MPMG publica edital para credenciar entidades interessadas em prestar assessoria técnica independente aos atingidos pela construção de muro no Pontal

Fotos: Carlos Cruz

Por iniciativa do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), por meio da 2ª Promotoria de Justiça de Itabira e da Coordenadoria de Inclusão e Mobilização Sociais (Cimos), foi publicado nessa quinta-feira (17), edital de chamamento público para credenciar entidades, sem fins lucrativos, interessadas em prestar assessoria técnica independente às pessoas atingidas pela elevação de nível de emergência e pelas obras de intervenção no Sistema Pontal do Complexo Minerário Itabira, de propriedade da Vale, no município de Itabira.

De acordo com o que consta do edital, “a assessoria técnica independente visa, de forma multidisciplinar, garantir o direito à informação, inclusive técnica, às pessoas atingidas, em linguagem adequada às características socioculturais e locais, bem como possibilitar a participação informada nos processos de reparação integral dos danos decorrentes dos fatos descritos no Inquérito Civil nº MPMG-0317.21.000260-4 (SEI nº 19.16.0520.0025785/2021-22)”

Leia o edital aqui:

https://viladeutopia.com.br/wp-content/uploads/2022/02/Edital-de-Chamamento-Itabira-2022.pdf

Vitória popular

Outdoor cobrando a contratação da assessoria técnica independnete pelo Comitê Popular dos Atingidos pela Mineração

A contratação da assessoria técnica independente está prevista na Lei Estadual nº 23.291/2019, popularmente conhecida como Lei “Mar de Lama Nunca Mais”, aprovada e já sancionada a partir de forte pressão popular, após o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho em 25 de janeiro de 2019, causando a morte de 272 pessoas entre trabalhadores, moradores e turistas, além de deixar um rastro de destruição ambiental no rio Paraopeba, afluente do rio São Francisco.

Como vitória popular foi também a publicação do edital do MPMG para contratação da assessoria técnica independente que vai assessorar os moradores que serão desalojados de suas residências nos bairros Bela Vista e Pontal, na região do Pontal para que seja construído um muro com tubos metálicos fixados no solo, conectados por chapas soldadas e fixadas em aço.

A medida, segundo a Vale, é preventiva para conter eventual deslizamento de material no processo de descomissionamento do dique do Minervino e do cordão Nova Vista, na barragem do Pontal.

De acordo com a lei, a assessoria técnica independente será paga pela mineradora, que chegou a contestar a necessidade dessa contratação.

“A empresa Vale interpreta o cumprimento dessa lei como sendo posterior ao impacto, enquanto nós, atingidos, acreditamos que desde o diagnóstico é preciso ter apoio da assessoria técnica independente para contemplar a realidade de quem está vivendo a ameaça, inclusive para evitar negociações individuais que nos prejudiquem”, defendeu o Comitê Popular dos Atingidos pela Mineração em Itabira e na Região em nota distribuída à imprensa e também por meio de outdoors espalhados pela cidade.

Leia mais:

Parte dos moradores dos bairros Bela Vista e Nova Vista deve ser removida para a Vale construir muro de contenção de rejeitos em caso de ruptura

“Quem vai fazer a Vale cumprir a lei?”, pergunta ativista ao cobrar atuação mais firme do MPMG na defesa dos moradores vizinhos do Pontal

Vale responde

Primeira estrutura de contençao a jusante começou a ser montada na região do Coqueirinho: proteção para os moradores do bairro Praia

Já a Vale, em nota encaminhada a este site em 23 de junho de 2021, disse que vai cumprir a lei, mas sem se referir expressamente à reivindicação da contratação da assessoria técnica independente.

“As ações serão definidas após resultados dos estudos, sempre considerando o menor impacto possível para as comunidades, observando todos os requisitos da legislação vigente.”

Ainda de acordo com a nota, a mineradora reafirma que o processo de descaracterização de estruturas a montante do Sistema Pontal está em discussão e será realizado em duas etapas, com a execução das atividades da primeira em área operacional.

“Essa primeira fase deve incluir o reforço dos diques 3 e 4, a descaracterização do dique 5 e a implantação de uma contenção a jusante da barragem Pontal, na região da Lagoa Coqueirinho. A segunda etapa, ainda em estudo, prevê a descaracterização dos diques Minervino e Cordão Nova Vista, do Sistema Pontal, e a construção de uma segunda contenção.”

É para esta fase, que está sendo considerada a remoção de pessoas e imóveis nos bairros Bela Vista e Nova Vista. “As ações serão definidas após resultados dos estudos, sempre considerando o menor impacto possível para as comunidades, observando todos os requisitos da legislação vigente.”

Leia mais:

Vale abre diálogo com moradores vizinhos do Pontal, 112 dias após a divulgação de que haverá remoção de imóveis para construir um grande muro de contenção

Defensoria Pública de Minas Gerais vai também atuar na defesa dos moradores que podem ser removidos pela Vale para construir um grande muro no Pontal

Na remoção do comércio para construção de muros no Pontal, será calculado o lucro cessante e os encargos trabalhistas, assegura gerente da Vale

Vale inicia testes com primeira estrutura tubular no Pontal e admite contratar assessoria técnica indicada por moradores

Posts Similares

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *