Para falar da vida é preciso debater o suicídio sem preconceito, mas com diálogo, assistência e compreensão

No debate sobre a vida não deve haver assunto proibido, desde que seja de interesse público. E mais ainda quando se trata de saúde pública, tema que afeta a todos indistintamente.

Foi pensando em como provocar um debate mais abrangente, nacional e sem preconceitos sobre o suicídio, que desde 2015 foi instituída a campanha denominada Setembro Amarelo. Afinal, o suicídio é a segunda causa principal de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos – e afeta também pessoas de todas as idades e classes sociais.

A iniciativa foi do Centro de Valorização da Vida (CVV), do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), que se mobilizaram e instituíram a campanha nacional de prevenção ao suicídio.

Portanto, há quatro anos o dia 10 de setembro passou a ser dedicado à reflexão e à realização de atividades prevencionistas, que se estendem por todo o mês. A proposta é debater situações e causas que levam ao suicídio, sem medo de achar que falar sobre o assunto possa estimular o autoextermínio.

Afinal, trata-se de um problema grave de saúde em escala mundial. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 800 mil pessoas se matam em todo mundo a cada ano. E que, até 2020, mais de 1,5 milhão de pessoas devem cometer suicídio em todo o mundo. Daí que o tema deve merecer toda atenção de profissionais de saúde e da sociedade em geral.

Ocorrências

“O suicídio não precisa de divulgação sensacionalista, mas de informações com ética e responsabilidade, que informam e tratam do tema sem preconceitos”, defendeu o psicólogo Marcelo Amorim, diretor de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde, em palestra na Câmara Municipal de Itabira, no dia 30 de agosto. Leia também aqui.

Marcelo Amorim: “o suicídio não precisa de sensacionalismo, mas de notícias que informam e tratam do tema sem preconceitos.” (Fotos: Carlos Cruz, Divulgação e Internet)

Segundo ele, o tema é recorrente em Itabira, mas muitas vezes surge carregado de preconceitos. A começar pela ideia de que a cidade é campeã nacional em suicídio, o que foi por ele prontamente rechaçado.

“Isso é mentira. A cidade onde mais se comete suicídio no país é Viamão, no Rio Grande do Sul, com registro de 27 casos para cada grupo de 100 mil pessoas”, afirmou.

Mas isso não significa que a situação deixa de ser grave em Itabira. O registro municipal é de 18 casos por ano para um grupo de 100 mil habitantes. Esse índice embora possa estar subestimado, não é diferente do que ocorre em muitas outras cidades.  É que os próprios familiares procuram esconder as ocorrências, pela carga de preconceito que o ato carrega.

Além disso, o índice de Itabira está acima da média estadual, que é de 12 casos, figurando entre as sete cidades mineiras onde mais se cometem suicídios no estado. E está bem acima da média nacional, que é de 6,3 casos para cada grupo de 100 mil habitantes.

Causas

De acordo com o psicólogo, o ato de se matar geralmente ocorre em momentos de extrema instabilidade emocional.  “Não se trata de fraqueza. Em toda parte do mundo, o autoextermínio tem como causa principal a depressão”, explicou o diretor de Saúde Mental.

“Essas pessoas estão emocionalmente fragilizadas, e precisam de atenção e carinho, de uma boa conversa e de cuidados especiais, tanto dos profissionais de saúde, como também de amigos e familiares”, recomenda Marcelo Amorim, que prescreve também mais cultura e lazer para a população.

Com ele concorda a assistente social Rosa Cristina de Faria Martins da Costa Fontes, assistente social do Hospital Nossa Senhora das Dores (HNSD), para quem “é necessário falar sobre o suicídio de forma responsável, enfatizando a prevenção como o melhor caminho para minimizar e até mesmo evitar o sofrimento mental”.

Atendimentos

É o que, segundo ela, têm sido orientados a fazer os profissionais do hospital, não só a equipe de saúde mental, mas todos que convivem com pacientes, principalmente dos seis leitos de retaguarda para atendimento de saúde mental no município e região. Para esse atendimento, o HNSD mantém convênio desde 2016 com o Ministério da Saúde.

E é o que faz também toda a rede municipal de saúde mental, instalada desde 1992, como os Caps adulto, Álcool e Drogas e Infantil. A rede é também integrada pelo Centro de Valorização à Vida (CVV), que oferece apoio afetivo e emocional. Isso enquanto os Caps oferecem assistência psicológica e de outros profissionais de saúde.

Em Itabira, o CVV atende pelo telefone 31 3831 4111 – com assistência diária, no horário de 18h às 22h. No Brasil, o atendimento é feito pelo número telefônico 188 – e é também gratuito, com atendimento 24 horas por dia.

Casa de Cura

Atendimento na Casa da Cura, no Setembro Amarelo do ano passado

Ainda em Itabira, a Casa de Cura de Terapias Naturais também promove uma ação para promover essa campanha de valorização da vida. “O tratamento natural vem para complementar o tratamento convencional”, explica seus organizadores.

Para isso, neste sábado (14), haverá atendimentos voluntários, no horário de 9h às 15h, na rua Urânio, 32, no bairro Major Lage.

Os atendimentos são gratuitos e todos podem ser beneficiados: familiares, idosos e crianças. A única solicitação é que se leve um quilo de alimento não perecível, que será doado a famílias carentes.

No ano passado, mais de 100 pessoas foram beneficiadas pelos atendimentos na casa, com terapias, oficinas e palestras. O objetivo da Casa de Cura é promover a saúde e o bem-estar dos itabiranos, sem técnicas invasivas e remédios.

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