Longas filas para votar em festa democrática de brasileiros na Europa
Brasileiros enfrentam fila para votar em Lisboa
Foto: Vicente Nunes/CB/D.A Press
Veladimir Romano*
Longas fileiras de 500 metros marcaram a primeira volta da eleição presidencial brasileira com mais votantes [110%] do que em 2018, pacientemente esperando horas pela vez em Portugal.
Não faltou civismo e, no final do dia, entusiasmo das claques separadas pelos dois lados da calçada, ruidosamente festejando até ao fecho das portas da Faculdade de Direito [Cidade Universitária de Lisboa], aclamando candidatos.
Espalhadas pelo continente europeu, comunidades brasileiras cumpriram o ritual do voto. A candidatura de Lula da Silva, do PT, ganhou em quase todas as urnas. Pelo menos no Porto o aumento foi de 8 mil eleitores em relação à eleição anterior.
Em Lisboa, os eleitores nas 58 mesas (seções), em Faro apenas 5 mil, enquanto Lisboa com 46 mil e Porto com eleitores vindos de Braga e Guimarães, somaram 30 mil. Em Lisboa quatro urnas falharam no início da votação por defeito, o que deixou alguns eleitores sem votar, desistindo pela demora e por demanda por causas laboriais.
Nunca antes uma eleição havia despertado tanto interesse global, especialmente na Europa, como esta de agora de 2 de outubro no Brasil.
O histórico jornal parisiense Le Monde, na sua edição da véspera eleitoral, dedicou editorial e edição ao combate político brasileiro, acrescentando uma ligeira frase mas de muito significado… «Brasileiros: por vocês e pelo Mundo». Seguindo o texto em diferentes ocasiões alerta para danos futuros sem que falte reflexão maior sobre vontades de mudança.
Não obstante a escolha, fica ação coletiva salvando-se algumas possibilidades da violência, embora havendo o risco de ocorrências de quem consome fanatismos, possa estragar a festa ainda que picardia exista.
O alcance político no território do continente velho teve seus momentos de samba em ambos os lados. Tolerância, união reabilitada, reflexo das análises desenvolvidas a seu tempo, superou contra supostas manobras menos diplomáticas num dia emocional, considerando surpresas inesperadas.
Presumindo alternância entre causa e efeito, a vontade de qualquer povo é a realização das suas escolhas para o bem ou mal. Desejos e preferências nem sempre se cumprem realizando competência, assumindo responsabilidades, decisões e da realização dos objetivos, com manifestações antagônicas numa sociedade quebrada quase pelo meio.
Ora, não obstante outras vontades, a essência popular não deveria ser feita de antagonismos absolutistas, ideia imutável, quando a Democracia é flexível, jamais vocação marginal.
Desde épocas medievais escutamos a voz de São Tomás de Aquino (1225-1274) com o célebre “salus populi suprema” [soberana obediência a bem do povo]; promovendo valores do imperativo e “transcendente igualdade”… a prosperidade nunca foi ângulo negativo, é a lógica do fenômeno político.
*Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-cabo-verdiano.