O Centrão, que o general Augusto Heleno chamou de fisiológico, manda no governo Bolsonaro

Fotos: Antônio Augusto/
Câmara dos Deputados

Rafael Jasovich*

Os militares do primeiro escalão no Palácio do Planalto perderam a influência sobre os rumos do governo e estão à margem das principais decisões para a campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL).

A menos de oito meses do pleito, políticos do Centrão ganharam espaço sobre o grupo, hoje formado apenas por Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria Geral da Presidência), segundo a mídia.

Os homens fortes agora são os ministros Ciro Nogueira (Casa Civil) e Fabio Faria (Comunicações), o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

Dos generais próximos ao presidente, Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e hoje no comando da pasta da Defesa, segue com influência no governo, chegando a ser cotado para assumir uma eventual candidatura a vice na chapa de Bolsonaro.

Porém, ainda há tempo de os militares recuperarem espaço no governo até as eleições. A próxima reforma ministerial deverá alterar a configuração da equipe de Bolsonaro.

Com onze trocas a preferência seria dada a secretários executivos que já compõem o segundo escalão para servirem como “ministros-tampão”. Por serem amigos do presidente, Heleno e Ramos devem permanecer e podem readquirir poderes.

Atualmente, eles ocupam cargos mais ligados à rotina administrativa do Palácio e do presidente.

Heleno comanda o setor de inteligência, a segurança presidencial, inclusive durante a campanha, e assessora Bolsonaro em assuntos de defesa e segurança nacional.

Ramos tem, além de funções administrativas, a secretaria de assuntos jurídicos, por onde passam projetos de lei e atos do presidente.

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O ex-deputado Eduardo Cunha foi um dos coordenadores do Centrão no impeachment de Dilma Rousseff

O Centrão é formado por um grupo de parlamentares atuante no Congresso Nacional sem uma ideologia política definida. Na Câmara Federal, dos 513 deputados, cerca de 200 compõem o Centrão.

Tem uma atuação fisiológica baseada no toma lá dá cá. Atua geralmente em favor das políticas do governo, que paga as suas benesses por meio de repasses do orçamento federal para as suas bases eleitorais.

Mas pode atuar também contra o governo, como foi no caso do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), quando o Centrão era liderado pelo ex-deputado Eduardo Cunha.

Na campanha eleitoral de 2018, ficou célebre a declaração do general Augusto Heleno, na convenção nacional do PSL, no Rio, quando disse, referindo-se aos políticos do Centrão: “Se gritar pega ladrão, não fica um”.

Hoje, o Centrão é a base de apoio à política fisiológica do governo Bolsonaro e atua lado a lado do general que acusou os seus membros de fisiologismo. Mas muitos deputados podem abandonar o governo antes das eleições se sentirem que o barco vai mesmo naufragar.

*Rafael Jasovich é jornalista e advogado, ativista da Anistia Internacional.

 

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