Eu tomo mate. E o papa Francisco também

Rafael Jasovich*

Minha família sempre foi matera, mateavam direto, amargo como manda o figurino.

El mate não se bebe, se toma como quem se faz proprietário da infusão.

Era mate de manhã antes do desjejum, mate à tarde com pães doces, e mate antes do jantar. Nasci numa província (estado) onde por causa de tanto mate éramos chamados de barriga verde.

Rafael Jasovich, colaborador da Vila de Utopia, é um contumaz tomador de mate. No destaque, o papa Francisco, que também matea (Fotos: Acervo Jasovich)

Se há uma coisa que une os vizinhos da Argentina é o mate

 Lá a erva é diferente: mais grossa, seca e forte. Por decreto, acaba de virar bebida nacional. Argentino que se preza mateia ( a arte de tomar mate) todo dia e, quando pode, o dia todo.

Eles fazem piquenique para matear, mateiam para namorar, passeiam, pedalam, estudam, tudo mateando. Sim, é um verbo conjugado em todos os tempos. Mate é tudo, erva raiz do verbo, ou a cuia.

O mate é agregador: se fazem círculos e cuia com a bomba circula, se conversa de tudo se ri, se chora e até se puteia quando assim o exige o momento.

Na história do mate há muitos personagens. O tango também identifica o amante do mate. Carlos Gardel teve direito a embalagem especial um ano depois de sua morte. A lata é de 1936.

Em alguns bebedouros da região, a água sai quente, fervendo mesmo especial para o mate e nem sempre é de graça.

Os tempos mudam a nova mania é o mate bar. Diferente do café, que é individual, com o mate há uma comunhão na mesa. De tardezinha, as mães buscam os filhos na escola e se juntam no bar. Enquanto eles brincam, elas mateiam.

Curioso como a erva amarga promove doce comunhão e ainda vem acompanhada de um cardápio que dá água na boca.

Argentino bebe muito mate e hoje em dia existe mais diversidade de sabores outro, o mate busca superar seus próprios limites no consumo doméstico por meio de inovação e diversificação nunca antes conhecida no país.

Hoje em dia podemos encontrar aos poucos, especialmente em Corrientes – Misiones – Entre Rios, uma grande variedade de produtos com ou baseados na erva mate: Alfajor, licor, Uísque, orégano, queixo, sorvetes, cremes, sabonetes, perfumaria e até croissant. Novidades Diferentes!

O argentino bebe muito mate. Além disso, segundo uma pesquisa recente, o mate está presente em 98% dos lares, ou seja, em cada cantinho da Argentina.

Os uruguaios tomam mais quantidade de mate. Mas os nossos países têm diferentes costumes de tomar mate. Na Argentina é bebido no lar e no trabalho, em Uruguai é costume estar com ele o tempo todo. Assim, o Rio de la Plata se constitui como o maior centro mundial de tomadores de mate.

A ex-presidenta Cristina Kirchner presenteia o seu conterrâneo com uma cuia de mate, quando Jorge Bergoglio foi escolhido no Vaticano

Como falei, para conquistar novos consumidores e mercados, a inovação é o cavalo de batalha. Mas nos últimos dias, acho, que o grande líder do marketing a nível mundial foi o Papa Francisco.

Na semana que ele esteve no Rio de Janeiro na Jornada Mundial da Juventude, ele parou duas vezes seu carro para dar uns beijos na Indígena Bebida!

Assim, o mundo todo perguntou que bebida era essa que o Papa pegou. Bom, o nome é Mate ou Chimarrão, depende a região.

Lembremos que quando o Jorge Bergoglio foi escolhido no Vaticano, a presidenta Cristina Fernandez de Kirchner entregou um belo mate, mas a noticia não correu o mundo.

Agora, o mate está de parabéns e é cosmopolita!.

Mas o que eu tenho a ver com tudo isso? Eu tomo mate, só de manhã, mesmo sozinho (mate se toma em grupo). Não consegui me afastar deste consumo, aqui na minha cidade tem uma loja que vende a erva da Argentina (eu compro).

Eu mateo, e tu?

*Rafael Jasovich é jornalista e advogado, membro da Anistia Internacional

 

 

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