Prefeitura ainda não encontra solução para água pluvial entancada em lote da Vale, que diz não ser de sua responsabilidade
Fotos: Carlos Cruz
Enquanto todos os moradores de Itabira devem se empenhar no combate ao mosquito transmissor da Dengue, Zika, Chikungunya, que, segundo o Levantamento de Índice Rápido do Aedes aegypti (LIRAa), com dados coletados entre os dias 16 e 20 de janeiro, a cidade se encontra em alerta de surto, Prefeitura e Vale ainda não deram conta de eliminar o que talvez seja o maior foco de infestação na cidade.
Trata-se de um lote vago situado na rua J, esquina com a avenida France de Paula Andrade, adquirido pela mineradora como parte de um projeto, nunca realizado, de se criar um horto florestal para amortizar o impacto de suas operações na mina de Chacrinha, na serra do Esmeril.
Em decorrência, desde o início dos anos 2010, esse lote vago se transformou em um lago insalubre, fétido, o que deixa os moradores extremamente preocupados pelos riscos que representa à vizinhança e, por extensão, a toda população por se encontrar próximo do hospital Nossa Senhora das Dores.
Sem responsabilidades
Procurada pela reportagem, a mineradora Vale se exime de responsabilidades. Diz que é também vítima dessa situação.
“A Vale não reconhece a responsabilidade pelo sistema de drenagem nessa localidade e destaca que também teve seu imóvel impactado pelo acúmulo de água que adentrou na sua área pela obstrução da drenagem da via pública. A Vale reforça o seu compromisso com a segurança das pessoas das comunidades onde está presente e de suas operações”, diz a nota enviada à redação deste portal de notícias.
Sem solução imediata
Por seu lado, a Prefeitura de Itabira promete resolver a situação, o que foi feito também pela administração passada, sem que fosse encontrada solução para dar vazão a água entancada no lote vago.
“A Prefeitura de Itabira realizou um estudo hidrológico no local de concentração da água para definição da bacia de contribuição e dimensionamento da drenagem pluvial necessária na avenida France de Paula Andrade, no bairro Vila Paciência. Esse estudo apontou a necessidade de implantação de uma nova estrutura hidráulica naquele trecho, capaz de absorver o volume de água e impedir a concentração”, diz a nota encaminhada à redação pela assessoria de imprensa.
“Enquanto isso, até para evitar o agravamento de problemas ambientais e de saúde pública, a Prefeitura de Itabira tem executado o serviço de drenagem da água concentrada, por meio de um sistema externo paliativo”, salienta a nota municipal.
De todo esse imbróglio, ainda insanável, o que se conclui é que ainda não se tem solução à vista, dada a complexidade do problema geotécnico e hidráulico.
“Trata-se de uma obra complexa, pois a bacia de contribuição envolve áreas públicas, privadas e da Vale. O município tem discutido com a mineradora as melhores alternativas para a execução da obra que vai solucionar o problema definitivamente”, volta a prometer a administração municipal.
Riscos iminentes
O que os moradores da Vila Paciência esperam, e por extensão toda a população vizinha, é que essa solução não seja mais postergada indefinidamente.
Perguntada sobre a existência de focos do mosquito Aedes Aegypti no local, a Prefeitura nada respondeu a respeito.
Por se tratar de água parada, esses focos com certeza devem estar presentes, com a proliferação do temível mosquito transmissor de doenças que ainda impactam a saúde da população, sem que sejam tomadas as providências definitivas para a erradicar essa ameaça coletiva.
Isso mesmo com o período chuvoso chegando ao fim, no aguardo da enchente de São José, que antes das mudanças climáticas em curso ocorria no dia do santo, em 19 de março, mas que ainda virá (ou não?). O certo é que, com água entancada, os riscos de proliferação do mosquito permanecem indefinidamente, mesmo no próximo período de estiagem.
Portanto, além de ser um problema hidráulico ainda insolúvel, é também uma grave ameaça à saúde pública da população. Juntamente com o temivel mosquito Aedes Aegypti, outros animais peçonentos (cobras, ratos), aracnídeos, pernilongos, baratas podem proliferar e multiplicar nesse lote vago da mineradora Vale.
Infestação
Quanto à proliferação do mosquito Aedes Aegypti local, os moradores têm motivos de sobras para preocuparem.
De acordo com o último LIRAa, divulgado em janeiro pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a infestação predial (IIP) em Itabira está em nível assustador de 9%.
Em outubro do ano passado, esse índice era de 5,6%, ou seja, um aumento de 60,71%. Desde que começou a ser levantado, esse índice em Itabira está bem acima do percentual de 1% considerado satisfatório pelas autoridades em saúde – e acima de 4% que já é considerado de alto risco.
“Itabira está em situação de alto risco para um surto de contaminação pelas arboviroses”, alertou por ocasião da divulgação do último LIRAa a superintendente de Vigilância em Saúde, Natália Andrade, com base no alto IIP registrado por toda a cidade.
Se todos moradores devem fazer a sua parte para eliminar os focos do mosquito transmissor, cabe à Vale, que diz “ter compromisso com a segurança das pessoas das comunidades onde está presente” contribuir para a solução desse problema em seu lote vago
Como é também obrigação da Prefeitura, que tem o dever de zelar pela saúde e assegurar as condições mínimas de qualidade de vida da população, encontrar urgente solução para essa grave falta de saneamento neste lote vago.
Não importa de quem seja a responsabilidade pela ocorrência. O que é inadmissível é a população vizinha ter de conviver por mais tempo com essa situação de grave ameaça à saúde.
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Levei esse assunto a reunião do Codema, logo que fui nomeado pela Interassociação – Associação de moradores de amigos de bairros de Itabira para representa-la nos interesses dos moradores de Itabira. Mas infelizmente a Secretária de Obras, transportes e trânsito, não encontraram um meio de solucionar esse problema. Minha esperança é que com a nova Secretária de Obras, Elayne Mendes a coisa ande e resolva essa demanda dos moradores da Vila Paciência.