No Dia Mundial do Meio Ambiente, Itabira tem queimadas e poeira de minério de ferro por toda a cidade
Fotos: Carlos Cruz/ Reprodução
Na Semana do Meio Ambiente, a Prefeitura de Itabira propõe o debate sobre o cultivo de flores e plantas medicinais, enquanto queimadas e poeira com o pó preto de minério degradam a saúde e a qualidade de vida dos moradores
Nesta segunda-feira (5), data em que se celebra o Dia Mundial do Meio Ambiente, com o planeta preocupado com as mudanças climáticas, Itabira dá prosseguimento à programação da Semana do Meio Ambiente, que teve início na quinta-feira (1) e se estende até o dia 15, sem ter nada a comemorar na área ambiental.
Contudo, diz que está desenvolvindo uma “intensa e diversificada programação sobre o ser humano, as plantas e o conhecimento tradicional”, além de desenvolver o tema etnobotânica, que é o estudo da interação com a natureza a partir do conhecimento sobre as plantas medicinais.
Na programação haverá espaço para debater as consequências da poeira de minério, que, com mais intensidade, nesta época do ano penetra nas vias respiratórias, podendo chegar até ao pulmão, agravando as doenças cardiovasculares?
Não, esse tema não foi incluído na pauta de debates. Por certo não aflige os doutos doutores e doutoras que organizaram a Semana do Meio Ambiente em Itabira, a cidade mais poluída do mundo pela mineração.
Educação cardíaca
Na Semana do Meio Ambiente, dá-se prosseguimento em Itabira à educação ambiental cardíaca, aquela que toca o coração, a emoção – e deixa de lado a razão pela inconveniência de tratar temas mais “espinhosos” e contrários aos interesses econômicos hegemônicos.
Sendo assim, no Parque Natural Municipal do Intelecto já ocorreram oficinas e apresentações teatrais com os prosaicos temas “Se o assunto é lixo, vire bicho”, “Mato de comer”, além de arte urbana.
E também sobre o cultivo de flores para jardins e praças. São oficinas necessárias para até mesmo minimizar a feiura das montanhas pulverizadas daquela que um dia foi a Serra do Esmeril, com a sua exuberante Mata Atlântica que já não mais existe na encosta da cidade, degradada que foi pela mineração.
A programação prevê ainda uma roda de conversa acerca dos Saberes Tradicionais, com troca de experiência sobre o uso de plantas medicinais encontradas na região, o lado holístico da medicina, assim como pretende ensinar como conciliar esse conhecimento com a medicina tradicional.
Campanha urgente
São temas importantes, sem dúvida. Mas convenhamos que na cidade mais poluída pela mineração – e uma das que mais sofrem nesta época de estiagem com a proliferação de queimadas, já presentes neste início de estiagem ainda com as plantas verdejando, não deveria ter uma campanha de conscientização mais ampla, estendendo-se por todo o período seco que vai até o fim do inverno?
Pelo que se vê na programação, a Semana do Meio Ambiente não vai tratar das queimadas que já assolam a cidade nesse início de estiagem. São prenúncios de dias piores que virão com a tempestade imperfeita que se forma todos os anos, com a combinação de poeira de minério e a fumaça das queimadas que a população inala, agravando as rinite, sinusites, bronquite, asma.
É impressionante como as autoridades ambientais do município tergiversam essa premente necessidade. Uma campanha de conscientização sobre os malefícios das queimadas precisa ser feita não somente por meio de outdoors, peças publicitárias publicadas em jornais, revistas e portais de notícias, além de chamadas constantes pelas emissoras de rádio, mas também nas escolas públicas e privadas, em todas as disciplinas.
Infelizmente nada disso consta da programação da Semana do Meio Ambiente, que prossegue com abordagens de temas diversos como terapias holísticas, terraterapia, dietaterapia, cultivo de ervas medicinais, além de oficinas que ensinam a plantar hortas e flores.
Afinal, somo todos pela paz e amor, nada de guerra ainda que seja contra a poeira de minério de ferro em suspensão e para reduzir as indefectíveis queimadas que, não raro, transformam-se em incêndios florestais, como tem sido recorrente todos os anos em Itabira.
Foge-se assim da realidade itabirana. É como se Itabira dispusesse de uma qualidade ambiental como se observa em Holambra (SP), Monte Verde (MG), Visconde de Mauá (RJ), para citar apenas três cidades floridas, com muito verde e qualidade ambiental excepcional.
Horto florestal
Já passa da hora de Itabira ter mais áreas verdes ocupadas como tal, com hortos florestais instalados em vários cantos da cidade. Que se cuide também do paisagismo, como a administração municipal tem feito nos últimos meses, revitalizando praças e jardins.
Tudo isso ajuda a criar um sentimento de pertencimento, minimiza a degradação paisagística da mineração. Mas em tempo de mudanças climáticas, o plantio de mais árvores é essencial até mesmo para conter parte da poeira e promover o sequestro de carbono.
A importância de se ter mais verde em Itabira é sabido pelo menos desde a década de 1980, quando por pressão do Ministério Público, provocado pelo jornal O Cometa Itabirano, foram abertas ações civis públicas contra a mineradora pela poeira despejada na cidade e por danos paisagísticos.
Foi quando uma das respostas veio com o lançamento do projeto Verde Novo, com a Vale prometendo plantar 1 milhão de árvores na cidade. A empresa trouxe mudas refugadas da reserva de Linhares (ES), plantou árvores em passeios estreitos, sem pedir autorização aos moradores, debaixo da rede elétrica. Pouco, quase nada, do que se plantou foi para frente.
Mesmo com o fracasso do projeto, a condicionante ficou como realizada, mas sem os efeitos práticos. Resultado, Itabira continua sendo uma das cidades menos arborizadas do país, conforme atesta o IBGE, ainda que os dados sejam contestados pelos doutos doutores da Secretaria Municipal de Meio Ambiente.
Medidas necessárias
É hora de rever tudo isso. Que a Prefeitura dê início, ainda neste ano, a uma campanha de conscientização sobre os malefícios das queimadas para a saúde humana e para o meio ambiente.
E que exija ações mais abrangentes, concretas e eficientes para o controle da poeira da mineradora Vale, que continua desrespeitando o meio ambiente, a deliberação normativa do Codema, extrapolando parâmetros e sem pagar as multas devidas.
Sem isso, falar de flores se abrindo, do cultivo de plantas medicinais e outras atividades holísticas chega a ser pueril, para não dizer conivência com toda a poluição existente na cidade.
Já passa da hora de a Prefeitura, por meio do prefeito Marco Antônio Lage (PSB), até como parte das negociações para o futuro sustentável de Itabira, cobrar publicamente medidas mais eficientes para o controle da poeira de minério.
Assim como é preciso que o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), por meio da Curadoria do Meio Ambiente, também tome providências, inclusive abrindo, ou reabrindo, a ação civil pública da poeira, proposta em 1986 pelo então promotor José Adilson Marques Bevilácqua.
Dos vereadores, pouco se espera. Os edis itabiranos, em sua maioria, não dão importância para essa situação. Se dessem, estariam cobrando também medidas semelhantes às que estão sendo implementadas pela Vale no porto de Tubarão, na grande Vitória (ES).
Por lá, por força de decisão da Justiça Federal, em 2016, a Vale teve que instalar 10 quilômetros de barreiras de vento (wind fence) nos pátios internos do porto para conter a poeira proveniente das pilhas de minério, além de intensificar a aplicação de polímeros (cal e cimento).
Medida semelhante deveria ser adotada em Itabira, com a instalação dessas telas de contenção nos pontos mais críticos de geração e arraste de poeira – isso se não for possível instalar em toda a extensão das minas, que têm mais de 15 quilômetros.
É preciso também ampliar a revegetação de áreas expostas, com aplicação de polímeros onde não for possível revegetar. A Vale afirma que tem feito esses investimentos, com mais aspersão e irrigação de áreas expostas, mas os resultados ainda não são observados na cidade.
O que é inadmissível é a Vale, com os recursos e a tecnologia conhecida, continuar causando todo esse impacto de vizinhança em Itabira, com o agravo de doenças respiratórias, como vem acontecendo há oito décadas de mineração ininterrupta em larga escala em seu território.
Para saber mais, acesse:
Paz e amor, companheiro Carlos. Você esteve e está acompanhado de meia dúzia de cidadãos em defesa da cidade contra os abusos da mineradora. Então vamos parar de falar em paz e amor, puro delírio. Itabira deveria é criar uma operação especial seguida de uma guerra intensa contra a usurpadora VALE.