Manifestantes de Itabira se solidarizam com vítimas e classificam rompimento de barragem de Córrego do Feijão como tragédia criminosa
No sétimo dia após o trágico rompimento da barragem 1 da mina de Córrego do Feijão, um ato público com passeata de solidariedade foi realizado em Itabira na tarde dessa sexta-feira (1), saindo da estação rodoviária até a praça Acrísio de Alvarenga. No ato público, manifestantes acusaram a empresa Vale de praticar um massacre em Brumadinho.
O rompimento da barragem despejou mais de 13 milhões de metros cúbicos de lama com rejeito de minério sobre o rio Paraopeba, resultando até agora em mais de uma centena de mortos e pelo menos 248 desaparecidos, além de deixar um rastro de destruição por onde passou.
Segundo uma das coordenadoras da passeata, a servidora municipal Maria Amélia de Figueiredo, Itabira não pode se omitir diante desse trágico e criminoso acidente, pois pode ser a próxima vítima.
“Estamos cercados de barragens muito maiores do que as que romperam”, disse ela, para quem ninguém em sã consciência pode afirmar que essas barragens são seguras.
“Os trabalhadores da Vale foram proibidos de falar, em hipótese alguma, nem mesmo em família, sobre esse crime. Nós falamos por vocês. Denunciamos essa mineradora criminosa que tira a vida de trabalhadores diretos e indiretos. É em respeito aos mortos e desaparecidos que estamos aqui nessa manifestação”, explicou.
Genocídio
Para o padre Francisco César Cruz Neto, pároco da igreja Nossa Senhora da Piedade, do Campestre, o primeiro bairro operário instalado pela Vale em Itabira, na década de 1940, a mineradora deve uma satisfação aos moradores da cidade.
“Nós que moramos em Itabira vivemos e acordamos com o inimigo que se chama barragem ou alteamento, seja que nome se dê a isso. E não podemos nos silenciar. É a nossa vida que está em risco”, alertou o pároco em pronunciamento na praça Acrísio de Alvarenga.
Ele contou que o arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, em missa de sétimo dia celebrada pelas vítimas da mineradora Vale, foi bastante claro em seu posicionamento: “O que aconteceu em Brumadinho, disse dom Walmor, foi uma tragédia criminosa, uma chacina, um massacre, um genocídio.”
Para o padre da igreja do Campestre, não morreram 112, não são mais de 200 desaparecidos. “São pais, são mães, esposos, esposas, irmãos, primos, noivos, namoradas. Gente que tem nome e história, trabalhadores que estavam batalhando pelo pão de cada dia e tiveram as vidas ceifadas por causa da irresponsabilidade, da imprevidência da Vale, uma empresa mineradora garimpeira, ou uma garimpeira mineradora.”
Sem indenização
O seu protesto se estendeu também pelas vítimas do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, ocorrido há mais de três anos – e ainda sem que tenham sido apuradas as causas do rompimento e punidos os culpados da mineradora Samarco, uma joint-venture da Vale e da anglo–australiana BHP Billiton.
O padre lembrou que até hoje os moradores atingidos não foram indenizados – e ninguém foi punido pelas mortes. “Devemos praticar o ecumenismo para dizer sim à vida dos trabalhadores e de todos os atingidos, um sim à vida da mãe Terra, dos ecossistemas. Devemos dizer sim à vida e não à morte”, complementou.
“Vamos unir os nossos corações. Se calarem as vozes dos profetas as barragens romperão. Por isso, não devemos nos calar”, propôs padre Francisco Neto.
“Só colocar sirenes não nos traz tranquilidade. Queremos mais segurança e explicações”, reivindica moradora
Aposentada e moradora do bairro Conceição há 30 anos, que fica na rota da lama caso rompa a barragem homônima, da Vale, Maria José Araújo conta que tem dormido mal desde que ocorreu esse segundo trágico rompimento de barragem, em Brumadinho.
“São 36 milhões de metros cúbicos em cima de nossas cabeças, como podemos ficar tranquilos?”, ela pergunta, com justificada apreensão. “Até então não imaginávamos o risco que estamos correndo. A Vale nada nos dizia sobre essa possibilidade.”
A aposentada avalia o estrago que decorreria de um rompimento da barragem de Conceição, comparativamente ao que ocorreu com Córrego do Feijão, que dispunha de 13 milhões de metros cúbicos de lama de rejeito.
“Conceição é três vezes maior. Se romper, a lama leva embora as usinas, o escritório da Vale, a Vila Técnica, o nosso bairro, Abóboras, João XXIII, Gabiroba e atinge as cidades vizinhas chegando até o Vale do Aço”, prevê.
A moradora critica a morosidade da Vale em implantar o Plano de Ação de Emergência para Barragens de Mineração (PAEBM). “Já colocaram as sirenes e ninguém ainda explicou como será a rota de fuga. Mas ouvi dizer que teremos que subir correndo para um morro. Aqui temos muitos velhos e crianças e eles não vão conseguir. E como não vamos deixá-los para trás, vamos morrer juntos.”
A Vale, segundo o prefeito Ronaldo Magalhães, se comprometeu a dar início, a partir deste mês, aos treinamentos e exercícios simulados. E também a implantar as demais medidas contidas no PAEBM em todos os bairros que estão nas rotas de possíveis deslizamentos de lama contendo rejeito de minério.
Falta de comunicação é ingrediente para aumentar a insegurança
Desde que ocorreu o rompimento da barragem de Fundão, há mais de três anos, a mineradora teria se reunido uma única vez com os moradores do bairro Conceição, conta Maria José. Mesmo assim, diz, a empresa não quis reunir com os moradores no próprio bairro, mas no seu escritório, no dia 23 de dezembro de 2016, véspera de Natal. “Disseram que iam se reunir mais vezes com a gente. Mas até hoje ainda não aconteceu.”
Para ela, só a colocação de sirenes não tranquiliza os moradores. Como também não satisfaz só a declaração da Vale e do prefeito dizendo que as barragens são seguras. “Não nos convenceram. Assim como as pessoas, as barragens envelhecem e elas não vão durar por toda vida”, avalia. (leia mais aqui)
Maria José conta que ouviu dizer que uma das medidas de segurança é retirar a água da barragem de Conceição. “Que façam a sua operação a seco, como afirmam ser possível os especialistas. Que reaproveitem o rejeito para produzir mais minério ou para fabricar tijolos, telhas e asfalto. Que eliminem essa barragem com lama de rejeito de cima de nossas cabeças”, reivindica.
Segundo ela, sem essas medidas as barragens de Itabira um dia irão se romper como as de Fundão e de Córrego do Feijão. “Se isso ocorrer, e pode acontecer se nada for feito, as consequências serão muito maiores em relação a tudo que ocorreu com o rompimento de barragens no Brasil e no mundo.”
Em 2015 e 2016 foram entregues pela Vale cópias de PAEBMs (Planos de Ações de Emergência em Barragns de Mineração) de 11 barragens da Vale em Itabira ao Gabinete do Prefeito/Secretaria Municipal de Governo e esses planos foram solicitados pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente para conhecimento dos técnicos da secretaria, sendo encaminhados posteriormente para a COMDEC, Coordenadoria Municipal de Defesa Civil, porque esses planos têm que ser de conhecimento desse setor, por definição da própria legislação.
E tem outra informação que está sendo omitida ou ignorada pela prefeitura e precisa ser esclarecida: A legislação prevê também a elaboração do Plano Municipal de Contingência para Barragens, cuja responsabilidade pela elaboração é da Prefeitura e tem que existir em todos os municípios onde haja barragens que se enquadrem na classificação de risco.
O Plano Municipal de Contingência para Barragens é um documento que deve ser elaborado pelo Município em um processo que deve envolver as empresas responsáveis pelas barragens e os órgãos públicos responsáveis pelos serviços ligados às áreas de saúde, segurança, serviços sociais e outros relacionados, além de contar com a participação direta da população e da sociedade civil organizada.
Neste Plano Municipal devem ser definidas as responsabilidades e as formas de ação de cada organização e também as formas de interação e integração das diversas organizações públicas e privadas que atuarão na prevenção de desastres com barragens ou no salvamento de vítimas e demais ações necessárias no caso de ocorrer algum desastre com barragem…
Em 2016 demos início ao processo de elaboração do Plano Municipal de Contingência para Barragens da Mineração de Itabira, mas a partir de janeiro de 2017 esse trabalho não teve sequência e em setembro de 2017 a presidente do Codema disse na reunião do Codema que “isso não é responsabilidade do Município” e nunca mais voltou ao assunto… Confira em http://viladeutopia.com.br/pouca-democracia-e-muita-impaciencia-os-males-do-codema-sao/
Pesquisando na internet é fácil encontrar o Plano Municipal de Contingência para Barragens dos municípios de vários municípios, por exemblo:
Abatiá/PR – conferir no link http://www.snisb.gov.br%2Fportal%2Fsnisb%2Fdownloads%2Fcapacitacao%2FArquivos_Eventos%2Fii-encontro-sobre-seguranca-de-barragens-regiao-sul-2018%2Fapresentacoes%2Fpr_defesa-civil_modelo-plano-de-contingencia.pdf%2F%40%40download%2Ffile%2FPR_Defesa%2520Civil_Modelo%2520plano%2520de%2520conting%25C3%25AAncia.pdf
Nova Venécia/ES – disponível no link https://defesacivil.es.gov.br/Media/defesacivil/Gestao%20de%20Riscos%20e%20Desastres/Planos%20de%20Contig%C3%AAncia%202017/PLANO%20MUNICIPAL%20DE%20CONTING%C3%8ANCIA_Vers%C3%A3o_2.0.pdf
Nivaldo, obrigada por mais este esclarecimento. O que me impressiona não é o descaso da secretaria do meio ambiente, dado que suas atitudes demonstram que ela trabalho por lazer, para passar o tempo de vida de madame em Itabira que não tem shopincenter. O que me deixa besta é a posição do POVO de Itabira: ou tão nem aí ou estão comprometidos com 15 mil reais mensais da prefeitura e ainda há os que estão diretamente comprometidos com a Vale de Morte.
Tem solução não, Itabira é uma velha e decaída prostituta do capitalismo selvagem. Itabira Já era, está no século 16 e não se da conta…
A falta de respeito dessa mineradora é ato contínuo do seu modus operandi.
O que ela fez em Itabira durante 70 anos, todos os males provocados e ocasionados, em Mariana foi em alguns minutos e em Brumadinho somente em 15 segundos.
Cadeia é pouco para os responsáveis por toda essa desgraça provocada!
No terceiro mundo não há respeito do setor privado com lugares ou pessoas.
E as comunidades não tem um mínimo de consciência ou instrução pra perceber ou refletir sobre essas coisas.
O sonho das famílias pobres, de lugares como Itabira, é ter seus filhos e netos empregados pela Vale.
QUando as pessoas veem um protesto como esse ou se ouvem alguem falando mal dessa empresa, viram a cara. E alguns mais ousados até acham que é um protesto “comunista”! rsrs
“Onde estão os poderosos?”
Onde estão os itabiranos de puro sangue?
Onde estão os itabiranos letrados com seus automóveis possantes (o dinheiro comprou?)?
Itabira é da Vale.
Os itabiranos são subalternos da Vale.
Aníbal Moura não há mais, portanto a quem acusar de louco?
A Vale de Morte abduziu o caráter itabirano?
……. Trinta pessoas na manifestação ….
“Onde estão os poderosos? Seriam todos eles fracos?”
A Cidadezinha foi tragada na fúria cobiçante de acumular ouro virgem em caixotes.
A terceira Itabira é uma cidade indiferente ao seu futuro.
Itabira não há mais, triste sina, triste sina…
‘apanhado’ no twitter:
“o “castigo” que o mercado de ações impõe à empresas como a Vale, é demagógico tanta como fogo na palha e não como o lamaçal assassino em Brumadinho (etc). No 1º movimento há uma queda com barulho, depois retornam à sua desumanidade. Afinal o objetivo é o lucro pelo lucro”