Marcelo Rubens Paiva publica a sua última coluna semanal no Estadão dando nomes aos responsáveis pela tragédia no RS
Foto: Renato Parada/ Divulgação/EM
O escritor, jornalista e dramaturgo Marcelo Rubens Paiva não é mais colunista do jornal Estado de S. Paulo, depois de 22 anos publicando sua coluna semanal. Em postagem na rede social, ele comunicou que deixa o Estadão “sem mágoas”.
“Alguns me perguntaram por que minha coluna não saiu hoje no Estadão. Não sou mais colunista”, ele revelou na mesma postagem. “É um grande jornal, onde tive total liberdade e respeito, nunca fui censurado. Porém, os tempos mudaram”, escreveu, sem detalhar quais foram essas mudanças dos novos tempos.
Mas não é dificil imaginar que a história não é bem assim, tão “sem mágoas”. E é legítimo especular que o filho do deputado Rubens Paiva, desaparecido e morto pela ditadura em 1971, autor de “Feliz Ano Velho”. best-seller nacional de 1982, não teria deixado o vetusto jornal por alguma razão prosaica. E certamente não foi por cansaço de quem já está com 65 anos, em plena atividade e criatividade.
Segundo o portal Brasil 247, o que levou o jornalista a se desligar compulsoriamente do Estadão foi a sua última coluna “dando o nome aos bois” dos responsáveis pela tragédia ambiental e humana com as sucessivas enchentes no Rio Grande do Sul: “O negacionismo, assim como a tragédia ambiental brasileira, precisa ser politizado”, manchetou o jornalista em sua última coluna semanal no Estadão.
Se é fato ou ficção, somente o jornalista pode dizer, ou alguém da família Mesquita. De todo modo, vale a pena ler a sua última coluna no Estadão:
O negacionismo, assim como a tragédia ambiental brasileira, precisa ser politizado
Por Marcelo Rubens Paiva
Postou no X o cantor e compositor conhecido como China: “‘Não é hora para achar culpados’, disseram os culpados”.
Nesta semana, em que os gaúchos lutam para sobreviver, a CCJ do Senado votaria quarta-feira para diminuir de 80% para 50% a área de reserva legal da Amazônia. Sessão foi adiada. Por conta do respeito ao meio ambiente? Não. Porque o relator, senador do Amapá, Márcio Bittar (União), estava de licença médica.
O negacionismo tem de ser politizado. A tragédia ambiental brasileira, bolha de calor no Sudeste, chuvas no Sul, tem, sim, de ser politizada. Basta assistir à ação da bancada do boi, agro e soja no Congresso.
Porto Alegre não investiu um centavo na prevenção contra enchentes em 2023, apesar de o departamento responsável ter mais de R$ 400 milhões em caixa. A Prefeitura admitiu que o item “Melhoria no sistema contra cheias” ficou de fora do orçamento do ano passado.
Mais estarrecedora ainda é a informação de que, ignorando alertas, o governador Eduardo Leite fez 480 alterações em 2019 no Código Ambiental que foi discutido por nove anos em audiências com especialistas.
No Brasil, a ciência vai para um lado (submerge), e o lobby do agronegócio para outro (enriquece).
O governador gaúcho criou novos conceitos na definição de aquífero, que retém a água das chuvas e permeabiliza o solo, suprimiu definições de área saturada e em vias de saturação, áreas de conservação, ecossistema, espaços territoriais especialmente protegidos, lençol freático.
O conceito de Área de Preservação Permanente foi alterado, permitindo a intervenção sem necessidade de autorização prévia do órgão ambiental. A definição de Unidade de Conservação foi mudada sem garantias adequadas de proteção.
Muitas nascentes perderam a proteção, já que, pelo novo conceito, precisa formar curso d’água. O manejo ecológico também foi alterado, suprimindo a necessidade de correção dos danos no meio ambiente.
A minuta depois de 2019 “engloba conceitos que deveriam seguir após as disposições, de modo que há uma confusão de termos”, revela o grupo Analistas Ambientais da Fundação Estadual de Proteção Ambiental.
Foi revogado que o Estado fomentaria a proteção do meio ambiente por meio de incentivos e mecanismos econômicos e a utilização sustentável dos recursos ambientais.
Foram suprimidos todos os mecanismos de apoio financeiro para pesquisas e centros de pesquisas, manutenção de ecossistemas, racionalização do aproveitamento da água.
Retiraram as vedações de acesso ao crédito e financiamento por empresas e órgãos públicos cuja situação não estiver regularizada nas legislações relacionadas com defesa do meio ambiente.
O decreto do vale-tudo foi implementado há cinco anos.
Fontes: Estado de S.Paulo e Brasil 247