Reinaldo, craque eterno do Atlético, é anistiado pelo Estado brasileiro por sofrer perseguições políticas na ditadura militar
Fotos: Reprodução/ Instragram
Comissão da Anistia reconhece perseguição política e concede indenização ao maior artilheiro da história do clube
A Comissão de Anistia do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania aprovou nesta terça-feira (2) o pedido de anistia política apresentado pelo cidadão José Reinaldo de Lima, o craque Reinaldo, maior artilheiro da história do Atlético Mineiro.
O colegiado reconheceu que o ex-atacante foi alvo de perseguição durante a ditadura militar em razão de suas manifestações públicas contra o regime.
Além do perdão estatal, foi autorizada uma indenização de R$ 100 mil, referente a nove momentos de perseguição pela ditadura militar, registrados entre março de 1978 e outubro de 1986, já com o regime militar agonizante.
Cerimônia em Brasília tem pedido de desculpas do Estado
Na cerimônia em Brasília, a ministra Macaé Evaristo pediu desculpas ao cidadão Reinaldo em nome do Estado brasileiro.
Emocionado, Reinaldo respondeu com o gesto que imortalizou sua trajetória: o punho cerrado erguido, inspirado no movimento dos Panteras Negras, organização revolucionária afro-americana surgida em 1966, em Oakland, Califórnia. O movimento nasceu no contexto das lutas pelos direitos civis nos Estados Unidos, contra a segregação racial e a violência policial.
O gesto do punho cerrado, associado ao grupo, ganhou projeção mundial como símbolo de resistência, solidariedade e enfrentamento ao racismo. Tornou-se icônico em eventos esportivos, como nos Jogos Olímpicos de 1968, quando os atletas Tommie Smith e John Carlos também ergueram o punho no pódio.
Ao repetir esse gesto durante a cerimônia da Comissão da Anistia, Reinaldo reafirmou sua postura histórica de contestação ao autoritarismo e ao racismo. O público presente acompanhou o ex-atleta e repetiu o gesto, transformando o momento em um ato coletivo de reconhecimento e reparação histórica.
Carreira marcada por gols e resistência política

Autor de 255 gols pelo Atlético, Reinaldo destacou-se não apenas pelo talento em campo, mas também pela postura política.
À Comissão, ele relatou ter sofrido retaliações diretas por sua postura, incluindo pressões que, segundo afirmou, o teriam impedido de disputar a final do Campeonato Brasileiro de 1977. Naquele período, já defendia eleições diretas e o fim da ditadura.
O ex-jogador contou que manteve o gesto de protesto mesmo após um alerta do então presidente Ernesto Geisel, que lhe teria recomendado: “Jogue bola. Deixe a política para a gente.”
Na Copa de 1978, ao marcar pela seleção brasileira, voltou a erguer o punho, episódio que, segundo ele, intensificou a vigilância e a pressão sobre sua carreira.
Documentos apresentados à Comissão confirmam que Reinaldo foi monitorado pelo Sistema Nacional de Informações (SNI), órgão de inteligência da ditadura.
Com a decisão, Reinaldo passa a ter oficialmente reconhecida sua condição de perseguido político. A indenização de R$ 100 mil é simbólica: representa a reparação financeira pelos anos de perseguição, mas o gesto simbólico da anistia reforça o compromisso do Estado brasileiro com a memória e a democracia.
Fontes: Ministério dos Direitos Humanos/Comissão da Anistia









