Risco de golpe cresce na América Latina, mas militares brasileiros preferem bastidores

Rafael Jasovich*

Em Como as Democracias Morrem, o cientista político e professor da Universidade de Harvard Steven Levitsky e o colega Daniel Ziblatt escreveram que golpes militares “clássicos” como os vistos na América Latina nos anos 1960 e 1970 eram cada vez mais raros.

Em um mundo em que populistas autoritários de direita entravam no sistema político pela porta da frente, por meio de eleições tradicionais, as democracias minguavam lentamente, sem um grande momento de ruptura como no passado.

Lançado em 2018, o livro buscava entender o contexto que possibilitou a ascensão de Donald Trump nos Estados Unidos, exumando crises no sistema democrático de diversos países, da Alemanha sob Hitler à Venezuela de Hugo Chávez.

Passados menos de cinco anos, contudo, o cenário parece diferente. Trump saiu de cena – e o fantasma da intervenção militar volta a rondar a América Latina.

“Pela primeira vez durante minha carreira, a região começa a ‘cheirar’ cada vez mais como a América Latina dos anos 1970 [quando foi palco de uma série de golpes militares]”, disse Levitsky à BBC News Brasil. “Vejo níveis elevadíssimos de polarização no Chile, no Peru, no Brasil, na Bolívia, no México, na Colômbia…”

Não concordo com o prognóstico de golpe em Peru, Chile, Bolívia e Peru onde houve eleições e assumiram presidentes de esquerda.

No México o presidente de centro esquerda governa com problemas, mas o golpe é uma possibilidade praticamente nula. Na Colômbia a situação é tensa, mas o golpe está longe de acontecer.

Agora no Brasil, o presidente já percebeu que as eleições de 2022 então perdidas para ele, inclusive pode perder no primeiro turno.

Então como é de seu feitio e de seu histórico, joga tudo num golpe contra o sistema democrático com fechamento do Congresso Nacional e até o Supremo Tribunal Federal.

Mas para isso precisa contar com o apoio dos militares. Sem eles, e só com a milícia e grande parte das policias militares estaduais, será um suicídio político e que pode se agravar com uma “guerra civil”.

Os militares estão divididos: os que estão se locupletando com cargos e negócios escusos, lógico que apoiariam uma aventura golpista.

Grande parte das forças armadas e os generais com mando de tropa se negam a participar de um golpe que teria de ter pelo menos apoio dos Estados Unidos, como foram todos os golpes na América Latina nas décadas de 1960. Esperamos que seja verdade.

O capitão (com minúscula mesmo) chama seus apoiadores para uma manifestação no dia 7 de setembro. Os convocados são policiais militares e a milícia. Podemos esperar loucuras. Afinal gente armada de armas e ódio inspirados pelo presidente é capaz de tudo.

A conferir

Rafael Jasovich é jornalista e advogado, membro da Anistia Internacional.

 

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