O ausente Cornélio Penna
No destaque, mesa com u pouco do Cornélio e sua obra, vistos pelos alunos da Escola Municipal Antonina Moreira
Fotos: Reprodução/ Acervo das escolas municipais
Por José Condé
As cortinas impediam que o sol entrasse para a sala, onde havia penumbra e mistério e, sobretudo, contraste com a manhã magnifica que ia lá fora nas árvores da praia de Botafogo.
Lembro-me da empregada e do cachorro que me haviam recebido sem muita cordialidade.
Mas, sentado agora diante do romancista, era ainda a sala o que me absorvia, a mobília austera, os velhos castiçais, os quadros e a estante de jacarandá, pequena e aristocrática de papeis e livros, onde eu não acreditava que o escritor pudesse trabalhar.
Bem, a situação não era agradável e o silêncio me afastava ainda mais daquele homem que por sugestão do Marques Rebelo eu fora entrevistar para certo jornal. Conhecia-o apenas de nome.
Sabia, por outro lado, que era autor de um romance chamado “Fronteira”, que, todavia não lera. Entretanto, nada disso teria importância se não fosse a casa. Seria mesmo uma casa?
Talvez não passasse de uma fortaleza que o escritor armara contra o mundo – fortaleza erguida apenas com objetos que se achavam agarrados à sua lembrança.
Ou quem sabe, o próprio casarão colonial de Itabira, em Minas, que ele trouxera para o Rio como se repudiasse o pensamento de viver afastado daquilo que era a sua paisagem familiar.
Ainda hoje é esta a lembrança que conservo do meu primeiro encontro com Cornélio Pena. A sensação de haver conhecido uma pessoa diferente, conscientemente afastada da glória e da publicidade fácil. E bem sei que esta é a sua exata maneira de ser.
Quem lê suplementos ou segue de perto os acontecimentos da vida literária, raramente vê impresso o nome do romancista. Ele é o eterno ausente. Não escreve artigos, não dá entrevistas e não frequentas rodinhas.
Faz romances, apenas. Um ou outro de quando em vez. E nesse trabalho se consome anos a fio, sem pressa, com a devoção de quem somente é fiel a si mesmo.
Mas, o homem acaba sendo atraído à vida. Os amigos de Cornélio Penna já descobriram entre outras coisas que ele é dos poucos monarquistas ainda existentes neste Rio de Janeiro. E descobriram agora que o escritor tem um novo romance, “Repouso” – é o título.
E um novo livro de Cornélio Penna significa que teremos mais um exemplo do que seja seriedade artística, virtude não muito frequente.
Porque, se não nos é possível julgar o valor de um livro que ainda não saiu, podemos, contudo, falar da honestidade com que certamente foi ele realizado.
Honestidade inseparável de quem como Cornélio Penna, faz livros, consciente da sua verdadeira missão de escritor.
([Correio da Manhã (RJ). BN-Rio, 26/5/1946 – Pesquisa: Cristina Silveira]
A crônica A casa amarela e agora o José, irmão do João condé, nos permite alguma coisa da intimidade do romancista Cornélio Penna.
Parabéns Carlos Cruz! O Cometa encerrou as portas mas você nos trouxe a Vila de Utopia.