Morre Angela Ro Ro aos 75, a voz rouca da liberdade que transformou dor em arte

Foto: Divulgação

Cantora e compositora enfrentava complicações pulmonares e renais; artista deixa legado de intensidade emocional, voz inconfundível e coragem artística

Ana Cristina Ribeiro Fraga*

Angela Maria Diniz Gonsalves, conhecida nacionalmente como Angela Ro Ro, faleceu nesta segunda-feira (8), no Rio de Janeiro, aos 75 anos. A causa da morte foi uma parada cardíaca, decorrente de complicações respiratórias e renais. A artista estava internada desde junho no Hospital Silvestre, onde passou por uma traqueostomia e enfrentava um quadro clínico delicado.

Ro Ro foi uma das vozes mais marcantes da MPB, com seu timbre rouco e visceral que inspirou o apelido que se tornou nome artístico.

Carreira e autenticidade

Angela despontou na cena musical brasileira nos anos 1970, mas foi com seu disco de estreia, Angela Ro Ro (1979), que conquistou público e crítica. Nele estão faixas como “Amor, Meu Grande Amor”, “Gota de Sangue”, “Tola Foi Você” e “Agito e Uso”. Ao longo da carreira, lançou mais de dez álbuns e colaborou com nomes como Maria Bethânia, Cazuza e Caetano Veloso, que compôs “Escândalo” especialmente para ela.

Sua trajetória foi marcada por altos e baixos, mas sempre pautada pela autenticidade. Foi pioneira ao assumir publicamente sua homossexualidade em um período conservador, tornando-se referência de coragem para gerações de artistas. Enfrentou preconceitos com firmeza e humor ácido.

Trilhas sonoras e presença marcante

Suas músicas embalaram novelas e marcaram momentos da cultura brasileira: “Amor, Meu Grande Amor” foi tema de Água Viva (1980) e Caminho das Índias (2009); “Simples Carinho” brilhou em Final Feliz (1982) e Império (2014). Misturava blues, samba-canção, bolero e rock, sempre com letras intensas e confessionais.

Angela viveu intensamente, enfrentando vícios, polêmicas e dificuldades financeiras nos últimos anos. Mesmo nessas condições, manteve sua dignidade e paixão pela arte, pedindo trabalho em vez de caridade.

Herança e despedida

Realizou seu último show para uma casa lotada, agradecendo à “plateia maravilhosa”. A apresentação aconteceu em 2 de maio de 2025, no tradicional Teatro Rival Petrobrás, no Centro do Rio de Janeiro, com ingressos esgotados e acompanhamento do pianista Ricardo Mac Cord.

Intitulado Angela Ro Ro canta o amor, o espetáculo reuniu sucessos como “Amor, Meu Grande Amor”, “Simples Carinho” e “Só Nos Resta Viver”. Ao final, visivelmente emocionada, Angela se despediu do público com a frase: “Grata pelo carinho dessa plateia maravilhosa. Saúde e paz a todos”, um gesto que, sem que se soubesse, selaria sua última aparição nos palcos.

Angela não deixa filhos. O velório será realizado no Teatro Rival, no Rio de Janeiro, onde a artista se apresentou diversas vezes ao longo da vida. O sepultamento ocorrerá no Cemitério São João Batista, em cerimônia reservada à família e amigos próximos.

A música brasileira perde uma intérprete única, cuja voz rouca continuará ecoando como símbolo de liberdade, paixão e resistência.

Ouça: https://www.youtube.com/watch?v=DpqjcwN41_0

Foto: Acervo pessoal

*Ana Cristina Ribeiro Fraga é colunista e escritora bissexta. 

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