Manejo sustentável da agroecologia: um contraponto ao agronegócio
Gilmar Bretas*
O crescimento, ainda incipiente, da produção de alimentos no município de Itabira é uma perspectiva de médio prazo desde que consorciada, com o incremento de uma cultura de fomento diversificada nas pequenas e médias propriedades, predominantes em nossa zona rural.
Em decorrência de nossa extensão rural – são 94.097.1596 hectares distribuídos em uma área de 1.253,7040 quilômetros quadrados – Itabira busca definir e tornar realidade a sua política agrícola como meio de diversificar a sua economia frente ao extrativismo mineral, que chega ao fim na próxima década.
Passado já algum tempo do início da política de incentivo à agricultura em Itabira, há ainda uma visível discrepância entre a produção local e a demanda de alimentos.
Por aqui a teoria de escassez de Malthus se confirmou plenamente, já que a população cresceu muito em função da mineração, mas, infelizmente, a produção de alimentos não acompanhou esse crescimento.
É assim que os desequilíbrios alimentares existentes no município estão a exigir soluções a curto prazo, mesmo como meio de contribuir para com a necessária diversificação econômica.
Tecnologia da enxada
A demanda por alimentos continua a crescer, colocando novos desafios que exigem adequações de tecnologias avançadas com a tecnologia da enxada mais conhecida do pequeno proprietário itabirano.
É também mais condizente com a sua cultura. Assim, é possível implementar uma política de incentivo com assimilação de tecnologias condizentes com a agroecologia, até mesmo como contraponto ao agronegócio predatório, que emprega técnicas intensivas de produção agressivas ao solo, valorizando a monocultura exportadora, o que está distante de nossa realidade.
A agroecologia é hoje apontada como alternativa viável, com forte demanda. Para sorte dos consumidores locais e da região, caso a Prefeitura a incentive, pode-se dispor para o seu consumo de uma produção local isenta de agrotóxicos, sem uso de sementes transgênicas, com hortaliças, legumes, frutas saudáveis advindas de um manejo correto, sem agressão ao o solo e tirando dele o melhor proveito que a terra dadivosa nos oferece.
O que se observa ao longo dos anos, mesmo depois de tentativas para o incremento da produção rural em Itabira – e até pelo preconceito de que a terra daqui não presta à agricultura em consequência de sua topografia acidentada – foi que, apesar do potencial existente, por aqui a produção rural ainda tem pouco peso na economia local, embora a pecuária, sobretudo a de corte tenha evoluído nas médias propriedades.
Vencendo preconceitos
Para vencer esse quadro de estagnação é preciso preliminarmente considerar a estrutura fundiária de Itabira, com predominância do minifúndio e das pequenas propriedades com menos de 50 hectares.
Pois são políticas dirigidas à essas pequenas propriedades, que pelas suas frequentes e constantes fragmentações representam muitas vezes entraves à produção de excedentes agrícolas, aliada à falta de mão-de-obra no campo, que devem ser priorizadas com ações práticas, rotineiras e continuadas de incentivo.
Para isso é preciso considerar essa realidade e os meios necessários para tornar essas propriedades mais produtivas, capazes, no conjunto, de atender boa parte da demanda local na feira livre do produtor, na feira itinerante da Associação dos Produtores da Agricultura Familiar de Itabira (Apafi), assim como também para suprir as demandas dos programas Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e de Aquisição de Alimentos (PAA).
A Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento vem anunciando esforços nesse sentido, como a reativação da Patrulha Agrícola, criada e incrementada no governo do ex-prefeito José Maurício Silva (1983-88), que sofreu descontinuidade no governo de Luiz Menezes ((1989/92), foi reativada pela administração de Li Guerra (1993-96), sendo novamente desativada na última administração de Ronaldo Magalhães (1997-2000), quando se restringiu a dois tratadores, cedidos à Apafi.
É preciso, pois, pensar e implementar uma estratégia de diversificação da produção agrícola local de uma maneira diferenciada do que ocorre na maioria das regiões produtoras que tem meios mais apropriados à mecanização e à produção de escala.
Essa estratégia passa pela agroecologia, podendo ser incrementada já de imediato. Mas é preciso levar em conta que o produtor rural não dispõe de capital próprio e falta a ele inúmeros incentivos que a prefeitura pode oferecer, além do incremento da patrulha agrícola necessária e que não pode faltar. Mas só, isso, repito, não basta.
O aumento da área cultivada, até mesmo ocupando áreas ociosas da pecuária extensiva, deve ser meta a ser alcançada, com técnicas de manejo adequadas às condições da nossa topografia e do solo, respeitando a cultura local de propriedades familiares, que tem na enxada o seu principal meio de produção, ainda que outros podem e devem ser implementados com incentivo municipal.
Caso esse objetivo seja alcançado, é possível ampliar a oferta de alimentos de qualidade, juntamente com o aumento da renda familiar do homem do campo, como meio até mesmo de segurar o êxodo rural, trazendo de volta para o campo os filhos da terra que migraram para a cidade em busca da melhoria da qualidade de vida, sem que tenham alcançado esse objetivo por razões conhecidas, mas que não cabem aqui adentrar.
Política de incentivos
A Patrulha Agrícola Mecanizada, reativada neste governo, é sem dúvida um importante instrumento de fomento da produção local. Por meio dela é possível ampliar a área agricultável, mas desde que priorize a produção diversificada e consorciada de alimentos, e menos à preparação de áreas de pastagens para a pecuária extensiva.
Priorizando a produção agrícola nas pequenas propriedades é possível preparar o solo para plantio com outros programas de incentivo à produção diversificada.
No passado, essa política de incentivo buscou implementar o que foi definido em pesquisas de campo desenvolvidas por meio de convênio com a Universidade Federal de Lavras (UFLA). E que podem ainda serem aproveitadas para incremento em parceria também com a Emater.
Entre os programas sugeridos destaca a fruticultura, com o qual a Prefeitura pode incentivar o cultivo de diversas variedades de frutas, não só de banana cuja produção vem há algum tempo crescendo no município.
A câmara de climatização existente no distrito de Ipoema precisa ser democratizada, para atender a mais produtores, não somente ao grande produtor que hoje a usa quase exclusivamente, já que é um bem público que deve ser socializado.
A sua existência, que precisa ser ampliada, é um incentivo crucial para o crescimento da produção – e isso pode ocorrer por meio do associativismo, que melhora as condições produtivas e a comercialização.
A distribuição de insumos, como o calcário, é importante para diminuir a acidez do solo. Ao neutralizar a acidez é possível aumentar a produtividade da terra. Outras formas alternativas de manejo, mais condizentes com a agroecologia também devem ser implementadas.
Seria interessante promover seminários de conscientização sobre a agroecologia com difusão de técnicas já bastante conhecidas e que têm alcançado resultados promissores. Um contraponto ao agronegócio que prioriza o lucro acima da qualidade dos alimentos ofertados.
Escola agrícola
Infelizmente, Itabira ainda não dispõe de uma escola técnica agropecuária, como se projetou no passado. O ex-prefeito Luiz Menezes até que buscou implantar no município essa escola federal de nível médio no posto agropecuário, tendo, inclusive, obtido autorização do Ministério da Educação (MEC).
Mas pelas idiossincrasias políticas do governo que o sucedeu, o projeto foi abandonado em seu nascedouro. O prefeito Li Guerra achou melhor abrir uma escola municipal, a fracassada Ipocarmo, entre os distritos de Ipoema e Senhora do Carmo. Resultado: Itabira ficou sem nada.
É o caso de se pensar e buscar meios para enfim o município dispor de uma escola técnica para melhor capacitar a mão de obra do campo de Itabira e dos municípios vizinhos.
Itabira é historicamente uma cidade mineradora. Mas já foi, antes da produção mineral em larga escala, produtora de alimentos e até de algodão para as antigas fábricas de tecidos da Pedreira e Gabiroba. Se incentivo houver, é possível avançar na diversificação de alimentos consorciados.
Para isso existem boas experiências agroecológicas que podem ser conhecidas para incremento no município. Mas para isso é preciso que se tenha vontade política livre de preconceitos. E colocar as mãos na terra que os frutos certamente virão.
Afinal, a produção de alimentos é uma das atividades mais nobres e ajuda a fixar o homem ao campo, reduzindo a pressão urbana, sobretudo nos grandes aglomerados em bairros pobres.
Juntamente a tudo isso, deve-se melhorar também as condições de atendimento à saúde no campo, assim como a educação, incrementando ainda os meios de lazer nas comunidades rurais com inúmeras atividades recreativas e artísticas.
Se assim for feito, é possível até mesmo trazer de volta a mão de obra que migrou para a cidade, desde que possam viver com dignidade nos locais onde nasceram.
*Gilmar Bretas é técnico agrícola aposentado, foi chefe do Departamento de Agricultura e Abastecimento da Prefeitura de Itabira, coordenou o projeto Mãe d’Água, do Saae.
Para saber mais acesse:
Estrutura fundiária de Itabira é propícia à agroecologia e não ao agronegócio tóxico