Revolução do cotidiano

Igor Guerra*

Egos inchados desfilavam pela universidade
Nos bares, o tesão era enganado por uma loira gelada
As casas hospedavam autoritarismos burgueses
As pessoas desabilitavam o amor
Nas redes sociais, a beleza estava massificada em sua forma e conteúdo
A má utilização capitalista dos recursos naturais se desmanchava no ar

Essa visão mundana ficou esquizofrênica: a pipa costurando o ar, subia mais alto que toda hierarquia burguesa e que todo autoritarismo político

Esboçava era alegria a todos que ainda olham para o céu. Invadia condomínios de famílias patriarcais. Ultrapassava os muros sociais e reforçava a ludicidade das crianças

Ao descer o pensamento, no horizonte, estava o menino Zé.Dono desse talento irresponsável, que rompe com o sistema no dia-a-dia

Agitador de papagaios, como diziam antigamente, é o que ele é. Agita a meninada depois da escola a soltar pipas e enfeitar o céu sobre as ruas do Nova Lavras, bairro que ainda tem escola de samba e “galos, noites e quintais”!

Que é também onde ele pensa em ter uma fábrica de pipas. Onde pensa em fabricar sonhos que driblem os maus olhares e que costure, que junte as belezas da gente em um mesmo céu.

E como ele, há quem acredite em um mundo que nem começou. Onde a libertação individual se atrela à social pela beleza e ecologia de cada pessoa expressando seus desejos originais no afeto cotidiano.

Assim, a utópica labuta diária deixa para trás esse mundinho em que os mortos estão governando os vivos.

*Enquanto descansa do trabalho duro na roça, Igor solta pipas na serra e vê mundo