O eleitor jovem está chegando, ávido para estrear nas urnas em 2 de outubro
Foto: Reprodução/TSE
Rafael Jasovich*
Em um ritmo entusiasmado e frenético, celebridades como a cantora Anitta e os atores Leonardo DiCaprio, Mark Ruffalo e Mark Hamill fizeram uma campanha bem brasileira para seus milhões de seguidores nas redes sociais nas últimas semanas.
Eles não pediram votos para o PT, mas sim que os jovens, particularmente os da faixa etária de 16 a 17 anos, tirassem os seus títulos para participar das eleições do Brasil, em outubro – pleito que será decisivo para o futuro do país.
No Brasil, o voto para adolescentes de 16 e 17 anos é facultativo. Veio daí, portanto, a campanha encabeçada por ativistas e celebridades.
A intensa mobilização, porém, suscita algumas questões. Qual será o impacto or parte dos mais jovens nas eleições, sobretudo na escolha presidencial em um cenário tão dividido?
Nas últimas eleições presidenciais, realizadas em 2018, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contabilizava cerca de 1,8 milhão de adolescentes de 16 e 17 anos com título eleitoral no mês de abril.
Em 2022, até o mês passado havia por volta de 1,6 milhões de jovens dessa faixa etária, uma ligeira redução.
O cenário, entretanto, pode ter revertido. Isso porque somente entre segunda-feira (2) e terça-feira (3) mais de 1,1 milhão de atendimentos foram realizados, segundo a corte.
Nessa quarta-feira (4), o TSE informou que os tribunais regionais eleitorais receberam mais de 7,2 milhões de pedidos nos últimos 30 dias — um recorde de atendimentos, segundo o tribunal.
Mesmo assim, é difícil (e até mesmo imprevisível) uma mudança no cenário da votação a partir de uma eventual adesão maciça do jovem eleitorado.
Se parte de um princípio, bastante entusiástico, de que o voto dos jovens tende a resolver de um lado ou de outro a polarização política.
Por outro lado, apesar de todo esse engajamento, a adesão dos jovens em termos quantitativos ainda é muito baixa.
Do ponto de vista dos militantes, tem-se a crença de que todos os jovens vão votar em um determinado candidato.
Mas o problema em termos práticos é que não se tem controle sobre isso. Lembrando que o voto é o exercício de crença em determinado tipo de olhar sobre a realidade.
O candidato que melhor conseguir transmitir a mensagem de que sua proposição atende efetivamente aos interesses da maior parte do público será o mais bem-sucedido.
O que as pesquisas apontam até agora é que esse eleitorado jovem entra no jogo distribuindo suas preferências tal como o perfil do eleitorado de maneira geral.
As campanhas feitas pelas celebridades carregam uma importância simbólica grande, embora talvez não haja um impacto decisório.
Isso porque esses jovens são os eleitores maduros de amanhã.
Se na internet a qualidade da informação é duvidosa, na televisão o tempo dedicado ao debate político é pequeno, sobretudo na TV aberta.
Temos um eleitorado que consome pouca informação política. E a informação política que consome tem qualidade duvidosa, que se dedica pouco a uma análise mais minuciosa do debate público.
É assim que ocorre com o eleitorado geral e é assim com os jovens, que consomem informação de um jeito parecido com os mais velhos.
Parece-me um exagero colocar nas costas dos jovens a responsabilidade de uma derrota ou vitória eleitoral, qualquer que seja o ungido nas urnas.
*Rafael Jasovich é jornalista e advogado, ativista da Anistia Internacional.