O mundo vasto mundo de CDA – XIV (2)
Pesquisa e Acervo: Cristina Silveira
1958 – O AR SERENO. Camões em sua tempestade mostra-nos o ar em convulsão, escutemos outro poeta – CDA – que nos vai falar de uma atmosfera tranquila, povoada pela música, uma Minas Gerais toda barroca e intima. (José Paulo Moreira da Fonseca) Correio da Manhã (RJ), 13/9/58.
Evocação Mariana
A igreja era grande e pobre. Os altares humildes.
Havia poucas flores. Eram flores de horta.
Sob a luz fraca, na sombra esculpida
(quais as imagens e quais os fiéis?)
ficávamos.
Do padre cansado o murmúrio de reza
subia às tabuas do forro,
batia no púlpito seco,
entranhava-se na onda, minúscula e forte, de incenso,
perdia-se.
Não, não se perdia…
Desatava-se do coro a música deliciosa
(que esperas ouvir à hora da morte, ou depois da morte, nas campinas do ar)
e dessa música surgiam meninas – a alvura mesma –
cantando.
De seu peso terrestre a nave libertada,
Como do tempo atroz imunes nossas almas,
flutuávamos
no canto matinal, sobre a treva do vale. (CDA)
1958 – CDA faz depoimento literário para o Boletim Bibliográfico Brasileiro. Jornal do Brasil (RJ), 7/7/58.
1958 – Em homenagem a Raquel de Queiroz, pelo Prêmio Machado de Assis, na Churrascaria Jardim, em Copacabana, esteve presente Dolores Dutra Andrade, mãe da bela Maria Julieta. Jornal do Brasil (RJ), 8/7/58.
1958 – Livros na Mesa. Manuel Bandeira – Poesia e Prosa – Volume I (Poesia) – Introdução geral de Sérgio Buarque de Holanda e Francisco de Assis Brasil e Notas Preliminares de CDA, João Ribeiro e outros escritores. Inclui partituras de poetas musicados. Edição de José Aguilar. Correio da Manhã (RJ), 2/8/1958.
1958 – Livros da Semana. História da Literatura Mineira. Depois da Biografia Crítica das Letras Mineiras, de Fausto Cunha e Waltensir Dutra, temos agora a História da Literatura Mineira, de Martins de Oliveira. Eduardo Frieiro já declarou que não acredita em literaturas estaduais.
Na realidade, é muito difícil estabelecer um conceito das mesmas. O que configura a existência de uma literatura é a língua. Tanto assim que os escritores belgas e os suíços que escrevem em francês são incorporados à literatura francesa.
No Brasil só há uma língua e nenhum Estado, a nosso ver, possui características próprias para constituir uma literatura à parte. Martins de Oliveira foi figura de destaque no Movimento Modernista em Minas. Ao lado de CDA, fundou um periódico A Revista, que, com as suas ousadias, agitou o ambiente intelectual da montanha. Correio da Manhã (RJ), 23/8/1958.
1958 – O Liceu Literário Português, comemora 90 anos com um programa de poesia em que consta E Agora José, de CDA. Jornal do Brasil (RJ), 27/8/58.
1958 – Autografo de CDA consta da coleção de 1.200 autógrafos de Arnaud Austin. Jornal do Brasil (RJ), 31/8/58.
1958 – Moderna Literatura Portuguesa, José Condé: O escritor português Urbano Tavares Rodrigues conta ao José Condé: O publico português continua a interessar-se enormemente pelo romance e pela poesia do Brasil. Entre os poetas CDA, começam agora a chamar a atenção do público português. Correio da Manhã (RJ), 31/8/58.
1958 – A Casa Pariofhon, de Londres, lançou long-play com obra de CDA e outros da literatura brasileira. Jornal do Brasil (RJ), 7/9/58.
1958 – Machado de Assis homenageado pela cidade onde nasceu. Segundo desejo expresso em testamento, Joaquim Maria Machado de Assis, repousa no cemitério São João Batista ao lado de sua esposa – a grande companheira de sua vida – D. Carolina Candida Machado de Assis, a Carolina imortalizada pelo escritor no famoso soneto que começa com a estrofe:
Querida, ao pé do leito derradeiro /Em que descansas dessa longa vida, /Aqui venho e virei pobre querida, /Trazer-te o coração do companheiro.
Ontem, acadêmicos, admiradores da obra do escritor e componentes da Sociedade de Amigos de Machado de Assis, estiveram no cemitério e, levando flores, foram homenagear a memória dos dois. CDA esteve presente na breve e comovente homenagem. Correio da Manhã (RJ), 30/9/58.
1958 – O Grupo de Teatro Os Desconhecidos, apresenta na Biblioteca Gen. Lobo Viana, Sociedade, poesia de CDA. Jornal do Brasil (RJ), 8/10/58.
1958 – Anúncio. Livraria José Olympio: Nas Livrarias: Contos de Aprendiz, 2ª edição aumentada. Correio da Manhã (RJ), 8/10/58.
1958 – CDA colaborador da Revista Leitura. Jornal do Brasil (RJ), 15/10/58.
1958 – CDA assinou manifesto contra a remoção dos despojos de Machado de Assis. Um grupo de escritores e jornalistas dirigiu a seguinte declaração:
“Os escritores e jornalistas abaixo-assinados, reverentes à memória de Machado de Assis, manifestam reprovação à ideia de remover os despojos do grande romancista do lugar onde se encontram para um monumento funerário coletivo. Essa trasladação viria desobedecer à vontade expressa do autor de Dom Casmurro, que queria ser inumado no singelo carneiro de n. 1.359 do Cemitério São João Batista, exclusivamente junto aos restos mortais de sua esposa.
Tratando-se de jazigo perpetuo, cuja a guarda e intangibilidade devem ser objeto de zelo dos órgãos municipais, e cujo significado histórico e cultural é patrimônio comum da intelectualidade brasileira, os signatários confiam em que a Prefeitura do Distrito Federal impeça a consumação do atentado”. Rio de Janeiro, 13 de outubro de 1958. Correio da Manhã (RJ), 18/10/1958.
1958 – Pernambuco. Busto de Manuel Bandeira. Um dos patrocinadores da homenagem ao poeta Manuel Bandeira pelo povo do Recife, informou à reportagem que o busto de Bandeira executado pelo escultor Celso Antonio e que será colocado numa das praças de Recife, dentro de alguns dias será embarcado de caminhão, no Rio até o Recife.
Informou também que intelectuais da capital da Republica, entre eles CDA, Rodrigo de Melo Franco de Andrade, jornalistas e cronistas, irão ao Recife para assistir a homenagem. Correio da Manhã (RJ), 26/10/1958.
1958 – Coluna Escritores e Livros de José Condé. Geração 56 – consciente de sua missão histórica – propõe uma nova atitude perante a arte e em face da vida. Como artistas, – pondo de parte as convicções filosóficas, religiosas e políticas de cada um – os poetas da geração 56 preconizam a adoção das seguintes diretrizes de composição poética, já eventual e assistematicamente seguidas pelos de geração anteriores: CDA – Adensar as vivências (Havia jardins, havia manhãs, naquele tempo). Correio da Manhã (RJ), 30/10/58.
1958 – CDA é poeta, contista e cronista de acentuada personalidade, uma das figuras mais características do modernismo mineiro. Tristeza, ironia, originalidade caracterizam o artista, dos mais discutidos na literatura do Brasil, por N.C. na Coluna Vida Cultural. Correio da Manhã (RJ), 31/10/58.
1958 – Coluna Escritores e Livros, de José Condé. Cidade das Letras. Pela José Olympio acaba de sair a segunda edição (aumentada) de Contos de Aprendiz, de CDA, onde figura uma das mais belas histórias curtas já escritas neste país, Flor, Telefone, Moça. Talvez o leitor não saiba: esse conto foi feito inicialmente para um antigo programa apresentado pela a Rádio MEC: Clube dos Treze. Correio da Manhã (RJ), 11/11/58.
1958 – A propósito das tentativas de alguma pintura no plano da poesia, CDA teria confidenciado a Eneida a sua aprovação, pois pensava seriamente em fazer algumas experiências com os pinceis. Aguardava a oportunidade. Coluna das Artes Plásticas, assinada por Jaime Maurício. Correio da Manhã (RJ), 23/11/1958.
1958 – Coluna Livros da Semana. Contos de Aprendiz. Há sete anos CDA incursionava por mais um gênero literário, a ficção, com o virtuosismo que o caracteriza, publicando Contos de Aprendiz. É preciso lembrar que ultimamente se vem aplicando o rótulo de conto com um elastério extraordinário, a simples divagações poemáticas sem o menor substrato anedótico.
Há mesmo quem se insurja até contra esse substrato e julgue que conto não tem nenhuma relação com história ou narrativa. Evidentemente, é muito mais fácil escrever conto sem contar coisa alguma, recorrendo às tais “situações” poéticas nesta época, em que a poesia oferece um recurso prático para muita mistificação.
Os “contos” de CDA são contos em toda a expressão da palavra, na maior parte, carregados daquele humor lírico que lhe marca tão profundamente a poesia. Há neles, sem dúvida, muita poesia, embora não sejam poesia em forma de contos. Nesta segunda edição o autor acrescentou mais duas narrativas, Conversa de Velho com Criança e Um Escritor Nasce e Morre, já incluídas anteriormente, no livro Confissões de Minas.
No entanto, CDA indica no pórtico do livro o seu desinteresse pelo enredo. Nas histórias que ouvia, quando menino, o que lhe despertava a atenção não era a intriga, o desfecho, a moralidade, mas a resposta de um personagem, o mistério de um incidente, a cor de um chapéu, um aspecto particular da narrativa.
Com isso ele dá a entender que partiu sempre de um detalhe no qual encontrou o fulcro da narrativa, circunstancia que não impede o leitor de interessar-se por todo conto, sempre construído artisticamente numa prosa límpida e enxuta.
Na realidade, CDA experimentou nesse livro várias técnicas de narrativa. Denominou-os, talvez, por isso, Contos de Aprendiz. Do aprendiz que há de ser eternamente o verdadeiro artista. Correio da Manhã (RJ), 29/11/58.
1958 – Coluna Escritores e Livros, de José Condé. Circulando o número de dezembro LEITURA, com colaborações assinadas de CDA, Aníbal Machado, Rubem Braga, Homero Homem, Adonias Filho, M. Cavalcanti Proença, Barboza Melo, J. Guimarães Menegale, Yvone Jean, Luís da Câmara Cascudo e outros. A capa reproduz uma tela de Cândido Portinari. Correio da Manhã (RJ), 11/12/58.
1958 – Exposição de Natal da Escolinha de Arte do Brasil apresenta um poema manuscrito e inédito de CDA. Jornal do Brasil (RJ), 13/12/58.