Águas naturais afetadas por mineração
Foto: Reprodução
Por Carlos A. de Medeiros Filho
O estudo das características geoquímicas das águas naturais afetadas pelas atividades de mineração é um assunto de significativa importância na ciência ambiental
Ecodebate – chmiermund & Drozd (1997) e Wildeman & Schmiermund (2004) relatam que o termo “Drenagem Ácida de Minas” (DAM) tem seu uso comum como uma expressão descritiva aplicada à maioria dos tipos de águas influenciadas pela mineração. Os autores consideram, entretanto, que essa denominação e amplitude do termo são inadequadas.
Nem todas as águas encontradas nas operações mineiras e industriais são iguais. Rotular todas essas águas como DAM e o não entendimento da química dessas águas pode levar a erros na definição das causas das contaminações e, consequentemente, pode deixar de atender aos objetivos do tratamento, causando falhas no método de limpeza (1, 2).
Muitas dessas águas são de fato ácidas com pHs significativamente inferiores a 7,0, dando legitimidade ao termo “Drenagem Ácida de Minas” (DAM). Entretanto, o baixo pH não é uma característica universal das águas naturais influenciadas pela mineração. A drenagem de minas também pode ser neutra ou alcalina, e o aspecto mais ambientalmente sério de alguma drenagem pode não ser seu baixo pH, mas sim seu conteúdo de metais pesados, teores de ferro ou alumínio, concentrações de sulfato ou arseniato ou sólidos suspensos (1,2).
Schmiermund & Drozd (1997) e Wildeman & Schmiermund (2004), considerando o conjunto de águas afetadas por trabalhos mineiros, defendem a expressão mais abrangente de “águas influenciadas por mineração“ (AIM) e propõem uma divisão, dessas águas, em quatro categorias:
a) A drenagem ácida de minas (DAM) ou drenagem ácidas de rochas (DAR) é um AIM que possui acidez mineral. Inclui todas as águas com acidez mineral que podem ser encontradas em uma operação de mineração e não apenas a água que flui de galerias e poços. DAM ou DAR de pilhas de estéril, paredes de poço e estéril estão incluídas.
b) As águas marginais possuem alcalinidade e pHs em torno de 7. No entanto, apresentam um ou dois contaminantes inorgânicos que estão acima dos padrões de concentração para organismos aquáticos.
c) Águas de processamento mineral têm alcalinidade e pH acima de 7. No entanto, elas contêm ânions solúveis, como arsenato e selenato, que persistem através do circuito de processamento mineral. Além disso, as águas dos circuitos de processamento de cianeto contêm esse constituinte e outros metais, como ferro e cobre, que são complexados pelo cianeto.
d) As águas residuais têm pHs acima de 7 e um alto nível de sólidos totais dissolvidos. Os constituintes que compõem os sólidos dissolvidos são cátions, como sódio e potássio, e ânions, como cloreto e sulfato, que persistem na água até o mar.
A figura 1 ilustra variações no pH e na concentração de metais de diferentes “águas influenciadas por mineração” do Cinturão Mineral do Colorado. Os diferentes símbolos, no gráfico, representam diferentes tipos de depósitos minerais, com diferentes assembleias minerais, rochas hospedeiras ou alterações (1). Fica evidente a presença de casos de águas com pH superiores a 6, mas com valores relevantes da associação de metais tóxicos (Zn + Cu + Cd + Pb + Co + Ni).
Uma classificação alternativa, para ser discutida, é dividir as “águas influenciadas por mineração” (AIM) em três grupos, considerando os valores de pH.
Classe 1 – compreendendo águas com pH < 6. Incluiriam os clássicos tipos de drenagem ácidas de rochas (DAR)
Classe 2 – compreendendo águas com 6 ≤ pH < 8 e, portanto, correspondendo a águas neutras ou próximas a neutralidade.
Classe 3 – compreendendo águas com pH > 8 e correspondendo, portanto, a águas alcalinas.
Em cada um dos três grupos, poderiam haver subdivisões em relação, por exemplo, a concentrações de metais tóxicos individuais ou em conjunto; quantidade de sólidos totais dissolvidos; teores de Fe e Al e concentração de cianetos.
Essas classificações ressaltam outras possibilidades de tratamento além da adição de alcalinidade, comum no tipo de drenagem ácidas. Quando estas classificações mais diversificadas de águas são aplicadas, existem uma série de questões de tratamento que devem ser consideradas.
Referências Bibliográficas
1 – Schmiermund, R.L., and Drozd, M.A., eds., 1997, Acid mine drainage and other mininginfluenced waters (MIW), in Marcus, J.J., ed., Mining environmental handbook: London, Imperial College Press, Chapter 13, p. 599-617.
2 – Wildeman, T.R.; Schmiermund, R.L. 2004. Mining Influenced Waters: Theirs Chemistry and Methods of Treatrament. 2004 National Meeting of the American Society of Mining and Reclamation and The 25th West Virginia Surface Mine Drainage Task Force.
*Carlos Augusto de Medeiros Filho, geoquímico, graduado na faculdade de geologia da UFRN e com mestrado na UFPA. Trabalha há mais de 35 anos em Geoquímica em Pesquisa Mineral e Ambiental
in EcoDebate