Ronaldo Magalhães anuncia reabertura do comércio no pico da pandemia no país. Como diria o marqueteiro, “é a economia, estúpido”

Carlos Cruz

Com a proximidade do Dia das Mães, no domingo (10/05), e com a pressão dos lojistas que veem se rebelando contra as medidas restritivas desde que foi decretado o estado de situação de risco em saúde, no dia 18 de março, o prefeito Ronaldo Magalhães (PTB) anuncia que irá assinar novo decreto neste sábado (25), flexibilizando as medidas restritivas com a reabertura do comércio no município.

A justificativa é de que, com os investimentos da Prefeitura na ampliação do serviço médico-hospitalar, o chefe do executivo itabirano entende que não há mais risco de o sistema municipal de saúde entrar em colapso, mesmo que a pandemia avance.

Esse aumento de estrutura inclui a instalação, ainda por ser feita, de um hospital de campanha no Centro Experimental de Educação Ambiental, na unidade de conservação permanente Parque Natural Municipal do Intelecto.

Para o prefeito, a reestruturação do atendimento será suficiente para atender a todos pacientes, de Itabira e da região – e que ninguém ficará sem assistência médico-hospitalar. Se isso ocorrer, com muitas pessoas adoecendo ao mesmo tempo, conforme a própria Prefeitura alertou recentemente, centenas de pessoas podem morrer sem atendimento, vitimadas pela covid-19.

Segundo ele, as novas medidas estão “alinhadas com a equipe técnica de saúde” e devem manter várias restrições com o decreto de flexibilização. E inclui a reabertura do comércio de rua não essencial, que está fechado desde 19 de março.

Curva acentuada

O anúncio da flexibilização ocorre justamente quando se prevê a acentuação da curva com o pico da pandemia, quando, segundo recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), acima de 70% da população deveria ficar em casa.

Com o novo decreto, o prefeito atende às reivindicações da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Itabira (CDL-Itabira), que, desde o dia 6 de abril, protocolou a proposta de flexibilização na Prefeitura.

Decreto deve seguir protocolo editado pelo governador Romeu Zema

O decreto de flexibilização irá seguir o protocolo liberalizante do governador Romeu Zema (Novo), com as orientações e os critérios já definidos para a reabertura do comércio, de acordo com a atividade econômica e o risco de colapso do sistema de saúde, que deve ser pequeno como critério para que ocorra a volta das atividades não essenciais.

Em Minas Gerais, até essa quinta-feira à tarde, havia sido registradas 51 mortes pela covid-19 e 1.308 pessoas estavam confirmadas com a doença. Isso fora as subnotificações que, no estado, tem sido das mais altas no país.

Entre as regras para a reabertura estarão o controle e a organização de filas, inclusive externas, além de assegurar a distância mínima entre as pessoas. Outra medida é a limitação de público interno, além do uso de máscaras.

Também será proibida a realização de promoções e liquidações, que é para não atrair grandes multidões como ocorreu em algumas lojas no afã de vender chocolates na Páscoa – e que foram “espetacularmente” lacradas pelos fiscais da Prefeitura com apoio da Polícia Militar.

Em Betim, onde a flexibilização teve inicio na semana passada, as pessoas foram para as ruas achando que a pandemia já havia passado. O risco de mais contaminações foi apontado pelo Ministério Público, mesmo com o uso obrigatório de máscaras e com as medidas profiláticas adotadas pelo comércio.

Responsabilidade

A promotora da Comarca de Itabira, Sílvia Letícia Amaral, lembra que a responsabilidade pela reabertura do comércio, nessa hora em que se aproxima o pico da doença, com a curva precisando ser achatada com isolamento social, é dos gestores municipais. Leia mais aqui.

“Se não houver condições de o município atender a todos, os gestores municipais podem ser responsabilizados”, adverte a representante do Ministério Público, para quem a Constituição Federal assegura o livre comércio, mas também diz que a vida é um direito fundamental e que está em primeiro lugar.

Em seu pronunciamento, Ronaldo Magalhães assegura que os investimentos já realizados pela Prefeitura são suficientes para assegurar o atendimento a todas as pessoas que forem infectadas pelo vírus, sem que o sistema entre em colapso.

“Já garantimos 127 leitos nos dois hospitais”, disse ele. Nessa conta o prefeito considera, ainda, que com a abertura do hospital de campanha, o número de leitos deve saltar para 200 exclusivos para atender quem precisar de assistência em decorrência da covid-19.

Empregos

“Com embasamento técnico e responsabilidade vamos flexibilizar o funcionamento do comércio. O objetivo é também salvar empregos”, justifica o prefeito.

Ou seja, é “a economia, estúpido”, como já disse o assessor de Bill Clinton, James Carville, ao explicar a insatisfação dos norte-americanos com a performance negativa do também ex-presidente George Bush, o pai, que tinha 90% de aprovação no início da campanha eleitoral de 1992 e que acabou derrotado pelo então jovem candidato democrata.

O prefeito de Itabira insiste que a decisão tem por base o controle do avanço da pandemia no município e o grande número de desemprego que a pandemia tem causado em Itabira. Questionada pela reportagem, a assessoria de imprensa da Prefeitura não soube responder qual é o índice de pessoas em isolamento social na cidade.

Como também não se sabe nem mesmo a estimativa de quantas pessoas podem estar com vírus e que ainda não entraram no rol das notificações. Esse radiografia é importante, uma vez que as notificações registram apenas os casos de pacientes que procuram assistência médica. E que ainda são poucos.

 

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2 Comentários

  1. A vida é um direito fundamental e que está em primeiro lugar. A afirmação acima mostra o quanto estamos despreparado em enfrentar a Pandemia.
    O decreto que será assinado pelo prefeito Ronaldo Magalhães assegura a volta do comércio, mas não assegura a vida e a saúde dos trabalhadores. Como parte do decreto, deveriam incluir a seguinte proposta: o CDL deverá assegurar as UTI (s) e os Respiradores artificiais que se fizerem necessários a todos os trabalhadores, sem que se use o sistema único de saúde.

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