O mundo vasto mundo de CDA – IX –

Pesquisa e Acervo:
Cristina Silveira

1956 – Ciclo, um livro extraordinário de CDA. Brochura, primeira e única edição, 1957, tiragem de 96 exemplares numerados e assinados pelo poeta e pelo ilustrador Reynaldo Fonseca, que coloriu a mão as gravuras em madeira com seus desenhos.

Excepcional projeto gráfico em sequência de folhas unidas e desdobráveis, impressa pelo famoso Gráfico Amador, fábrica de lirismo, dirigida por Gastão de Holanda e outros do Recife. Um dos itens mais raros e valiosos da bibliografia de Carlos Drummond de Andrade. Jornal do Brasil (RJ), 8/9/56.

1956 – O Correio da Manhã comemora 500 crônicas de C.D.A. iniciou a sua colaboração no Correio no dia 9 de janeiro de 1954, quase três anos, no canto da coluna que lhe pertence na sexta-feira. Depoimentos sobre CDA:

Leitora assídua do Correio: “Drummond é um monstro; tudo que faz em literatura é bem feito. Poeta imenso, suas crônicas são das melhores desta cidade. Jamais perdi a coluna de C.D.A., com ela aprendo muitíssimo”.

Alberto Passos Guimarães e Valdemar Cavalcanti (1912-1982) em 1931 fundaram a revista Novidade, em Maceió

Valdemar Cavalcanti, crítico literário: “Drummond é o único grande poeta que se dá ao luxo de ser também grande escritor”.

Aníbal Machado (1894-1964)

Aníbal Machado, novelista: “Quem se der ao capricho malévolo de catar uma crônica de C.D.A. que não tenha interesse seja artístico, humano ou politico, ficará decepcionado. Nele, o grande poeta e o prosador se igualam. Prova disso, são as crônicas que hoje totalizam meio milhão, e deram para ver a centena de milhares de leitores”.

Brito Broca (1903-1961)

Brito Broca, ensaísta: “Para mim o CDA prosador é tão grande quanto o poeta. A plasticidade do seu espirito surpreende, pois nele encontramos o humorismo, o poeta lírico e por vezes até o polemista, sempre da mesma estatura intelectual”.

Benedito Valadares (1892-1973)

Benedito Valadares, senador: “Nas crônicas de CDA insinua-se tal sedução que chegou a atrair homens que na Revolução de 32 pensavam somente na estratégia dos combates. E o Correio da Manhã já publicou 500 dessas crônicas”.

Palafitas, óleo sobre tela colada em placa de José Paulo Moreira da Fonseca (1922-2004)

José Paulo Moreira da Fonseca fez a sua saudação em redondilha: “As “Imagens” dos momentos /Em palavras são guardadas. /Cinco centos já de imagens /Ao tempo foram furtadas”.

Mauritônio Meira, poeta: “C.D.A. consegue fazer poesia mesmo se expressando num gênero antipoético como o jornalismo”.

Flávio Marinho Rêgo (1925-2001)

Flávio Marinho Rêgo, arquiteto: “Tenho recortadas várias “Imagens” de C.D.A. Precisarei acrescentar mais alguma coisa?”

Chuca-Chuca, pianista do Ma Griffe Bar, no Beco das Garrafas: “C.D.A. escreve como “gente grande”.

Francisco Resende de Faria, advogado: “Confesso que foi somente depois de ler o cronista, que passei a compreender e admirar o grande poeta”.

Eloina Ferraz, atriz

Eloina Ferraz, artista do teatro de revista: “Poderá parecer pretencioso de minha parte confessar que sou fã de CDA. Mas espero que me deem licença para ser leitora assídua de suas crônicas no Correio da Manhã e de saber algumas de suas poesias de cor…”

Armando Augusto Alves, motorista (taxi chapa 44244): Sou leitor de C.D.A. É o meu cronista preferido.

Kalma Murtinho (1920-2013), figurinista e fundadora do Tablado. Acervo KM.

Kalma Murtinho, atriz do Tablado: “O que eu posso dizer é que o CDA é o meu grande poeta brasileiro”. Correio da Manhã (RJ), 11/8/56.

Herbert Moses (1884-1972)

1956 – Meio milhar de crônicas. CDA recebeu da Associação Brasileira de Imprensa a seguinte carta: Meu caro CDA: Os seus amigos da ABI – o que vale dizer, todos os sócios – também estão presentes para felicita-lo ao ver publicado o seu milhar de crônicas diárias no Correio da Manhã, com que você brinda todas as manhãs seus inúmeros leitores, proporcionando-lhes um grande, um imenso prazer espiritual. Receba, portanto, os cumprimentos da ABI, e particularmente o abraço muito afetuoso e cordial do seu leitor matinal, Herbert Moses. Correio da Manhã (RJ), 17/8/56.

1956 – Discografia Poética. A Editora Festa lança o primeiro LP dos jograis com poemas de vários brasileiros, entre eles o nosso CDA. Correio da Manhã (RJ), 4/9/56.

1956 – No I Congresso Brasileiro de Língua Falada no Teatro, realizado em Salvador (BA), Ana Edler e Antonio Patino, apresentaram recital de Poesia, começa com o cancioneiro de Dom Diniz e termina com poema de CDA. Correio da Manhã (RJ), 11/9/56.

1956 – A senhorita Glorinha Drummond, sabe de cor, algumas poesias de CDA. Às vezes, quando a oportunidade é propícia, recita determinados veros… Correio da Manhã (RJ), 12/9/56.

Lygia Fagundes Telles, em 1945.

1956 – CDA escreve a apresentação do livro, Ciranda de Pedra, de Lygia Fagundes Telles. Correio da Manhã (RJ), 15/9/56.

1956 – Deu na coluna Escritores e Livros, de José Condé: CDA, Manuel Bandeira, Eneida e Irineu Garcia estão em Belo Horizonte desde sexta-feira. Os dois primeiros foram autografar o LP contendo suas poesias. Correio da Manhã (RJ), 23/9/56.

1956 – CDA é convidado da TV-Rio para participar do programa A História da Semana, em 30 a 40 minutos, divulgará crônicas, contos, novelas, dirigido por Jason César. Correio da Manhã (RJ), 25/9/56.

Paulo Mendes Campos (1922-1991)

1956 – CDA presente na pequena antologia, Páginas de Humor e humorismo, de Paulo Mendes Campos. Correio da Manhã (RJ), 20/10/56.

Guimarães Rosa (1908-1967)

1956 – Entre escritores. Num encontro de rua, o poeta CDA falou a um dos Jotas sobre um dos últimos flagrantes, que reproduzia uma conversa telefônica entre Gilberto Amado e ele, a proposito de Guimarães Rosa: – Essa conversa é como a batalha de Itararé: Não houve. Deve ser atribuída à imaginação das rodas literárias, onde um Jota a colheu. Brinca-se muito hoje no Rio; esperamos que seja por eutrapelia… Deu testemunho da admiração de Gilberto Amado por Guimarães Rosa. E a minha não é menor. Correio da Manhã (RJ), 6/11/56.

Gilberto Amado (1887-1969)
Gilberto-Amado-1887-1969 -Esta imagem é parte do Fundo Agência Nacional Série FOT Subsérie PPU

1956 – CDA comparece a vernissage de artistas peruanos no MAM. Correio da Manhã (RJ), 14/11/56.

1956 – CDA entre os convidados do arquiteto Henrique Mindlin, que reuniu em sua residência um grupo de intelectuais para apresentar, de sua autora, o livro, Modern Architecture in Brazil. Correio da Manhã (RJ), 22/11/56.

Henrique Mindlin (1911-1971)

1956 – Sepultado o corpo do artista plástico, Santa Rosa (Thomás Santa Rosa), que faleceu em Nova Delhi, Índia. A visitação à urna no Theatro Municipal foi intensa e registrou a presença do que a cidade tem de mais representativo no panorama artístico e cultural, entre eles o poeta CDA. Correio da Manhã (RJ), 18/12/56.

Santa Rosa (1909-1956)

1956 – Discografia poética. Anúncio. Novos discos Hi-Fi. Música para Natal. Papai Noel às avessas, de CDA. Correio da Manhã (RJ), 23/12/56.

Arte: Santa Rosa (1909-1956)

1956 – O programa A História da Semana, produção de Jason Cesar, estreia na TV-Rio com conto de CDA, Moça, Flor, Telefone, dirigido por Alfredo Souto de Almeida. Correio da Manhã (RJ), 30/12/56.

1956 – Anúncio: Coleção “Ensaios” da Livraria São José. Palavra puxa palavras em CDA, opúsculo de Othon Moacyr Garcia. Jornal do Brasil (RJ), 26/1/56.

Esfinge Clara e O Poder Ultrajovem

1956 – CDA: Se acham que jogo com truques literários, enganam-se. A Noite (RJ), 6/3/56.

Guilherme de Almeida (1890-1969)

1956 – O poeta Guilherme de Almeida reencontra os amigos no Bar Recreio, CDA estava lá e saboreou a feijoada do Almeida. A Noite (RJ), 17/3/56.

1956 – CDA publicou crônica sobre a doença e penúria que passava o poeta português António Botto hospitalizado na Santa Casa. A voz de CDA ecoou entre escritores, e Botto recebeu a solidariedade dos amigos. CDA foi o primeiro a visitar o poeta português levando-lhe exemplares de todos os seus livros. A Noite (RJ), 25/4/56.

António Botto (1897-1959)

1956 – Glória para Itabira. A Livraria São José (Carlos Ribeiro, o mercador de livros no Brasil) inaugurou a lojinha Itabira. Jornal do Brasil (RJ), 22/4/56.

1956 – O livro Arquitetura Moderna no Brasil (1927-1956), de Henrique Mindlin, será lançado na França, Holanda, Alemanha e EUA. Mindlin, agradece a colaboração de CDA e Rodrigo Melo Franco de Andrade que forneceram documentos difíceis de ser encontrado. Jornal do Brasil (RJ), 29/6/56.

1956 – A Editora Alvorada, dirigida por Paulo Mendes Campos e Irineu Garcia estreia suas atividades com a publicação de Flauta de Papel, do poeta Manuel Bandeira, a capa é desenho de CDA. Também a capa de  Itinerário de Pasárgada, é obra de CDA. A Noite (RJ), 10/7/56.

1956 – A peça de teatro, “Descoberta do Novo Mundo”, mereceu crítica positiva do espectador CDA, em sua coluna no Correio da Manhã. Jornal do Brasil (RJ), 29/7/56.

1956 – O Relatório, de CDA: Mas não nos desanimemos, com o prefeito /de escolha popular, tudo é biscoito, /e se nada funciona, resta o mar, /o verde das montanhas, /e as mulheres. /Verde não resta muito, sobre a Urca/ o jornal luminoso a vista abarca, /e é triste n paisagem do bom Deus /ver surgirem anúncios fantasmais. /Um clarão nas favelas, lá no Pinto, /o fogo é urbanista, em dor e espanto. /E o que a gente não soube ainda fazer, /a labareda faz; mas onde ir /o morador humilde e seus cacarecos, /na civilização feita de cacos. A Noite (RJ), 23/8/56.

Pablo Neruda (1904-1973). Foto da Fundación Pablo Neruda

1956 – O poeta chileno, Pablo Neruda veio ao Brasil gravar seus poemas a convite de Irineu Garcia e rever grandes amizades. Citou CDA como um dos poetas de sua predileção. A Noite (RJ), 13/11/56.

1956 – Enquete: O que você pediria a Papai Noel? O poeta com voz áspera e cortante, responde – Não respondo a inquéritos, disse-nos. Se tivesse um desejo escrevia uma crônica, pois também sou jornalista. A Noite (RJ), 10/12/56.

Papai Noel às avessas

Arte: Genin

Papai Noel entrou pela porta dos fundos

(no Brasil as chaminés não são praticáveis),

entrou cauteloso que nem marido depois da farra.

Tateando na escuridão torceu o comutador

e a eletricidade bateu nas coisas resignadas,

coisas que continuavam coisas no mistério do Natal.

Papai Noel explorou a cozinha com olhos espertos,

achou um queijo e comeu.

Depois tirou do bolso um cigarro que não quis acender.

Teve medo talvez de pegar fogo nas barbas postiças

(no Brasil os Papai-Noéis são todos de cara raspada)

e avançou pelo corredor branco de luar.

Aquele quarto é o das crianças

Papai entrou compenetrado.

Os meninos dormiam sonhando outros natais muito mais lindos

mas os sapatos deles estavam cheinhos de brinquedos

soldados mulheres elefantes navios

e um presidente de república de celuloide.

Papai Noel agachou-se e recolheu aquilo tudo

no interminável lenço vermelho de alcobaça.

Fez a trouxa e deu o nó, mas apertou tanto

que lá dentro mulheres elefantes soldados presidente brigavam por causa do aperto.

Os pequenos continuavam dormindo.

Longe um galo comunicou o nascimento de Cristo.

Papai Noel voltou de manso para a cozinha,

apagou a luz, saiu pela porta dos fundos.

Na horta, o luar de Natal abençoava os legumes.

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