Morre Milton Bueno, o maior líder sindical de Itabira, ex-presidente do Metabase

Foto: Eduardo Cruz

Carlos Cruz

Faleceu, na madrugada desta terça-feira (15), o sindicalista Milton Martins Bueno, aos 68 anos, ex-presidente do sindicato Metabase no período de 1986/97. Segundo o seu filho Claudio Bueno, seu pai sofreu uma queda recentemente. Foi internado e não reagiu bem aos medicamentos. Morreu por falência múltipla dos órgãos.

Claudio Bueno relembra que o seu pai sofreu um forte abalo emocional com a morte de seu filho Christian Fraga Bueno, em 30 de novembro de 2003, aos 23 anos, em um trágico acidente automobilístico. “Desde então a vida de meu pai não foi a mesma. Ele entrou em depressão e a sua saúde foi debilitando sucessivamente.”

Separado, Milton Bueno deixa três filhos: Claudio, Paulo e Ana Luísa e três netos. Seu sepultamento vai ser em Nova Era, sua terra natal e onde estava residindo. O velório será restrito aos familiares.

Perda incomparável

Milton Bueno com Negão e André Viana, no Dia do Trabalhador, em 1 de maio de 2019 (Foto: Divulgação/Metabase)

“Uma grande perda, estamos em luto. Milton foi um dos maiores líderes da história sindical de Minas Gerais”, disse o presidente do Metabase, André Viana, que o homenageou, com a sua vinda a Itabira no 1º de maio de 2019, nas celebrações do Dia do Trabalhador, quando foi lembrado os 30 anos da histórica greve da Vale, que Milton Bueno liderou.

Leia mais aqui: Milton Bueno, líder da greve dos trabalhadores da Vale de 1989, é homenageado no clube Metabase

“Milton Bueno enfrentou o mesmo poder econômico cruel que ainda enfrentamos, liderou a grande greve que neste ano completou 30 anos”, registrou André Viana na homenagem. “A história que ele escreveu em Itabira jamais será apagada.”

Greve histórica

Milton Bueno (ao centro) com Jackson Tavares (à esquerda) e militantes na entrada do sindicato Metabase (Foto: Eduardo Cruz)

Milton Bueno liderou a histórica greve de 3 de abril de 1989, que parou todos os setores produtivos da mineradora Vale, inclusive com a adesão dos ferroviários da Estrada de Ferro Vitória a Minas e dos rodoviários

A greve ocorreu em uma conjuntura econômica recessiva, de extremo arrocho salarial que aviltava a qualidade de vida do trabalhador.

Além disso, havia também as conquistas sociais e trabalhistas advindas com a Constituição de 1988 – e que não eram autoaplicáveis, sendo necessária a mobilização dos trabalhadores para fazer valer os direitos conquistados.

O acordo firmado com a direção da Vale para o fim da greve incluiu o aumento de adicional noturno de 20% para 22%, além de um reajuste salarial de 60,1%, o que representou um ganho real de 39,15%.

E o mais importante, assegurou a imediata efetivação do direito constitucional da jornada de trabalho de seis horas para quem trabalha em turnos de revezamento, direito esse que a categoria perdeu recentemente com a  reforma trabalhista, cuja mudança foi aprovada em assembleia da categoria.

Leia mais aqui: Braços cruzados, máquinas paradas. O dia que a Vale parou fez 30 anos

Coerência

Milton em entrevista ao jornal O Cometa Itabirano após a sua eleição em 1986 (Foto: Taquinho Silva/Acervo de O Cometa)

Em seu longo mandato frente ao sindicato, Milton Bueno se manteve coerente com o discurso de posse, em 15 de dezembro de 1986:

“É com muita emoção e enorme senso de responsabilidade que assumimos hoje a direção do sindicato Metabase de Itabira. Estamos conscientes das dificuldades e obstáculos que encontraremos pela frente.”

“Não temos tradição sindical efetivamente voltada para a emancipação da classe trabalhadora. A própria história de nosso sindicato nos leva a uma profunda reflexão do que fomos, do que somos e do que pretendemos ser.”

“Somos hoje cerca de 5.000 trabalhadores que doam o que de mais valioso possuímos, a nossa força de trabalho. Com nosso suor construímos e edificamos a maior empresa estatal de mineração do mundo.”

“Ao longo desses anos assistimos e aceitamos o paternalismo, o atrelamento de nosso sindicato aos interesses da empresa. É hora de o trabalhador voltar para si mesmo.”

“É hora de o trabalhador refletir profundamente sobre o seu valor, o seu papel na construção da empresa e da sociedade em que vivemos. Mais do que nunca precisamos permanecer unidos e nos fortalecer enquanto classe.”

“Não chegamos aqui por acaso. Somos frutos do descontentamento, da vontade de mudança, do desejo de construir um sindicalismo novo, independente de todas as formas de dominação. Nossas futuras conquistas dependerão, fundamentalmente, da nossa capacidade de mobilização e organização.”

Em seu discurso, Milton Bueno não deixou de manifestar a sua preocupação quanto ao futuro de Itabira, já naquela época preocupado com a exaustão mineral.

“O futuro econômico de nossa cidade é outra de nossas preocupações. A Vale está gradativamente se transferindo para Carajás, no Pará, para o abastecimento do mercado externo, enquanto corremos o risco de o minério de Itabira ficar restrito ao mercado interno.”, era a preocupação da época que, nesse caso, não se concretizou. Itabira continua mandando seu minério para o Japão, para a Alemanha e, sobretudo, para a China.

(…) Há um bom tempo a Vale vem adotando uma política de restrição de seu quadro de empregados, principalmente em Itabira. Já é grande o número de aposentados da Vale em nossa cidade e essas vagas não são preenchidas no mesmo ritmo das aposentadorias.”

“Não nos cabe o papel de traçar diretrizes dessa política (de diversificação econômica), mas lembramos o enorme potencial que representa em nossa cidade o próprio aposentado da empresa, com experiência e acúmulo de conhecimentos que não pode ser desprezado e muito pode contribuir para o desenvolvimento de Itabira.”  

Sobre a posse

“A posse não vai ter festa, não vai ter chopp. O trabalhador não precisa de chopp de graça, nós precisamos é de salário digno para tomar chopp quando quisermos. Vai ser uma posse simples, uma grande festa cívica”, disse ele em entrevista concedida ao jornal O Cometa Itabirano, em novembro de 1986.

 

 

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3 Comentários

  1. E pensar que depois de liderar povo combate, o Metabase foi tomado pela extrema direita, pela necro política. Mas não podemos esquecer os valorosos camaradas como o Bita.

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