, mata pessoas, animais, rios, terras, como fez em Mariana e Brumadinho. Lucro de mineração é só pros milionários estrangeiros. Em Minas quem enriqueceu um tiquinho com a mineraçõa já o fez, daqui pra frente é doença e morte. Mas chapéu de trouxa é marreta….
    #Fora Vala SA…
    #Fora Vala SA…

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