Os tantos bodes numa cela chamada Brasil … e a bola de cristal
Marcelo Procopio*
O Brasil precisa parar com isso, Temer. O país precisa de mudanças radicais é mais um mantra que um sentimento. E a saída que restou. Sabemos. Foi assim, bêbado de ‘ontem’, que o Brasil acordou na quinta (18 de maio) e permaneceu nesta sexta e estará sábado, domingo, segunda. Até que Temer saia. Até que as eleições Diretas Já aconteçam.
Nestes dias queria mesmo é ter uma bola de cristal de alta definição. Como aquela que o escritor Roberto Drummond tirava do armário quando queria prever, nas suas crônicas esportivas, o que aconteceria num futuro muito próximo. Amanhã, por exemplo. Ou agora. Num instante.
É isso. Neste exato instante em que o Brasil ferve num fedor podre de política, gostaria que essa imaginária bola de cristal pudesse me levar para dentro das salas de estar, de jantar. Para os escritórios, salas de reunião, mesas de bares, pros cafés da tarde, lugares quaisquer onde circulam dia e noite, a trabalho, lazer ou lareio, as conhecidas classes média e alta brasileiras.
Essas pessoas que cultuam o ódio não só à esquerda. A qualquer coisa que vá além do limite de suas culturas sobre democracia, direitos.
Gostaria de escutá-los. No aconchego tornado desde o dia 17 um desvario. Será como dormiram desde quarta última? Será que jantaram com a família? Será como se comportaram nos bares? Gritaram? Perderam a linha? Qual foi o ritmo de suas conversas? E hoje? E depois de amanhã?
E se estamos em Minas, e os eleitores de Aécio – ex-solução burguesa? os mesmos que defenderam Temer contra Dilma, o que pensam agora do Brasil? E os que queriam se multiplicar em Moros e Cunhas (lembram daquela faixa na grade do Palácio da Liberdade)?
E agora, pessoas? Onde esconder a vergonha? Como vão dizer que sempre foram contra todos?
Mas não é só de políticos que o Brasil precisa mudar. Precisa mudar de política. Precisa mudar as cabeças e os “cabeças” das idiossincrasias. As elites econômicas e seus políticos amestrados.São os que decidem eleições, porque o dinheiro das campanhas vem deles. Se agora empresas não podem mais financiar candidaturas, pessoas físicas donas de fortunas e super empresas doam sem limites legais.
A bola de cristal. Ainda tento fazê-la funcionar. Por enquanto ouço chiados. Vozes se entrelaçando inaudíveis. Quem sabe Roberto Drummond explica qual botão separa voz e grito.
Fico aqui pensando naqueles caras que tentaram-me agredir num bar no Carmo, em Belo Horizonte. (escrevi sobre esse episódio na Vila de Utopia, leia aqui). É esse tipo de gente que gostaria de ouvir na bola de cristal.
Eles representam esse estado de coisas. Representam a negação de uma outra democracia. A que vivemos prescreveu.
Na Constituição está escrito: somos uma democracia representativa: com senadores, deputados e vereadores.
Precisamos mais. A bola de cristal agora mostra imagens mais nítidas. Mas os diálogos da direita raivosa, não.
É de democracia mais ampla, que estávamos falando. Se a representativa ainda vigorará, podemos fazer dela uma democracia participativa.
Há um outro tempo vigorando e crescente. E as pessoas não querem mais esperar por cada eleição para apenas votar. Reporto-me a Leonardo Sakamoto. Com internet, a facilidade de mobilização nos aproxima.E nos faz querer entrar no novo mundo, não mais como espectador, mas como ator.
Então, democracia participativa é pouco. Então democracia socialista. Um formato que abra espaço para trabalhadores, estudantes, micro e pequenos empresários, sindicatos. E não apenas alto poder econômico, a velha mídia, os de sempre e seus políticos amestrados.
Espera, a bola de cristal mostra imagem. Não é a das reformas trabalhista e da previdência: essas, como foram elaboradas, tiram direitos do trabalhador e atendem a anseios do empregador. Apaga-las é a alternativa.
Reforma Política? Ainda não é essa a imagem na bola de cristal.Mas a Reforma Política teria que vir de uma mini-constituinte exclusiva, eleita para tal fim. Para criarmos outra democracia, com regras e até suas nuances definidas.
O que a bola de cristal mostra com clareza é que alguns bodes foram tirados de algumas salas.
Não, não há apenas um bode em cada sala. Há vários. É preciso tirar todos os bodes e os donos dos bodes, que também são bodes.
Aí, sim, quem sabe, o mundo é grande, se abriria no Brasil uma nova tela de realidade, traçada nas teias da democracia ampla, geral e irrestrita.E socialista.
A teoria do bode
Existem várias versões sobre o bode dentro de um espaço cheio de pessoas. Uma foi contada por Mino Carta ainda nos anos 1980. Assim:
Na Rússia czarista a cela de uma cadeia estava superlotada e os presos viviam reclamando da falta de espaço até para respirar.
Então, o delegado colocou um bode dentro da cela. O que já era insuportável tornou-se um caos.
No dia seguinte o delegado tirou o bode da cela. Houve um alívio. Continuava insuportável viver assim. Mas sem o bode…
— Tiremos, pois, todos os bodes – e os donos dos bodes – que atravancam o Brasil. Quem sabe assim…
Porque…
As salas do poder estão cheias de bodes.
No executivo, no legislativo e no judiciário.
Tirar um só de cada sala não é a solução.
*Marcelo Procopio é jornalista e editor de O Cometa
Você é Grande Marcelo Procopio…me representa, e sinto um imenso orgulho em saber que nem tudo está perdido, porque como você, devem ter mais. Marcelos por aí! Um grande abraço..
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O problema é que essa sala Brasil transformou-se em um aprisco repleto de bodes…
acho que o artigo do wilson ferreira esclarece:
CULTURA
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Pesquisa coloca Brasil entre países mais “ignorantes” do planeta, por Wilson Ferreira
SEX, 16/12/2016 – 07:57
por Wilson Ferreira
Certa vez o sociólogo francês Pierre Bourdieu provocou: “a opinião pública não existe”. A pesquisa “Perils of Perception 2016” (Perigos da Percepção) do instituto britânico Ipsos Mori parece confirmar isso: na verdade a opinião confunde-se com percepção, assim como nos telejornais atuais as notícias são confundidas com “sensações”, seja dos jornalistas ou dos telespectadores. O resultado da pesquisa foi a criação do “Ranking da Ignorância” – a distância entre a percepção que as pessoas têm da realidade em que vivem e os dados oficiais de cada país. O Brasil ocupa os primeiros lugares, atrás da Índia, China e EUA. Entre os países menos “ignorantes”, Holanda e Coréia do Sul. Incapacidade de entender estatísticas, preconceito, atalhos mentais, ignorância racional e o “poder das anedotas” das mídias estão entre os fatores apontados pela disparidade entre percepção e realidade. Também há um fator comum entre os países primeiros colocados: o monopólio midiático.
É comum na grande imprensa as palavras “percepção” e “sensação” serem tomadas como sinônimos. Por exemplo, em um telejornal fala-se da necessidade de construir um posto da Polícia Militar na praça de um bairro com altos índices de criminalidade. Segundo o repórter, o posto criaria uma “percepção de segurança” para os moradores.
Ou então fala-se em “sensação de crise” no final do ano quando, na base do olhômetro, o repórter conta o número de pessoas que não carregam sacolas de compras em um shopping.
Ou ainda quando se faz uma rápida enquete com populares em algum calçadão do centro da cidade para confirmar alguma “percepção” sobre qualquer coisa.
Atualmente, notícias se confundem com “percepções” ou “sensações” tomadas como evidências sobre qualquer suposta tendência, crise ou acontecimento. É o que recentemente tem sido denominado de “pós-verdade” – um grande arco que vai do menosprezo por fatos objetivos até a ignorância racional e o efeito Dunnig-Kruger – indivíduos acreditam saber mais do que especialistas por estarem abastecidos por clichês, sofismas e frases prontas.
Porém, percepções não são a realidade. É o que comprova a pesquisa do Instituto Ipsos Mori “Os Perigos da Percepção 2016”, realizada entre os meses de setembro e novembro envolvendo 40 países. O objetivo é demonstrar o quanto as pessoas têm uma interpretação equivocada da sua própria realidade – a diferença entre a percepção (desvalorização ou exaltação de determinados temas que preocupam a sociedade) e os dados estatísticos oficiais de uma determinada realidade.
A partir dos dados coletados, a pesquisa conseguiu traçar o “índice da ignorância”, listando os países cuja percepção é mais distante da realidade.
A Índia aparece em primeiro, seguida por China e Taiwan. O Brasil figura em sexto lugar, após os EUA. Na ponta oposta do índice estão Holanda, Reino Unido e Coréia do Sul
Aqui o conceito de “ignorância” não implica em falta de inteligência, mas apenas falta de conhecimento ou informação objetiva sobre uma realidade. O objetivo principal da pesquisa é levantar questões sobre o porquê da disparidade entre a percepção e os dados oficiais de cada país.
Os Resultados
Segundo a pesquisa, os brasileiros acham que a população muçulmana no País é muito maior (12%) do que na realidade (menos de 0,1%) – França, no topo, 31% contra 7% na realidade. E se equivocam ainda mais por acreditar que até 2050 que a religião islâmica chegará a 18% da população, enquanto dados reais que chegará no máximo a 1%.
Perguntados sobre a proporção da população que diz ser feliz, os brasileiros falam em 40% enquanto estudos indicam que são 92% aqueles que se consideram felizes.
Brasileiros também se equivocam quanto a proporção da distribuição da riqueza: para os entrevistados, os 70% menos ricos detém 24% da riqueza quando a realidade é muito pior, apenas 9%.
Ainda consideram que o Brasil é mais tolerante do que realmente é. Os entrevistados acreditam que mais de 50% da população acham que a homossexualidade é moralmente aceitável. Mas dados oficiais apontam que só 39% pensam assim.
Ranking de 2015
Quanto ao sexo antes do casamento, os brasileiros sobrestimam o preconceito: acham que 43% não aceitam – quando o dado real é 35%. E o inverso é sobre o tema aborto: acham que 61% devem considerar moralmente inaceitável. Dados reais indicam 79% da população.
Os dados coletados sobre a percepção dos entrevistados foram confrontados com diferentes fontes de informações oficiais e institutos de pesquisas de cada um dos países.
Bombas Semióticas
Os resultados sobre os Perigos da Percepção do Ipsos Mori confirmam os resultados do atual estágio da engenharia de opinião pública, não mais focada nas estratégias hipodérmicas de repetição e doutrinação político-ideológica do passado, mas agora concentradas na detonação do que o Cinegnose chama de “bombas semióticas” que torna-se instrumento da “Guerra Híbrida” – através da moldagem da percepção por estratégias de “agenda setting” e “espiral do silêncio” criar “climas de opinião” que evoluem para “ignorância racionalizada” através dos clichês de noticiários que confundem notícia com percepção.
Os pesquisadores do Instituto Ipsos Mori apontam para alguns motivos sobre essa discrepância entre percepção e realidade:
(a) Inabilidade com números
Somos particularmente pouco hábeis em lidar com cifras numéricas ou muito elevadas ou muito pequenas – o que afeta nossa capacidade de pensar em, por exemplo, distribuição de renda ou em supervalorizarmos os números sobre gravidez na adolescência, como mostram dados sobre crimes praticada por menores: a percepção é de 70% quando dados oficiais apontam para 20% .
ESPAÇO COLABORATIVO DE COMENTÁRIOS
drigoeira
Educação é tudo. O Brasil tem potencial monumental. E os caras querem restringir a educação pública. A revolta é de matar!!!