Como debater com Ciro Gomes
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Por Ivana Bentes*
“Quem não viu não perdeu nada” como disse o próprio Gregório Duvivier (@gduvivier) sobre o “debate” convocado por Ciro Gomes (PDT) depois do brilhante @gregnewshbo em que ele mostra como a estética (ou seria a “escrotética”) bolsonarista fez escola: Ciro é movido por bravatas e um ressentimento infinito.
O antipetismo e antilulismo alucinatório de ciristas e bolsonaristas, o ódio personificado contra Lula virou um salve fascistóide para a selvageria construída desde o golpe de 2016.
O verdadeiro inimigo de Ciro – e uma eleição constantemente ameaçada por golpismo e conspirações – não é Bolsonaro. Ciro quer derrotar Lula! Mesmo que para isso ajude a derrotar o Brasil.
Sobrou para Ciro esse triste papel: um “Bolsonaro de estimação”, um segundo troll nessas eleições, um segundo “bozo”, um segundo falastrão animando e animado por uma estranha galera que celebra esses machos crepusculares: que urram sua macheza, ofendem, esbravejam e odeiam em praça pública, um “clube da luta” catártico em que Ciro é o cara com transtorno dissociativo de identidade.
Só alivia o seu ressentimento com violência verbal e ataques. Hoje ele alimenta as redes bolsonaristas com as suas falas.
Ciro não tem mais luz própria, habita o lulaverso, em que Lula é o seu arquirrival a ser combatido, mas que já o derrotou. Deve ser trágico ter essa consciência. Ciro é hoje o espelho de Bolsonaro: ao se colocar como o candidato troll, ele amesquinha cada vez mais sua biografia.
Chamar um ator e humorista para debater ideias para o Brasil é ótimo, ainda mais sendo o Gregorio Duvivier. Mas Ciro queria apenas uma “escada” para seu stand up desgastado: “show macho”, “show a real salvação” etc.
Caberá aos eleitores de Ciro terem a grandeza que falta ao seu candidato, acometido de um delírio de onipotência constrangedor. O apelo “lululante” é: ciristas votem em Lula e ajudem a decidir essa eleição no primeiro turno. Não votem com o fígado: se não posso ganhar, abraço o capeta que pode derrotar meu desafeto.
Vamos derrotar Bolsonaro, mas teremos que derrotar também essa política “gore”, esse show de testosterona mal calibrada que assola a política.
*Ivana Bentes é professora, pesquisadora e pró-reitora de Extensão na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)