Natal Luz em Ouro Preto e a falta que faz a Unesco
Mauro Andrade Moura
Iniciou-se no dia 12 a programação Natal Luz em Ouro Preto.
Então, chega-se na Praça Tiradentes no intuito de apreciar aquele conjunto histórico colonial e depara com todo um amontoado de ferragens e palco grande a ocupar todo o espaço, perturbando também a visão dos monumentos históricos, só ficando de fora a estátua de Tiradentes por conta de seu porte.
Toda aquela ferragem foi colocada ali para os festejos natalícios e está previsto para ficar do dia 12 de novembro a 8 de janeiro.
Em conversa com comerciantes locais, eles relataram que foram pegos de surpresa e que não foram convidados para a apresentação dessa atividade. Disseram que entraram na reunião de intrusos para questionar como seria montada toda a estrutura do tal Natal Luz de Ouro Preto.
Estava previsto nesta estrutura, além de toda a parafernália instalada, doze barracas que teriam sido apresentadas como de venda da doçaria local. Com a interpelação à coordenação, acabaram por confirmar que seriam vendios o famoso “churrasquinho de gato” e bebidas.
Já os doces era só a propaganda enganosa, uma justificativa para abrir espaços aos barraqueiros para não serem taxados de intrusos.
A coordenação e também a administração municipal, até aquele momento, não levaram em conta todo o esforço dos comerciantes da Praça Tiradentes em manterem seus estabelecimentos abertos ou funcionando a meio termo no período agudo da pandemia e do isolamento da cidade com as barreiras na estrada com as chuvas no início do ano.
Agora, espanto-me muito com uma programação deste nível – e por longo período naquele sítio histórico com projeto cultural aprovado pela Secretaria Especial da Cultura e Ministério do Turismo, além do consentimento do IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, bem como com a participação da Prefeitura Municipal de Ouro Preto.
O valor aprovado para essa “atividade cultural” pela Lei de Incentivo à Cultura, antiga Rouanet, é de R$ 800 mil e conta com patrocínio da Cedro Mineração.
Pergunto ainda, sendo aquela praça parte do conjunto arquitetônico histórico reconhecido como Patrimônio Mundial pela Unesco desde 1980, será que esse organismo internacional que faz parte da ONU foi avisado desta programação e que seria instalado todo aquele entulho visual ocupando quase todos os espaços disponíveis da Praça Tiradentes?
Ademais, como aquele Centro Histórico vive do turismo, como se sentirá algum estrangeiro que ali chegar e do cristianismo não professar?
Na contramão de tudo, essa programação tem o subtítulo de HISTÓRIA E MAGIA.
Da história, estão matando o aspecto visual histórico do patrimônio local com toda aquela parafernália. E, da magia, essa contradiz os preceitos dogmáticos do catolicismo/cristianismo.
Mauro, não tem solução a cafonice nacional. Mas o pior é o carnaval num sítio frágil e dos mais importantes do mundo. Gostei do seu artigo foi o melhor que li. ..
Pois é Cristina.
Conversei com a chefe do IPHAN em Minas Gerais no Sábado e ela disse que ficou estarrecida com aquilo lá.
Carnaval ali é pior ainda, vira uma bagunça só.
Nada disto deveria acontecer ali, o espaço e estrutura local não condiz com o que vão colocando.
Breguice total. Quantas pessoas com fome poderiam ser alimentadas com o dinheiro gasto?
Pois é, Telma.
Por essas e outras é que a Lei Rouanet foi e continua caindo no descrédito, denota o mau uso do dinheiro público.
E no final das contas, o que se vê ali, é sempre muita bebedeira e pouco proveito do que se propõe.