Participando do Siga-Previ, no Rio, André Viana convida o ministro Alexandre Silveira para vir a Itabira debater novo modelo de mineração

Fotos: Divulgação

“É preciso alavancar novos projetos estruturantes e sustentáveis nos territórios minerados, começando por Itabira que vive o crepúsculo da mineração”, cobrou André Viana, em conversa com ministro das Minas e Energia

Como presidente do Sindicato Metabase de Itabira e Região, e também como representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Vale, o sindicalista André Viana Madeira, participou, nesta quinta-feira (5), no Rio de Janeiro, do Seminário de Investimentos, Governança e Aspectos Jurídicos da Previdência Complementar, o Siga, promovido pela Previ, a Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil.

Segundo Viana, o principal tema em pauta foi de interesse dos trabalhadores da mineração, como também dos aposentados e pensionistas da Valia: “Como conciliar o sucesso econômico e os aspectos Ambientais, Sociais, de Governança e Integridade (ASGI) nos investimentos no país”.

O seminário foi organizado pela Previ com participação também de outras entidades de previdência complementar, como a Anapar (Associação Nacional dos Participantes da Previdência Complementar), Funcef (Fundação dos Economiários Federais, da Caixa), Petros (Fundação Petrobras de Seguridade Social) e Valia (Fundação Vale do Rio Doce de Seguridade Social).

Participaram também outros sindicalistas com quem André Viana manteve contatos para troca de experiências e propostas comuns, com Ivone Silva, presidenta do Instituto Lula e vice-presidenta da CUT de São Paulo, Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo e Marcelo Rodrigues, membro executivo da CUT Nacional. Outro contato positivo foi com João Fukunaga, presidente da Previ e também conselheiro de Administração da Vale.

Da esquerda para a direita: João Fukunaga, presidente da Previ e Conselheiro de Administração da Vale, Ivone Silva, presidenta do Instituto Lula e vice-presidenta da CUT de São Paulo, André Viana, Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo e Marcelo Rodrigues, membro executivo da CUT Nacional

Temas relevantes

O fórum de debates propiciou também a discussão de outros temas contemporâneos, com muita troca de informações, com o objetivo de incentivar as boas práticas de governança nas empresas e em sociedade.

Presente também no encontro, o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira de Oliveira, que é da cidade do Serro, onde a mineradora Herculano está para abrir uma nova mina, o que tem gerado conflitos com segmentos da sociedade local, manteve uma proveitosa conversa com André Viana.

Na região do ministro há ainda a mineração Minas-Rio, da Anglo American, em Conceição do Mato Dentro, assim como a mina de Serpentina, da Vale, ainda em fase de estudos para implantação de projeto minero-extrativista no mesmo município.

Convidado pelo sindicalista itabirano, Alexandre Silveira aceitou o convite para uma visita à Itabira e demais cidades mineradas para debater uma agenda positiva para a mineração e territórios. “Já estamos acertando as nossas agendas para que a vinda do ministro à região ocorra o mais breve possível.”

André Viana com o ministro Alexandre Silveira, das Minas e Energia

Agenda positiva

Na pauta do encontro no Rio, sindicalista e ministro abordaram os novos caminhos a ser percorrido pela mineração no país rumo à sustentabilidade econômica, social e ambiental, principalmente em tempo de mudanças climáticas. A expectativa é aprofundar esse tema com a visita do ministro.

Na conversa, houve consenso de que está cada vez mais evidente a necessidade de produzir e extrair minerais com baixa emissão de carbono na atmosfera, como meio de reverter o quadro sinistro que assusta a humanidade, já com reflexos nos dias atuais, com elevação da temperatura e eventos climáticos extremos, causando muita destruição e mortes.

Na conversa foi também abordada a situação das cidades mineradas do Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais (Mariana, Ouro Preto, Santa Bárbara, Nova lima, Congonhas), assim como das cidades da região do Mato Dentro (Itabira, Conceição do Mato Dentro, Serro), com os conflitos entre as empresas mineradoras e comunidades, assim como o risco das barragens de rejeitos, principalmente no período chuvoso.

Nova mineração

Segundo André Viana, o país deseja um novo modelo de mineração, que não seja predatório, mas assentado no tripé do ESG (Environmental, Social and Governance, que significa Ambiente, Social e Governança), reunindo um conjunto de práticas criadas com o objetivo de orientar as empresas para ações mais sustentáveis.

O termo surgiu pela primeira vez durante uma iniciativa liderada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2004, com participação de instituições financeiras de nove países, incluindo o Brasil.

Mais recentemente, virou esforço das empresas responsáveis e que buscam de fato um novo modelo de produção e relacionamento com a sociedade.

No caso da mineração, para André Viana, isso passa pelo respeito e reconhecimento da importância dos municípios minerados, como é o caso de Itabira, que há mais de 80 anos produz minério de ferro em larga escala, sem ter as correspondentes contrapartidas sociais, econômicas e ambientais por parte da Vale, como também dos governos estadual e federal.

“A nova mineração que queremos precisa respeitar os territórios minerados, não só com retorno financeiro por meio dos royalties (Cfem), mas também participando de projetos sustentáveis desde já, antes da exaustão mineral, que para muitos municípios já está próxima, como é o caso de Itabira”, defendeu André Viana na conversa com o ministro das Minas e Energia.

Viana e o ministro concordam que a mineração tem potencial e capacidade para processar essas mudanças, seja por força de uma nova legislação, como é o caso da segurança de barragens, como também por meio de ações comprometidas com um novo modelo, alterando o processo produtivo no sentido de buscar a descarbonização da atividade minerária, hoje altamente poluente.

Briquete verde

De acordo com André Viana, um bom exemplo é a adaptação, pela Vale, de usinas de pelotização para produzir uma nova commodity mineral para o mercado internacional, como meio de fomentar a descarbonização das siderúrgicas mundiais.

Trata-se de um novo produto chamado “briquete verde”, anunciado como tendo a capacidade de reduzir em até 10% as emissões de CO2 na atmosfera pelas usinas siderúrgicas. Faz parte também da estratégia da Vale de “reduzir em 15% as suas emissões de escopo 3, relativas à cadeia de valor, até 2035”.

A produção de “briquete verde” será inicialmente por meio de duas usinas de pelotização, em Vitória (ES), que estão sendo adaptadas para esse fim. Outra produção ocorrerá no Complexo Vargem Grande, em Minas Gerais, onde a empresa está instalando uma nova planta.

Os testes com esse novo produto “verde” já foram iniciados no complexo Tubarão, com expectativa de a nova planta começar a operar ainda neste ano.

“São alternativas que queremos ver em outras cidades, inclusive em Itabira, onde a empresa já deveria iniciar o processo de descomissionamento das minas, com a reabilitação produtiva das áreas mineradas, inclusive nos diques descaracterizados, o que certamente se somará a esse esforço de descarbonização.”, defende André Viana.

São pautas importantes e atuais que podem trazer resultados positivos para as cidades mineradas, com o novo modelo de mineração ainda por ser implantado. “A mineração tem um grande potencial de transformação, que pode ser para o bem ou para o mal”, avalia André Viana.

“Esperamos que daqui pra frente, com uma nova postura empresarial, e também do governo federal, possamos ter um novo modelo de mineração sustentável, com resultados positivos para os territórios impactados”, é o que espera o sindicalista e representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Vale.

“É para esse fim que temos dirigidos os nossos esforços, em conjunto com outras forças sindicais, sociais e políticas que comungam desses mesmos propósitos.”

Imagem negativa

Embora a mineração não esteja com boa imagem no país, principalmente após os trágicos acidentes com o rompimento de barragens em Mariana e Brumadinho, o seu potencial é grande.

“A Vale pode fazer muito mais no sentido de reverter essa imagem negativa, o que demanda mais ações concretas, menos discursos e propagandas na internet, jornais e televisão”, defende o sindicalista, para quem a mineradora tem potencial de ser um player de mercado também nessa área.

“É preciso alavancar novos projetos estruturantes e sustentáveis nos territórios minerados, começando por Itabira que vive o crepúsculo da mineração, ainda que isso se estenda por um horizonte temporal que vá além de 2041”, avalia André Viana, citando a nova data indicada pela Vale, pelo relatório Form-20, para a exaustão mineral de Itabira, em comunicado à Bolsa de Nova Iorque.

“O futuro é agora e já começou. Não há tempo a perder, precisamos descruzar os braços e reivindicar o que é de direito dos municípios minerados que sofrem com os impactos negativos de uma mineração ainda predatória”, defendeu o sindicalista na conversa com o ministro das Minas e Energia.

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